capítulo 41

858 157 3
                                    

Sam

Há dias Mon tem me evitado. Está dando uma de ocupada, e é verdade que tem o trabalho e os ensaios. Mas ela já trabalhava e ensaiava quando começamos a namorar, e isso nunca a impediu de passar na minha casa para um jantar rápido ou de conversar comigo pelo telefone antes de dormir.

Portanto, a resposta é só uma: ela está me evitando.

Não é preciso ser uma gênia para concluir que é por causa da forma como fui atrás de Wesley. É o único motivo que consigo imaginar para estar chateada comigo, e não tenho certeza se a culpo por isso. Não deveria ter batido no cara. Muito menos na arena, na frente de centenas de testemunhas.

Mas a ideia de que ela possa estar... sei lá... com medo de mim agora...

É de matar.

Apareço no seu alojamento sem avisar, porque sei que se mandar uma mensagem, ela vai inventar alguma história e dizer que está ocupada. Sei que está em casa, porque fiz a coisa mais patética do mundo: escrevi para Yuki para descobrir, e em seguida implorei para não contar a Mon com a desculpa esfarrapada de que lhe faria uma surpresa.

Não tenho certeza se Yuki acreditou. Quer dizer, meninas conversam, então é lógico que Mon contou para a melhor amiga sobre o que a está incomodando.

Como eu esperava, Mon não parece feliz em me ver à sua porta. Também não parece chateada, o que me deixa desconfortável, sobretudo quando noto o brilho de tristeza em seus olhos.

Merda.

– Oi, – digo, rispidamente.

– Oi. – Vejo sua garganta se mover, engolindo em seco. – O que tá fazendo aqui?

Poderia fingir que está tudo bem, que só passei para ver a garota que eu amo, mas Mon e eu não somos assim. Nunca evitamos a verdade. Antes, e não vou começar a fazê-lo agora.

– Queria saber por que a minha namorada está me evitando.

Ela suspira.

Só isso. Um suspiro. Quatro dias sem nenhum contato físico e raríssimas mensagens, e tudo o que recebo é um suspiro.

– O que tá acontecendo? – exijo saber, frustrada.

Ela hesita, voltando os olhos na direção da porta fechada de Yuki. – A gente pode conversar no meu quarto?

– Claro, contanto que a gente converse alguma coisa, – resmungo.

Entramos no quarto, e ela fecha a porta. Quando se vira para mim, sei exatamente o que vai dizer.

– Me desculpa por ter andado tão estranha. Só estava tirando um tempo para pensar...

Puta merda. Ela vai terminar comigo. Porque ninguém começa uma frase com"Só estava tirando um tempo para pensar..." sem terminar com "e acho que a gente não deve mais se ver".

Mon solta um suspiro. – E acho que a gente não deve mais se ver.

Mesmo que estivesse esperando por isso, as palavras ditas em voz baixa apunhalam meu coração e me envolvem num tornado de dor.

Ao ver minha expressão, ela se apressa em acrescentar: É que... está indo tudo muito rápido, Sam. Mal se passaram dois meses, e já estamos falando ‘eu te amo’, e ficou tudo tão sério de repente, e... – Ela parece exausta e soa chateada.

Eu, por outro lado, não estou nem exausta nem chateada.

Estou destruída.

Engulo a amargura se acumulando em minha garganta. – Por que você não diz o que realmente quer dizer?

𝐎 𝐚𝐜𝐨𝐫𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora