Felipe Kravtsov acordou na manhã daquela sexta e, apesar da tentativa de assassinato que sofrera no dia anterior, se sentia muito bem, obrigado.
Ele deu a maior espreguiçada de sua vida e se levantou, pegando o controle para desligar o ar-condicionado e abrir as persianas automáticas que cobriam as grandes janelas de vidro. Parou por um momento olhando para a propriedade de sua família — os seguranças costumavam chama-la de Kravlândia pelo tamanho absurdo — e seguiu em direção ao banheiro.
Tomou um banho frio (ele odiava banhos quentes) e logo em seguida vestiu uma calça social justa e uma camisa de botões brancos. Quando estava calçando o mocassim de couro, o telefone começou a tocar.
— Alô — atendeu sem ao menos olhar o nome de contato, poucas pessoas no mundo tinham o seu número.
Acho que a gente poderia listar umas 100 empresas com DDD 11 que adorariam ligar para ele e oferecer serviços de empréstimo e de internet.
— Felipe, como foi a entrega ontem? — Era a voz de Grigori, tio dos herdeiros Kravtsov.
Felipe era o filho mais novo de Hernan Kravtsov, tinha 26 anos e era dois anos mais novo que Aleksei, o filho mais velho e herdeiro direto dos negócios da família. Depois que Hernan morrera no embate contra a milícia do Rio de Janeiro e os irmãos se mudaram para Belo Horizonte, Grigori resolveu ir atrás deles e cuidar dos sobrinhos. Ele costumava ser o braço direito de Aleksei, mas enquanto o irmão estava na Rússia resolvendo alguns assuntos familiares com a ex-esposa, Felipe se tornou o responsável imediato, e Grigori o seu braço direito.
E ainda tem quem diga que não existe Família Real no Brasil.
— Não foi uma entrega — soltou rispidamente, lembrando do ocorrido. — Onde o senhor está?
— Na cozinha, quer tomar café?
— Você tá me ligando de dentro de casa? — Soltou uma risada alta. — Me encontra na sala de reunião.
Alguns minutos depois os dois Kravtsov estavam sentados de frente um para o outro na grande mesa de mogno ladeada por cadeiras de couro escuro. Grigori não parecia em nada com o irmão mais velho e os dois filhos dele: o tio dos herdeiros era baixo, tinha o cabelo loiro ondulado e a pele branca era toda vermelha, marcada de sol. Ele estava sempre usando camisa polo e calça jeans com uns sapatênis horríveis.
Felipe era bem parecido com o irmão e o falecido pai: alto, talvez o maior dos três com 1,98 de altura. Tinha o cabelo liso tão escuro que parecia que estava sempre recém-pintado, e mantinha um corte que era algo entre um moicano e um mullet. Ele era branco — e não avermelhado, o que indicava que, ao contrário do tio, usava bastante protetor solar — e tinha sardas bem clarinhas sobre o nariz e as maçãs do rosto.
Ele era um galã e causava muitas reações positivas por ondem passava — e muitas reações negativas das garotas, quando descobriam que ele era gay.
— O que aconteceu? — tio Grigori perguntou, entrelaçando os dedos sobre a mesa e encarando o sobrinho com uma expressão séria.
— Era uma emboscada — Felipe soltou de uma vez, explicando todo o ocorrido e completando: — Isso não pode ficar assim, precisamos atacar de volta ou sairemos como fracos!
— Vai com calma, não devemos dar um passo sem saber o terreno a seguir — Felipe se segurou muito para não revirar os olhos, o tio sempre tinha alguma metáfora ou analogia pra dizer. — A gente precisa investigar, não faz sentido os Ferreira se virarem contra a gente tão repentinamente!
Felipe soltou um suspiro e passou a mão sobre o cabelo.
— Somos um dos maiores importadores do Brasil, e todos querem tomar o nosso poder — ele pontuou o que parecia óbvio em sua mente.
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KravtQuim - Máfia e Pão (Romance gay hot)
RomanceNão faz muito tempo que os Kravtsov se estabeleceram em Minas Gerais, mas o pouco tempo foi suficiente para que se tornassem a família mais importante de Belo Horizonte. Entre contrabandos e a gestão da multinacional KravInc, os irmãos Aleksei e Fel...