capítulo 7

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Sam

Mon está a fim de um jogador de futebol americano. Não dá para acreditar nisso, mas como já a ofendi uma vez hoje, tenho de pisar em ovos se quero dobrar a menina.


Espero até estarmos no Jeep e coloco o cinto antes de lançar, com cuidado, a pergunta. - E aí, há quanto tempo você quer pegar... digo, fazer amor com Nop?

Ela não responde, mas posso sentir seu olhar mortal em meu rosto.

- Deve ser bem recente, já que ele só foi transferido há dois meses. - Pressiono os lábios. - Certo, vamos considerar que faz um mês.

Sem resposta.

Viro-me para ela de relance e vejo que seu olhar é ainda mais ameaçador. No entanto, mesmo com a expressão fulminante, continua gata. Tem um dos rostos mais interessantes que já vi - as maçãs do rosto bem arredondadas, a boca um tanto arrebitada, e, combinados com a pele branquinha, os olhos castanhos vívidos e uma pintinha perto dos lábios. O visual é quase exótico. E o corpo... cara, agora que reparei nele, não consigo "desreparar".

Mas me lembro de que não estou levando Mon para casa na esperança de me dar bem. Preciso muito dela, e dormirmos juntas só estragaria as coisas.

Hoje, depois do treino, o treinador me chamou num canto e me deu um sermão de dez minutos sobre a importância de manter as notas na média. Bem, chamar aquilo de sermão é bondade minha. Suas palavras exatas foram: "Mantenha as notas azuis, ou vou enfiar o pé com tanta força na sua bunda que você vai passar anos sentindo o gosto da graxa do meu sapato na boca".

Inteligente que sou, perguntei se as pessoas ainda engraxam o sapato, e ele respondeu com uma sequência de impropérios eloquentes, antes de sair feito um furacão.

Não estou exagerando quando digo que hóquei é tudo na vida para mim - e acho que eu não teria escolha, sendo filha de um fodão do rinque como meu pai é. O velho tinha meu futuro inteirinho planejado quando eu ainda estava na barriga da minha mãe aprender a patinar, aprender a bater com o taco, chegar à liga profissional, fim. Afinal de contas, Kasem tem uma reputação a zelar. Quer dizer, imagina só como ele se sentiria se a filha não virasse uma jogadora profissional...

Não vou negar, tem um quê de sarcasmo aí. E aqui vai uma confissão: não gosto do meu pai. Ou melhor, eu o odeio. A ironia é que o filho da mãe acha que tudo que fiz foi por ele. Os treinos pesados, os hematomas pelo corpo inteiro, me matar vinte horas por semana para progredir no rinque. Ele é arrogante o suficiente para acreditar que faço tudo isso por ele.

Mas está errado. Faço por mim. E, em menor grau, para superar o meu pai. Para ser melhor do que ele.

Não me leve a mal, adoro o jogo. Vivo pelo barulho da torcida, a sensação do ar gelado no rosto ao voar sobre o gelo, o som do disco quando acerto uma tacada que acende a luz do gol. Hóquei é adrenalina. É empolgante. É... relaxante até.

Olho para Mon mais uma vez, imaginando o que fazer para persuadi-la, quando, de repente, percebo que estou encarando essa situação com o Nop de forma errada. Porque, de fato, não acho que ela seja o tipo dele..., mas como é que ele pode ser o dela?

Nop é do tipo forte e calado, mas já conversei com o cara o suficiente para enxergar por debaixo da máscara. Faz pinta de misterioso para atrair as garotas e, assim que elas mordem a isca, ele abusa do seu charme para entrar debaixo da saia delas.

Então por que uma menina centrada como Mon ficaria babando por um cafajeste feito Nop?

- É só tesão ou você quer namorar com ele? - pergunto, curiosa.

𝐎 𝐚𝐜𝐨𝐫𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora