Capítulo 4 - SEMENTES

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Joaquim desceu do carro do lado de fora da mansão dos Kravtsov e ficou cinco segundos em silêncio, olhando boquiaberto para tudo o que conseguia ver sem nem mesmo entrar na propriedade.

— Tô com vontade de fazer xixi — a voz de Rebeca surgiu, fazendo com que ele saísse de seu transe.

— Espera um pouco!

Ele seguiu andando até o portão, tomando cuidado para não tropeçar em um paralelepípedo solto e jogar no chão as vasilhas e as sacolas que estava carregando. Ele parou em frente ao interfone e antes mesmo que pudesse apertar o botão, uma voz surgiu no pequeno alto-falante.

— Identifique-se!

— Joaquim — respondeu, como se só isso explicasse alguma coisa. — Eu sou o padeiro!

Primeiro houve um chiado saindo do interfone, logo em seguida o portão se abriu. Joaquim se viu sendo encarado por um homem alto usando terno, calça social e grava preta e camisa social branca. Quando ele e a irmã passou pelo portão havia outros seguranças, um e outro parado no que parecia ser um ponto estratégico, outros andando calmamente pelo espaço gramado, com fones de ouvido que lhe davam a aparência de um produtor musical em dia de show.

Mas a visão da mansão tomou o espaço que os seguranças haviam assumido em sua mente. Era uma casa de três andares que se estendia de um lado ao outro como se fosse interminável, a pintura branca com cara de recém-feita e algumas paredes de vidro escondiam o interior com cortinas com aparência de (muito) caras.

— Joaquim... — Rebeca reclamou mais uma vez e ele se sentiu muito culpado mesmo.

— Onde eu devo ir? — ele questionou a um dos seguranças e eles foram guiados até a entrada traseira da cozinha.

Era um espaço amplo, com eletrodomésticos de inox e um grande balcão com tampo de mármore escuro. Joaquim quase sentiu dó de pisar no chão de porcelanato limpo, com cara de imaculado.

— Bom dia — Felipe disse, causando um susto nele.

Joaquim se virou, o vendo sentado junto a uma mesa no canto.

— Bom dia — ele respondeu rapidamente. — Perdoa a invasão, mas será que minha irmã pode usar o banheiro?

— Claro — Felipe se levantou em um piscar de olhos.

Depois de uma semana Joaquim já havia se esquecido totalmente do quão alto ele era. Seria um super poder em uma cidade com mais pés de manga.

— O banheiro de serviço fica aqui do lado — ele andou até uma porta que levava um pequeno corredor e apontou o local para Rebeca. — Fique a vontade!

Joaquim se deu a liberdade de colocar sobre o balcão as caixas e as sacolas.

— Desculpa trazê-la, hoje é feriado municipal então ela não tem aula, e minhas tias vão com o food truck pra uma feirinha — ele foi logo se explicando. — Mas ela é quietinha, não vai mexer em nada.

Algumas pessoas conseguem mentir tão naturalmente.

— Tudo bem, meu sobrinho também está em casa, ela pode brincar com ele — Felipe respondeu.

— Escolas particulares também aderem a feriados municipais? — a pergunta escapou antes mesmo que ele pudesse pensar sobre isso, como se estivesse conversando com os amigos e não com o ricaço que estava contratando seus serviços.

— Nikolai estuda na escola pública também — ele respondeu calmamente, como se fosse normal que seus empregados se metessem em sua vida. Se fosse assim, Joaquim não acharia ruim. — Ele é autista e a maioria das escolas particulares não aceitam crianças que precisam de professor de apoio.

KravtQuim - Máfia e Pão (Romance gay hot)Onde histórias criam vida. Descubra agora