capítulo 11

869 146 1
                                    

Mon

No domingo de manhã, minha mãe liga para a nossa conversa semanal, pela qual faz alguns dias que estou ansiosa. Quase não temos tempo de bater papo durante a semana, porque estou em aula durante o dia, ensaiando no fim da tarde, trabalhando ou dormindo na hora em que minha mãe termina seu turno da noite no supermercado.

A pior coisa da vida em Massachusetts é não poder ver meus pais. Sinto uma falta imensa deles, mas, ao mesmo tempo, precisava me afastar, ir embora de Ransom. Só voltei uma vez desde a formatura da escola e, depois disso, todos nós concordamos que seria melhor se eu não aparecesse mais em casa. Minha tia e meu tio moram na Filadélfia, então meus pais e eu passamos o feriado de Ação de Graças e o Natal lá. No restante do tempo, nos falamos por telefone, e, com sorte, eles vão conseguir juntar um dinheiro para poder vir me visitar.

Não é o melhor esquema, mas eles entendem por que não posso voltar para casa. E eu não só entendo por que não podem sair, como sei que a culpa é minha. Também sei que vou passar o resto da vida tentando compensá-los.

- Oi, querida. - A voz de minha mãe envolve meu ouvido como um abraço caloroso.

- Oi, mãe. - Ainda estou na cama, enrolada nas cobertas e olhando para o teto.

- Como foi a prova de ética?

- Tirei dez.

- Parabéns! Está vendo? Disse que você não tinha nada com que se preocupar.

- Confia em mim, tinha sim. Metade da turma reprovou. - Rolo para o lado e descanso o telefone no ombro. - Como está o papai?

- Bem. - Ela faz uma pausa. - Pegou turnos extras na fábrica, mas...

Meu corpo fica tenso. - Mas o quê?

- Mas parece que a gente não vai conseguir passar o feriado de Ação de Graças na tia Nicole, querida.

A dor e o pesar em sua voz me dilaceram como uma faca. Lágrimas ardem em meus olhos, mas pisco, afastando-as.

- Você sabe que acabamos de consertar o vazamento no telhado e que isso foi um golpe e tanto nas nossas economias, - explica minha mãe. - Não temos dinheiro para a passagem.

- Por que vocês não vão de carro? -  pergunto, baixinho. - Não é tão longe assim... - Aham, só umas quinze horas de volante. Pertinho, só que não.

- Se a gente fizer isso, seu pai vai ter que tirar mais dias de folga, e não dá para ficar sem esse dinheiro.

Mordo o lábio para impedir que as lágrimas caiam. - Talvez eu pudesse... - Faço uma conta rápida das minhas finanças. Definitivamente não tenho dinheiro para três passagens de avião para a Filadélfia.

Mas tenho para uma até Ransom.

- Posso pegar um avião até ai, - sussurro.

- Não. - Sua resposta é rápida e inequívoca. - Você não precisa fazer isso, Mon.

- E só um fim de semana. - Estou tentando me convencer, e não a ela. Tentando ignorar o pânico que me sobe pela garganta diante da simples ideia de voltar lá. - A gente não precisa ir até o centro nem ver ninguém. Posso só ficar em casa com você e o papai.

Outra pausa longa. - É isso o que você quer mesmo? Porque se for, então vamos recebê-la de braços abertos, você sabe disso, querida. Mas se você não está cem por cento confortável com isso, então quero que fique na Briar.

Confortável? Acho que nunca mais vou me sentir confortável em Ransom de novo. Eu era uma pária antes de sair, e, na única vez em que voltei para visitar, meu pai foi preso por agressão. Então, não, voltar é tão atraente quanto cortar os braços e dar de comer aos lobos.

𝐎 𝐚𝐜𝐨𝐫𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora