TRINTA E NOVE

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Gabi point of view.

Já é noite e acredita? Tô sem sono. Já tem mais de meia hora que deitei aqui e não consigo dormir. A Liz está lindinha, toda fofa dormindo, mesmo assim eu acho que ela ainda está brava comigo pela briga com o pai dela.

Por falar nisso, depois daquilo ele sumiu. Ele e o carinha lá na verdade. Sumiram e não voltaram até agora, eu acho que eles voltaram pra São Paulo e dou graças a Deus por isso.

Não é que eu não goste deles dois, só não suporto-os perto de mim, ponto. Deixa eles dois longe e é bom.

Respiro fundo mais uma vez e confesso que faria de tudo pra dormir agora. Acontece é que daqui a alguns dias é o aniversário da Liz, e coincidentemente, é dia 16, sabe o que aconteceu nesse dia? A morte do Kevin.

Eu tô seriamente preocupado com a Liz e em como ela vai ficar. O Paiva já me disse que ela geralmente se tranca e não quer ver a cara de ninguém.

Deve ser difícil pra caralho, né? O cara que ela considerava irmão morreu sem ao menos se despedir. Eu que não era tão próximo como ela, já meio que sofro nesse dia, imagina como ela e a dona Val ficam? Pois mais que eu ache que ele não quuer ser lembrado como um estraga aniversários é foda.

Ela se remexe e vai abrindo os olhos aos poucos, eu fico gelado, porque acho que acordei ela.

- Não dormiu? - a voz fraca por ter acabado de acordar invade meus ouvidos.

Nego com a cabeça. Escuto ela suspirar e se mexer na cama, poucos segundos depois o quarto se ilumina em uma luz fraca que é a do abajur.

- Me fala, o que foi? - consigo ver seus olhos claros iluminados e isso me acalma.

- Tô preocupado.

- Com...??

- Com você - aponto pra ela.

- Comigo? - franze o cenho.

- Sim. Seu aniversário tá chegando e eu não quero te ver mal - suspiro e puxo ela para o meu lado, fazendo ela ficar com a cabeça em cima do meu braço e uma perna em cima da minha.

Dou um beijo em seu cabelo e escuto ela suspirar pesado. Ela sabe que o Paiva me contou, ela sabe muito bem que eu sei como ela fica e provavelmente se ele não me contasse, eu iria descobrir na hora, no dia e no primeiro minuto.

Eu conheco a Liz muito bem para saber disso, eu sei com quem eu pretendo ficar o resto da minha vida e sei como ela é.

Complicada.

- Não deveria saber disso - ela diz baixo e rio nasalado.

Inacreditável. Eu não deveria saber. Que coisa, não? Eu sabia que ela não iria me falar, mas dizer na minha cara isso é foda, né?

- Claro que não, eu iria fazer papel de besta, iria me preocupar com você trancada o dia todo dentro do quarto, em um dia que você deveria festejar. Essa porra não é brincadeira, Liz! - reviro os olhos.

- O meu melhor amigo morreu naquele dia! Como você quer que eu festeje um dia ruim? - ela me pergunta com um pouco de indignação no tom de voz.

- O Kevin não quer choro, porra! - bato na cama e respiro fundo.

Eu confesso que elevei um pouco o tom de voz com ela, mas o Kevin não gostaria de ser lembrado como um "peso" no aniversário dela. É um dia feliz.

Ela se afasta e meu coração se despedaça quando vejo seus olhos cheios de água e sua expressão de choque pela luz fraca do abajur.

- O Kevin não quer que seja um dia ruim, vida - falo quase em um sussurro e chego perto dela, ela se afasta e meus olhos lacrimejam - Por favor...

- Não. - ela nega diversas vezes com a cabeça, me aproximo mais uma vez e dessa vez ela não se afasta, mas vejo uma lágrima percorrer seu rosto, fazendo uma pequena trilha até cair na minha mão que estava indo em direção ao seu rosto.

- Me desculpa... Eu não queria falar alto com você, me desculpa, por favor - uma lágrima escapa e aproximo nossos rostos e colo nossas testas.

Eu me precipitei. Sei que ela tem um pouco de trauma sobre isso que fiz e ver que ela me viu como o filho da puta que traumatizou ela me deixa triste.

- Me perdoa, hum? - minha mão toca seu rosto e ela começa a chorar.

Soluços saem de sua boca, mas ela não me perdoa, isso me deixa muito mal. Fecho meus olhos e lembro do sorriso dela ao falar do Kevin pela primeira vez pra mim.

- O Kevin te ama e quer ver você feliz, assim como eu. Só por favor, fala que você me perdoa, por favor, vida, só isso - fungo. Mais uma lágrima escorre.

Não quero que ela tenha uma impressão ruim de mim agora que começamos a namorar. Não tenho coragem de erguer um dedo pra ela, eu amo ela pra caralho, e quero que ela saiba isso.

Eu não sou ele. Eu nunca vou ser ele.

- Tá bom... - abro meus olhos e desgrudo nossas testas, ela continua chorando e vejo que é melhor eu me deitar e me cobrir.

Me deito de costas pra ela, meu coração pesa e minhas lágrimas caem descontroladamente agora. Ela não vai me desculpar. Não agora.

Ela funga, eu sei que ela fica parada no mesmo lugar por alguns minutos, sinto que ela se mexe e poucos minutos depois seus braços passam por minha cintura, me apertando, como se quisesse me prender.

Sua respiração um pouco desregulada e quente bate em minha costas, uma de suas mãos procura a minha e assim que encontra, as entrelaçam, apertando um pouco forte e seu polegar acaricia minha mão e sei o que ela quer dizer e quer que eu faça.

Ela me perdoa, mas ao mesmo tempo me pede desculpas. Ela também quer que eu me vire e que eu lhe abrace, e é isso que eu faço.

Quando eu falo que eu a conheço eu sei o que eu falo.

Não julguem, eu escrevi desmaiando de sono, então se ficou ruim me desculpem.

𝐌𝐈𝐒𝐓𝐄́𝐑𝐈𝐎 | 𝐆𝐀𝐁𝐑𝐈𝐄𝐋 𝐁𝐀𝐑𝐁𝐎𝐒𝐀(𝐏𝐀𝐔𝐒𝐀)Onde histórias criam vida. Descubra agora