Capítulo 43 - FRUSTRAÇÃO

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Na grande sala de reuniões da mansão dos Kravtsov, um delicioso café vindo direto da padaria Pão de Céu havia sido servido alguns minutos antes, quando os convidados de Aleksei haviam chegado.

As coisas na sala estavam muito mais animadas quando estavam apenas tomando café.

— Nossa parceria é mais velha do que o meu filho — Aleksei disse, tentando sorrir simpaticamente. — Não faz sentido encerrarmos agora, de uma hora para a outra.

Ele havia convocado aquela reunião para reforçar acordos e falar sobre novas empreitadas, mas as coisas haviam desandado completamente. Agora, aparentemente, ele estaria encerrando algo que nem esperava que pudesse acontecer.

Arthit Wanchai era o atual patriarca da máfia tailandesa mais antiga de BH. Os tailandeses costumavam trabalhar com a "importação" de aparelhos eletrônicos e faziam escambo com os Kravtsov. Fora por isso que haviam se mudado para a capital mineira após a guerra no Rio de Janeiro, lá eles já tinham um grande parceiro de negócios.

— Não estamos encerrando — Arthit disse, cruzando os dedos sobre a mesa. — É uma pausa. O nome de vocês, nesse momento, representa problema. Precisamos nos resguardar!

Ele estava certo, Aleksei sabia disso. Naquele momento os Kravtsov estavam manchados. Haviam sido feridos de dentro para fora, um golpe tão avassalador que colocara a reputação deles em questão. Se haviam sido traídos tão facilmente por integrantes de sua família, os outros grupos não teriam nenhuma dificuldade para subjugá-los!

— Resolva essa situação — Arthit afirmou, se levantando. — Mostre quem são vocês, como seu pai sempre fez, e nós voltaremos aos negócios!

*

Aleksei chegou ao escritório e se jogou com tudo sobre a cadeira, sentindo como se o peso do mundo tivesse sido largado sobre seus ombros.

Ele não sabia bem o que sentia, mas era um mix de emoções não muito positivas: raiva, frustração, tristeza, desesperança... se continuasse daquele jeito, acabaria perdendo a sanidade.

Mas não conseguia deixar de se perguntar: como as coisas haviam terminado daquela forma? Como haviam sido tão negligentes com a própria segurança?

Já havia tempos que uma questão passeava por sua mente, mas ele a vinha ignorando até aquele momento, quando não havia mais como deixar para lá. No início, quando Grigori havia sido revelado como o mandante dos ataques aos dois irmãos, estava claro que já haviam seguranças traidores entre eles, mas por que haviam decidido trair sem que houvesse garantia de que os Kravtsov não resolveriam aquela questão? Quais eram as demandas deles?

A Aleksei parecia mais óbvio do que nunca que o problema era ele, sempre tão distante de seus funcionários, preocupado demais com parcerias comerciais e compra de imóveis (e talvez de carros?) para criar espaço de conexão com os guardas que protegiam a vida dele e daqueles que ele amava.

Felipe sempre fora o irmão dos guardas, Aleksei era o príncipe no castelo.

Duas batidas na porta o arrancaram dos pensamentos melodramáticos — o orgulho da Lorde.

— O senhor me chamou? — Samuel perguntou, entrando na sala.

Senhor? Naquele momento Aleksei pensou no fato de que raramente via um dos guardas tratando Felipe daquela forma, enquanto com ele era sempre assim.

— Por favor, sente-se — ele pediu e esperou que Samuel estivesse acomodado em sua frente antes de falar. — Por favor, me diz que você tem alguma atualização sobre a busca de Sara.

Eles haviam começado uma verdadeira força-tarefa com apoio dos novos guardas que haviam chegado da Rússia semanas antes. Aleksei queria encontrar Sara e queria puni-la — embora não soubesse como faria aquilo, uma vez que estavam falando da mãe do filho dele — e precisava que isso acontecesse logo, para que conseguissem resgatar a honra da família.

Samuel o encarou com a cara fechada e passou a mão sobre a cabeça, respirando fundo e soltando o ar em um suspiro.

— Nada, infelizmente — respondeu. — Estamos tentando rastrear aquele helicóptero que a levou, mas por enquanto nenhuma atualização.

Aleksei mordeu o lábio inferior, sentindo vontade de gritar.

— Porra! — afirmou, o que surpreendeu a ele mesmo. — Nós precisamos de uma vitória, e precisamos que ela seja urgente!

*

Samuel estava sentado no sofá da casa de Aluísio, olhando fixamente para um vídeo de música POP que passava na TV. Ele se sentia péssimo, xoxo, capenga e descompensado. Aquele não era um tipo de humor a qual estava acostumado.

— Você tá cada vez pior — reclamou Aluísio, o tom da voz deixando claro o quanto estava frustrado com aquela situação. — Desembucha logo, o que aconteceu?

Não havia um código de ética escrito sobre ser um segurança mafioso, mas uma das regras não escritas falava exatamente sobre manter segredo do seu trabalho — principalmente se você está fazendo algo objetivamente ruim. Mas, naquele momento, Samuel sentia que explodiria se não dissesse algo.

— Eu fiz uma coisa errada — desabafou. — Tipo, muito errada mesmo, e agora tô me sentindo mal por isso.

— Errado do tipo que pode causar mal a alguém? — Aluísio questionou.

— Errado do tipo não ser perdoado nunca!

— Mas você já fez algo assim antes? — o rapaz questionou, o encarando com curiosidade.

— Não, nunca, eu não sou assim!

Realmente havia muitas coisas duvidosas que Samuel já havia feito — nenhuma delas o arrependia, vale ressaltar —, mas traição, com toda certeza, não entrava nessa lista.

— Então como pode ter certeza de que seria imperdoável? — Aluísio indagou, cruzando os braços. — Você precisa conversar, com quem quer que tenha errado... E talvez juntos vocês possam resolver isso!

Samuel suspirou — ele estava fazendo muito isso ultimamente — e disse:

— Você é bom de conversa mesmo. Quer pedir algo pra comer?

— Aparentemente comida é a única coisa que vou colocar na boca essa noite, então quero sim.

Eles pediram pizza.

KravtQuim - Máfia e Pão (Romance gay hot)Onde histórias criam vida. Descubra agora