Está escuro. Muito escuro.
Não sinto meus pés e não consigo pensar muito. É como se estivesse flutuando, no nada, e estivesse em paz, como se não existisse ninguém e houvesse um silêncio pacífico.
Mas, ainda assim, eu sinto alguém. Mesmo na paz do silêncio e do nada, no conforto do escuro, ainda sinto uma presença, próxima. Presença essa que, mesmo estando num lugar que, agora, eu considero privado, já que me sinto tão confortável nele, eu não vejo perigo.
Não me sinto desprotegido por alguém estar num lugar, aparentemente, seguro para mim, como um intruso, invadindo meu espaço de paz.
Sinto sua presença mais próxima, muito mais próxima, quase consigo tocá-la. Ah, como eu quero tocá-la. Quero tanto quanto eu quero saber o que ou onde é aqui, este lugar reconfortante, pois sua presença é reconfortante.
Não entendo o motivo, mas a presença deste alguém ou alguma coisa é quase tão reconfortante quanto este lugar. Parece ser, até mesmo, singela e carinhosa. Eu quero que me toque. Por favor, me toque.
Eu quase posso sentir seus dedos, nossas peles quebrando o espaço dentre elas. Quase posso sentir o fogo, a chama de sua pele contra a minha.
Apenas isso, este quase toque, me faz sentir inteiro, como se fosse isso que faltasse. O vazio, o escuro, o espaço pelo qual estou flutuando se tornou tão completo.
Eu quase posso ouvi-lo, ouvir sua voz, ressoando como sinos ao vento. Tão confortável, tão doce, tão suave que pode ser comparado à uma pena.
Quase posso sentir o som batendo contra meu ouvido, se chocando contra ele, como se uma pena fizesse cócegas ali. Suavemente, de uma forma tão delicada que quase posso ouvi-lo me chamar.
E esse som é tão belo. A forma como meu nome sai, tão lindamente, de seus lábios, vermelhos e levemente gordos. É tão lindo a forma como seus olhos cintilam quando me olham, preocupados.
Não, não, não. Pq estas preocupado? Esses olhos de cor chocolate não devem emitir tanta preocupação. Não podem.
Espere.
Olhos castanhos, boca vermelha e um pouco grossa, cabelos castanhos chocolate. O que está acontecendo?!
- Hadrian!- Grita a voz, doce como mel e suave como uma pena. A mesma voz que ressoava como sinos está gritando, preocupado. Quem é?- Hadrian!
- Hm...- É tudo que consigo responder, num sussurro, suave. Olho para aqueles olhos brilhantes, que me olhavam com tanta preocupação, que quase se era possível ver água neles. - O que...?
- Hadrian. - Me chama novamente, me fazendo recobrar um pouco de consciência. Olhando ao redor vejo o quão escuro está. Que lugar é este?- Hadrian, vc precisa acordar.
Olho novamente pata aqueles olhos de chocolate, vendo que me olhavam com mais tranquilidade, e vejo a mim mesmo neles. Estou flutuando, perante o nada, e, de repente, percebo que é o meu reflexo.
Me assusto, ficando em pânico, e me mexo, não sentindo nada em baixo de mim. O pânico começa à tomar conta de mim e eu não consigo ficar quieto, me mexendo no nada, no ar.
- Espere, fique quieto. Está tudo bem, vc só precisa acordar.- Diz me olhando seriamente.
- Quem é vc?- Pergunto, relaxando um pouco, ficando ali, flutuando. Me concentro no meu corpo, tentando descobrir se estou machucado, mas sinto uma coisa gelada amarrada no meu pé. Olhando para baixo vejo uma corrente, me prendendo à algum lugar abaixo de mim, onde eu creio que fique o chão. -O que é isso?
- Isso é o que te prende ao chão, vc está no seu subconsciente.- Ele responde, me olhando sério.- Vc precisa acordar, está desmaiado.
- Desmaiado?- Pergunto, olhando ao redor, não vendo nada além do vazio. - Quem é vc?
- Isso não importa agora, o que importa é que vc precisa acordar.- Ele afirma mais uma vez, se afastando um pouco de mim.
Isso é ridículo. Ele acha que estou preso, mas não estou. Eu estou no controle agora, acordado por completo. E já que estou no controle, eu deveria mostrar à ele. Este é o meu subconsciente, minha mente, eu o controlo.
- Hadrian, vc precisa acordar.- Diz novamente, me irritando por completo.
Afinal, eu não estou em perigo, posso controlar minha mente. Eu estou no controle.
Olho ao redor, querendo que mude então, de repente, estamos num corredor, lotado de prateleiras infinitas, e eu estou descendo, flutuando, até o chão.
Não me lembro do motivo de eu estar aqui, mas quero saber e, já que esta é minha mente, com minhas memórias e conhecimentos, eu irei procurar.
Ando pelos corredores, procurando as memórias recentes. Procuro por alguns corredores, nunca parando, apenas passando as mãos pelas prateleiras e, apenas com isso, já consigo saber o que há ali.
Enquanto ando, sinto sua presença atrás de mim, mas a ignoro completamente. Ele não me disse quem é e, graças a isso, é apenas um estranho do qual irá embora quando eu for. Petúnia sempre disse à Duddley para não falar com estranhos e eu sempre pude ouvir bem.
Ando mais um pouco e, finalmente, paro no meio de um corredor, em frente à uma prateleira específica, sabendo o que tem ali. Me aproximo da mesma e pego um dos livros que tem ali, logo abrindo e vendo as memórias sem precisar ler ou ver realmente, apenas as descobrindo, como se apenas escrevessem na minha memória.
Fecho o livro e o coloco no mesmo lugar, já que eu quero continuar a ser organizado com minhas memórias, pode ser muito útil.
Me afasto da prateleira, fechando os olhos, para que eu posso ir embora dali, mas ainda posso sentir sua presença e o olho seriamente.
- Eu posso saber quem vc é e como veio parar na minha mente, ou eu terei que descobrir por mim mesmo?- Pergunto sarcasticamente, olhando-o indiferente.
- Ah, deixarei para vc descobrir, afinal vc parece ser muito bom nisso.- Ele diz, sorrindo de lado, enquanto desaparece, lentamente, mas, antes de desaparecer completamente, ele diz mais algo.- Continua nesse caminho, Hadrian, e vc será grande. Ouça o que ele tem a dizer, pois ele será um grande aliado, talvez um dos maiores.
E desaparece.
Penso por mais alguns segundos, assimilando o que ele disse, e logo faço o mesmo.
Continua...
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𝕷𝖆𝖉𝖞 𝕯𝖆𝖘 𝕿𝖗𝖊𝖛𝖆𝖘 (1ª Temp.)
Romanceᴸᵃᵈʸ ᴰᵃˢ ᵀʳᵉᵛᵃˢ ᥴᥲᥒsᥲძ᥆ ძᥱ s᥆𝖿rᥱr, ᥴᥲᥒsᥲძ᥆ ძᥱ mᥱᥒ𝗍іrᥲs, ძᥱ ᥱᥒgᥲᥒᥲᥴ̧᥆̃ᥱs. ᥴᥲᥒsᥲძ᥆ ძᥱ sᥱr 𝖿ᥱrіძ᥆, ᥱᥣᥱ, ᥲ⍴᥆́s ძᥱsᥴ᥆ᑲrіr 𝗍ᥙძ᥆, ᥎ᥲі ᥲ𝗍rᥲ́s ძᥲ𝗊ᥙᥱᥣᥱ 𝗊ᥙᥱ, sᥙ⍴᥆s𝗍ᥲmᥱᥒ𝗍ᥱ, ᥆ ᥲᑲᥲᥒძ᥆ᥒ᥆ᥙ. mᥲs, ᥱ sᥱ ᥲs ᥴ᥆іsᥲs ᥒᥲ̃᥆ 𝖿᥆rᥲm ᥲssіm? ᥱ sᥱ sᥱᥙ "sᥙ⍴᥆s𝗍᥆" sᥲᥣ᥎ᥲძ...