Um disparo passou ao lado da cabeça de Joaquim, deixando sua orelha escorrendo. Era uma sorte quando ele conseguia se desviar assim, no último minuto. Na semana anterior ele havia sido atingido no ombro direito e a mancha vermelha ficaria em sua camisa para sempre, para contar a história.
— JOAQUIM! — o grito veio de trás, a voz em um tom desesperado que somente quem já viu muito da vida conseguiria perceber.
Joaquim se virou, indo apressadamente até o mini caminhão pintado de azul e subiu pela traseira, parando em frente a mulher negra, 10 centímetros mais baixa do que ele.
— Eles ainda vão matar a gente! — ela disse, e ficou nas pontas dos pés para passar um guardanapo na orelha dele. — Você tá todo sujo de geleia de morango.
— Aparentemente eu sou um ótimo alvo para eles — Joaquim respondeu, sorrindo para tia Ângela.
— Toma, mesa 7 — ela colocou nas mãos dele uma bandeja com um pastel recém-frito.
Ele respirou fundo e saiu do food truck.
Joaquim e as tias — Ângela e Sabrina — haviam aberto a lanchonete sobre rodas um ano antes, tentando realizar o sonho de viver a vida fazendo pães, bolos e todo tipo de gostosura que se pode assar em um forno. O sonho real era abrir uma padaria, acordar as 5 pra ligar os fornos e receber os clientes logo cedo, porém eles não tinham capital para comprar ou alocar um lugar em um bom bairro da cidade, a melhor opção foi financiar o food truck e tentar juntar dinheiro para o sonho real.
No início as coisas não deram muito certo, mas depois tia Sabrina teve a ideia de levar a Cake Wheels para uma praça que ficava perto de duas escolas, agora eles passavam o dia vendendo doces, pastéis, biscoitos e sendo atingidos por metades deles — ir embora todo dia cheirando a uma mistura de geleia com carne moída não era a melhor das sensações, mas pelo menos os pais pagavam por tudo o que os filhos consumiam (ou atiravam nos funcionários).
— Bom apetite! — Joaquim disse, deixando a bandeja com o pastel no centro da mesa 7 onde uma mãe tentava convencer ao garotinho de mais ou menos 5 anos a beber um suco de acerola.
Foi o tempo de Joaquim se virar para ser acertado na cara. SPLASH!
Ele lambeu os lábios enquanto o doce escorria pelo rosto.
— Mousse de maracujá — disse, para si mesmo.
Pelo menos a tia cozinhava bem.
*
Ali, naquele mesmo bairro, outro conflito acontecia.
Nada tão sério quanto pães quentes e pastéis gostosos, mas havia um certo nível de tensão.
Era um galpão abandonado há muito tempo — ou pelo menos parecia abandonado, por quem passasse do lado de fora.
Lá dentro, nove homens se encaravam e único som que vinha de fora era o das crianças correndo na rua, indicando o fim das aulas naquele dia. Logo começaria a escurecer.
— Já estou cansado dessa enrolação — Felipe Kravtsov falou, mudando o peso do corpo da perna esquerda para a direita.
Ele havia chegado com seus guardas uns trinta minutos antes para pegar uma maleta, mas até agora tudo o que aqueles caras tinham feito era enrolá-lo, e não havia maleta em lugar algum.
Pelo galpão havia diversos caixotes de madeiras, marcados em diferentes cores (azul, vermelho, preto...). Cada cor representava um produto que a família Kravtsov "comercializava" — não que eles fossem declarar isso no imposto de renda, claro.
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KravtQuim - Máfia e Pão (Romance gay hot)
RomanceNão faz muito tempo que os Kravtsov se estabeleceram em Minas Gerais, mas o pouco tempo foi suficiente para que se tornassem a família mais importante de Belo Horizonte. Entre contrabandos e a gestão da multinacional KravInc, os irmãos Aleksei e Fel...