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Choque.
É tudo oque sentia e ele é dolorosamente sufocante.
São sufocantes os rios salgados que escorrem pelos meus olhos.
Ah, doces olhos verdes esmeraldas. Tão ingênuos, tão dóceis e frágeis. Eu os odeio. Odeio mais que aqueles que mentiram para mim. Aquele que eu mais amava, como um avô, mentiu para mim de uma forma tão podre que eu me sinto sujo por ter acreditado.
Eu não posso culpá-lo completamente, claro, pois eu que era ingênuo. Eu era aquele garotinho carente e inocente, que queria apenas alguém que cuidasse de si.
Sinto nojo daquele garoto. Raiva e ódio por aquele que eu era.
Bem, vcs não deve estar entendendo nada. Deixe-me explicar a vcs.
A pouco mais de duas semanas eu estava me sentindo estranhos. Logo após o começo das minhas férias, ali, no número 4 da Privet Drive, estava um garotinho delicadamente dócil.
Eu estava doente, ou pelo menos achava que sim. Estava com febre e fraco, fiquei três dias, deitado nos restos de madeira e panos que eu chamava de cama.
Os Dursley nem ligavam em verificar sua aberração mais odiada. Eles me deixaram ficar três dias inteiros com febre alta e dores fortes no corpo, sem nunca me dar nenhum remédio.
Eles sabiam que eu estava doente. É claro que eles ouviram os gritos e gemidos dolorosos que eu dava. Eles sabiam e até podiam sentir o gosto salgado das lágrimas que escorriam como oceanos pelos meus olhos.
Eu fiquei três dias com a mais agonizante dor que eu já senti em toda a minha miserável vida. Havia momentos em que temporada preferia a morte. Eu teria feito, teria acabado com meu sofrimento, se eu conseguisse me mover.
Podia ouvir meus ossos estralarem, quebrarem, se curar e quebrar novamente. Podia ouvi-los rachar. Era agonizante.
E, de repente, tudo acabou.
Eu nunca me senti tão aliviado em toda a minha vida. Nunca havia chorado tanto de alívio quanto eu chorei naquela noite quente.
O pior, ou talvez melhor, foi na manhã seguinte. Achei que ainda estivesse sob os efeitos da febre ou qualquer coisa. Mas não era isso, eu estava apenas diferente.
Naquela manhã, três dias depois do meu aniversário, quando eu levantei e me olhei no espelho, eu vi. Vi alguém lá, alguém que não era eu.
