capítulo 33

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Sam

A temperatura parece ter caído uns vinte graus desde que entrei na Bristol House até o momento em que saí, feito um furacão. Uma rajada de vento cortante me atinge o rosto e gela as pontas das orelhas, enquanto marcho em direção ao estacionamento.

Está vendo? É por isso que evito o drama que é ter uma namorada. Deveria estar nas nuvens agora, porque trucidamos o time de Harvard. Em vez disso, estou chateada, frustrada e mais nervosa do que imaginava. Mon está certa "estávamos só nos divertindo". Do mesmo jeito que estava só me divertindo com Kendall, ou com a garota antes dela, ou com as garotas antes dela. Nem pestanejei antes de terminar com qualquer uma delas, então por que estou tão chateada agora?

Mas ainda bem que saí de lá. Estava prestes a me passar por uma completa idiota. Dizendo coisas que não deveria, correndo o risco até de implorar. Meu Deus. Desse jeito vou acabar virando uma pau-mandada.

Estou na metade do caminho até o carro quando ouço Mon chamando meu nome.

Meu peito se aperta. Viro para trás e vejo-a correndo pela trilha da Bristol House até o estacionamento. Ainda está de pijama – uma calça xadrez e uma camiseta preta com notas musicais amarelas na frente.

Fico tentada a continuar andando, mas a visão dos seus braços nus e as bochechas coradas pelo frio me irrita ainda mais do que a nossa briga. – Caramba, Mon, – reclamo, quando me alcança. – Você vai pegar um resfriado.

– Isso é mito, – retruca. – Tempo frio não causa resfriado.

Mas está visivelmente tremendo, e, quando envolve os braços em torno de si mesma e começa a esfregar a pele nua para se aquecer, solto um resmungo de aborrecimento e tiro meu casaco depressa.

Rangendo os dentes, passo-o por cima dos ombros dela. – Aqui.

– Obrigada. – Parece tão irritada quanto eu. – Qual é o seu problema, Sam? Você não pode simplesmente ir embora feito louca no meio de uma discussão séria!

– Não tinha mais nada pra discutir.

– Mentira. – Ela balança a cabeça com raiva. – Você não me deixou falar!

– Deixei sim – Respondo, categoricamente. – E, vai por mim, você disse o bastante.

– Nem lembro o que falei. Sabe por quê? Porque você me pegou totalmente desprevenida e nem sequer me deu um segundo para pensar.

– E o que tem para pensar? Ou você tá a fim de mim, ou não tá.

Mon solta um barulho frustrado. – Você não tá sendo justa de novo. Só porque de repente você decidiu que tá pronta para um relacionamento e que devemos ficar juntas, não significa que vou gritar ‘Lêê, uhu!’ Feito uma garota de fraternidade. Você obviamente teve tempo para pensar sobre isso e assimilar a ideia, mas não me deu nem um segundo.  Só entrou meu quarto, fez um monte de acusações e foi embora.

Sinto uma pontada de culpa. Mon não deixa de ter razão. Vim hoje aqui sabendo exatamente o que queria dela.

– Desculpa não ter avisado sobre o encontro com Nop – Acrescenta, baixinho. – Mas não vou me desculpar por precisar de mais do que cinco segundos para avaliar a possibilidade de enxergar nós duas como um casal.

Minha respiração sai numa nuvem branca de condensação que logo se deixa levar pelo vento. – Desculpa por ter saído correndo – admito. – Mas não vou me desculpar por querer ficar com você.

– Você ainda quer?

Faço que sim. Então engulo em seco. – E você?

– Depende. – Ela deita a cabeça. – Vamos ter exclusividade?

– Claro, não tem nem discussão – Digo, sem hesitar. A ideia de Mon com outra pessoa é como uma punhalada na barriga.

– Você concorda que devemos ir devagar? – Ela muda o peso da perna, sem jeito. – Porque com o festival chegando, e as férias, as provas, sua escala de jogos... vamos começar a ficar ocupadas, e não posso prometer ver você todos os segundos do dia.

– A gente se vê quando der, – digo, simplesmente.

Estou surpresa com a calma em minha voz, com o quão contida permaneço, embora haja milhares de borboletas agitadas batendo asas na minha barriga e gritando sim, sim, sim a todo volume. Caramba. Estou prestes a complicar minha vida inserindo uma namorada nela, mas, de alguma forma, estou cem por cento tranquila com isso.

– Então tudo bem. – Mon sorri para mim. – Vamos oficializar.

Uma nuvem negra obscurece um pouco minha felicidade. – E Nop?

– O que tem ele?

– Você disse que ia sair com ele, – respondo, entredentes.

– Na verdade, desmarquei o encontro antes de vir aqui fora. – As borboletas dentro de mim levantam voo de novo.

– Desmarcou? – Ela assente com a cabeça.

Um lampejo de humor brilha em seus olhos. – Tô toda caidinha por você, Sam. Só você.

E, simples assim, minha ansiedade desaparece e se transforma numa explosão de alegria pura que me traz um sorriso aos lábios. – Eu sabia que estava.

Revirando os olhos, ela se aproxima e esfrega o rosto frio contra meu queixo. – Agora será que a gente pode voltar lá para dentro? Minha bunda tá congelando e preciso da minha fluffer para me esquentar.

Estreito os olhos. – O que você falou?

Ela pisca, fazendo cara de inocente. – Ah, desculpa. Eu falei fluffer? – Um sorriso ilumina todo o seu rosto. – Quis dizer namorada.

As palavras mais bonitas que já ouvi na vida.

𝐎 𝐚𝐜𝐨𝐫𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora