Capítulo 6 - DESAVENÇA

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Era a primeira segunda-feira em muito tempo que Joaquim e as tias não iam para a praça com o Food Truck. Era uma sensação estranha, diferente, porém nada ruim.

Eles entraram no prédio da KravInc alguns minutos atrasados depois de se perderem nas ruas procurando o endereço e depois procurando a entrada para funcionários.

Foram recebidos por uma assistente que os guiou até a cozinha industrial enorme da empresa, onde os empregados da cozinha já os esperavam.

— Vocês podem começar a se organizar, às oito e trinta o Sr. Kravtsov estará no escritório para receber os cardápios que prepararam! — a assistente falou rapidamente antes de sair apressada.

Os funcionários da cozinha os receberam calorosamente enquanto explicavam como funcionavam os eletrodomésticos e onde ficavam todas as coisas que eles pudessem vir a precisar.

— Joaquim, tá na hora de ir conversar com o chefão — tia Sabrina o cutucou enquanto ele digitava em seu notebook a lista de compras do que precisariam comprar para as receitas.

Ele conferiu o horário no computador antes de fechá-lo e deu um pulo para se levantar da cadeira.

— Volto já!

Ele saiu andando pelo corredor e precisou ficar pedindo ajuda para chegar até o escritório. A porta estava aberta quando chegou e ele encontrou Felipe conversando com um homem loiro baixinho.

— Desculpa, incomodo? — perguntou, ainda parado do lado de fora.

— Não, pode entrar, Joaquim — Felipe pediu, sorrindo e apontou para o homem sentado na cadeira de couro em frente a e mesa. — Esse é meu tio, Grigori!

Grigori se levantou para cumprimenta-lo e depois apontou a cadeira ao seu lado, para que o padeiro se sentasse. Joaquim se ajeitou na poltrona e colocou as três folhas presas por um grampo sobre a mesa.

— Vim trazer os cardápios!

Ele observou Felipe conferir o impresso e logo depois o empresário disse:

— Não se esqueça de fazer um cardápio para o coquetel.

Joaquim não entendeu, ele havia montado o cardápio para o coquetel que aconteceria no último dia do evento, segundo o cronograma no contrato.

Mas provavelmente Felipe estava falando que queria algo diferente para esse dia, não é?! Afinal era o fechamento do congresso. De qualquer forma ele decidiu não questionar, afinal era o Sr. Kravtsov quem estava fazendo o pagamento.

Joaquim estava pronto para se levantar e sair quando Felipe voltou a falar:

— E acho que seria melhor evitar os ingredientes que possam causar ataques alérgicos — ele soltou um risinho meio nervoso. — Não queremos ninguém passando mal em nossos salões.

Espera aí, o cara estava tentando limitar suas receitas?

— Isso é meio que impossível — Joaquim disse de forma simpática. — Tem gente com todo tipo de alérgico.

— Tenho certeza de que você pode pensar nas melhores opções para o assunto — Felipe rebateu na hora, soando meio prepotente.

— Sim, a melhor opção livre de alergias é água pura — a resposta deixou os lábios de Joaquim antes que ele conseguisse racionar sobre isso.

— Se você conseguir fazer água pura ter a aparência, o cheiro e o gosto de uma torta de chocolate, fica ao seu critério — as sobrancelhas de Felipe se juntaram enquanto ele falava.

Joaquim estava abrindo a boca para falar que era mais fácil servir beterraba crua com chantilly quando Grigori entrou no meio da conversa.

— Talvez a melhor opção seja fazer diferentes versões das receitas e colocar pequenos cartões indicando os ingredientes de cada uma delas.

— Isso vai ficar bem mais caro do que eu me programei. — Joaquim pontuou, encarando Grigori e fazendo de tudo para não olhar para Felipe.

— A empresa vai cobrir qualquer custo extra — Grigori o respondeu, olhando do padeiro para o sobrinho. — Tudo pelo bem dos nossos convidados!

— Como vocês decidirem — foi preciso muito esforço de Joaquim para essa frase não sair no tom mais debochado do mundo. — Agora me deem licença, preciso voltar ao meu trabalho!

Ele se levantou e saiu andando apressado, mas quando já estava do lado de fora da sala, ele ouviu Felipe murmurar:

— Dá pra acreditar nisso?

Joaquim saiu pisando fundo e assim que entrou no elevador mandou a versão digitalizada do contrato que recebera pelo WhatsApp da KravInc para Isadora, gravando um áudio logo a seguir:

— Amiga, me socorre. Olha esse contrato aqui e me diz se tô ferrado se decidir quebrar o acordo!

Uma escolha meio abrupta, talvez?

Ele chegou na cozinha e explicou para as tias, o mais calmo que conseguiu, que eles precisariam fazer versões diferentes das mesmas receitas. Então começaram o trabalho árduo de pesquisar, junto com os funcionários da cozinha, por opções de petiscos e canapés com ingredientes com menos chances possíveis de causarem ataques alérgicos.

Que porre!

Isadora ligou para Joaquim uma hora depois, e ele foi para o banheiro, para atendê-la.

— O que aconteceu? — ela perguntou assim que ele atendeu.

Ele explicou rapidamente para ela e terminou falando:

— Achei que seria um job de boa, mas provavelmente o cara vai ficar se metendo em tudo o que fazemos!

— Que saco, Joca — Isadora respondeu. — Porém deu muito ruim pra vocês, a multa por quebra de contrato é cinquenta por cento do valor, isso dá mais de sete mil reais!

Joaquim soltou um grunhido e passou a mão sobre o rosto.

— Tudo bem, eu vou dar conta. Só preciso aguentar por cinco dias alguém se metendo no que eu faço.

Ele agradeceu a amiga e depois de encerrar a chamada, saiu apressado do banheiro. O problema é que assim que passou pela porta, ele se chocou em alguém.

— Você tem algum problema com os meus pedidos de serviço?

Joaquim deu um passo para trás e encarou Felipe, que estava parado em sua frente como uma estátua, os braços cruzados em frente ao corpo e os olhos cerrados.

— Eu tenho um problema com se meterem no meu trabalho — ele respondeu na lata, e logo se arrependeu. Mas ao invés de pedir desculpas, ele torceu para ter uma clausula no contrato de que a empresa também pagaria uma multa alta caso decidisse quebrar o contrato.

— Você está prestando um serviço para a minha empresa — Felipe afirmou, a voz séria fazendo Joaquim arrepiar, mas ele jamais deixaria isso transparecer para o outro. — Quando eu peço algo, não estou me metendo no seu trabalho, estou definindo os meus interesses.

Joaquim se sentia tão estressado naquele momento que poderia jogar uma torta inteira de pasta de amendoim naquele cabelo preto cheio de gel absurdamente caro.

Ainda assim, ele decidiu que a melhor opção seria o sarcasmo.

— Claro, senhor. Tudo o que desejar... agora me dê licença que preciso ir prestar o serviço que me contratou para fazer.

E, apenas para se sentir um pouquinho melhor, ele fez uma reverência bem exagerada, abaixando o corpo todo para frente, e então saiu andando pelo corredor.

Para mim isso soa como o início de uma guerra fria!

KravtQuim - Máfia e Pão (Romance gay hot)Onde histórias criam vida. Descubra agora