capítulo 21

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Mon

Não posso acreditar que estava nervosa sobre vir ao bar hoje, porque juro que nunca me diverti tanto assim. Neste instante, estou espremida ao lado de Sam no banco estofado da mesa, e estamos envolvidas num debate acalorado com Jim e Kehlani sobre, entre outras coisas, tecnologia. Jim não abre mão de sua opinião de que crianças e jovens não devem ser autorizados a assistir mais de uma hora de TV por dia. Concordo totalmente, mas Sam e Kehlani não, e nós quatro estamos trocando farpas sobre a questão há mais de vinte minutos. Tenho vergonha de admitir, mas sinceramente não esperava que todas essas jogadoras de hóquei tivessem opiniões articuladas sobre assuntos não relacionados ao esporte, mas elas são muito mais perspicazes do que eu imaginava.

- As crianças têm que ir para a rua, andar de bicicleta, caçar sapos e subir em árvore - Insiste Jim, balançando o copo de cerveja no ar para dar ênfase. - Não é saudável ficar enfiado dentro de casa olhando para uma tela o dia todo.

- Concordo com tudo, menos com a parte dos sapos - Intervenho. - Porque sapos são pegajosos e nojentos.

As garotas começaram a rir.

- Fresca - Brinca Kehlani.

- Ah, como assim, Mon, dá uma chance pros sapos - Protesta Jim. - Você sabia que, se lamber o certo, dá um barato legal?

Olho para ela horrorizada. - Não tenho o menor interesse em lamber sapos.

Kehlani pergunta: Nem para ficar com o príncipe?

A mesa inteira solta uma exclamação animada.

- Não, nem assim - Afirmo, decidida.

Jim dá um gole demorado na cerveja antes de se voltar para mim. - E que tal lamber algo diferente de um sapo? Ou você é contrária a lambidas de forma geral?

Minhas bochechas ardem diante da sugestão, mas o brilho travesso em seus olhos me diz que não está tentando ser grossa, então respondo com minha própria dose de insinuações. - Ah, sou a favor de lambidas, sim. Desde que esteja lambendo algo saboroso.

Outra rodada de exclamações animadas, mas da qual Sam não participa. Quando me viro para ela, vejo que seus olhos se inflamaram.

Eu me pergunto se está imaginando minha boca no... não, não vou nem falar.

- Merda, alguém precisa amarrar aquele velho pra ele parar de monopolizar o jukebox - Declara Jim, quando mais uma música do Black Sabbath berra nas caixas de som do bar.

Todas nós viramos na direção do culpado - um frequentador do bar com uma barba ruiva espessa e a cara mais malvada que já vi. No instante em que o karaokê acabou, Barba Ruiva correu para o jukebox, enfiou dez dólares em moedas de vinte e cinco centavos e digitou uma lista de rock que até agora consiste em Black Sabbath, Black Sabbath e mais Black Sabbath. Ah, e uma música do Creedence que Kehlani alegou estar ouvindo quando perdeu a virgindade.

Por fim, nosso debate se volta para o hóquei, com Kehlani tentando me convencer de que o goleiro é o jogador mais importante do time, enquanto Jim a vaia o tempo inteiro. A música do Black Sabbath enfim acaba e é substituída por "Tuesday's Gone", do Lynyrd Skynyrd. É só os acordes de abertura ecoarem pelo bar, que sinto Sam se enrijecendo ao meu lado.

- Qual o problema? - Pergunto.

- Nada. - Sam limpa a garganta, em seguida se levanta e me puxa com ela. - Dança comigo.

- Com esta música? - Fico perplexa por um momento, até que lembro que ela é apaixonada por Lynyrd Skynyrd. Aliás, tenho certeza de que esta música estava na lista que me mandou na semana passada.

𝐎 𝐚𝐜𝐨𝐫𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora