Mais Lembranças

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Darling please don't go.
When I read the letter you send, it made me mad mad mad
When I read the news that it brought me, t made me sad sad sad.
But I still love you so, I can't let you go
I love you- ooh baby I love you...

(D'yer Mak'er - Led Zeppelin)

POV – Logan

"Não sei, não, Logan. Acho que você vai ficar encrencado!", choramingou Lindsay, em meio a um acesso de tosse.

"Não me importo, você precisa comer!", disse, enquanto balançava orgulhoso num dos dedos a chave que tinha roubado do pescoço do bêbado esborrachado no sofá. "Você não está com fome?", perguntei enquanto abria o cadeado.

"Um-hum", disse Lindsay balançando a cabecinha afirmativamente. Seus cabelos ruivos caiam sobre os ombros com o movimento, seriam lindos se não estivessem sempre sujos e mal cortados, a não ser durante a visita da assistente social. "Mas estou com medo. Joseph vai bater em você se acordar."

"Então eu acho que você não quer esta deliciosa maçã que achei aqui, não é?", disse, passando a maçã em várias direções diante do nariz dela. Os olhinhos de minha amiga acompanhavam o movimento de minha mão, como se estivessem hipnotizados pela fruta. Finalmente, o cheiro gostoso fez com que a fome vencesse o medo e ela começou a dar as maiores mordidas que sua pequena boca permitia.

Joseph era o lixo humano que se autointitulava nosso "pai adotivo". Ele e sua mulher, Barbara, cuidavam de cinco crianças, incluindo Lindsay e eu, em troca de uma pensão que o governo lhes oferecia por cada um de nós. É só que "cuidavam" queria dizer, quando não havia nenhum assistente social por perto, que eles nos deixavam dormir em camas nojentas, cujos lençóis raramente eram trocados; davam-nos apenas comida necessária para não morrermos de fome; e garantiam que mantivéssemos a casa deles limpa. Não que cinco crianças de 5 a 12 anos fossem boas faxineiras, mas, afinal, éramos em cinco e prezávamos pela integridade de nossos ossinhos. Então, dávamos nosso melhor.

A maldita chave era o objeto mais cobiçado por todos nós. Pelo cadeado que ela abria, podiam-se desvendar todos os maravilhosos segredos escondidos na geladeira branca e enferrujada que, para mim e Lindsay, parecia a coisa mais enorme e atraente do mundo. Meses depois, na primeira vez em que vi uma geladeira sem cadeado, achei que havia algo errado com ela. Minha nova "mãe" me contou que geladeiras normais não tinham cadeado, e que as pessoas deveriam poder comer à hora que quisessem. De fato, podiam, se conseguissem sair de seus quartos trancados e se esgueirar pela cozinha sem atrapalhar os "convidados" que se divertiam com drogas e sexo na sala. "Não diga nada ou vai engolir esse cigarro aceso", disse-me ela no dia em que me pegou depois de arrombar a fechadura. Mais longos meses de tortura começavam para mim ali.

Mas antes disso havia Lindsay. Eu tinha seis anos e ela, cinco e morávamos com Joseph e Barbara desde quando podíamos nos lembrar, o que não era muito. Havia mais três garotos na casa, mas eles cuidavam de si, unindo-se ocasionalmente contra o mal maior, mas não querendo ter que se preocupar com os pequenos que não podiam realmente ajudar e só davam trabalho.

Sem ninguém por nós, Lindsay e eu acabamos nos tornando inseparáveis e eu ficava feliz por ter a quem proteger. Já que ninguém faria isso por mim, ao menos eu podia fazer por ela. Nós nos esforçávamos para fazer os trabalhos domésticos, embora eu acabasse fazendo quase toda a parte dela, e nos mantínhamos fora de encrencas. Mas, naquela semana, Lindsay começou a ficar doente. Mark, o "irmão" mais velho, disse que se ela comesse ficaria melhor, então eu transformei a chave no pescoço de Joseph no maior propósito que podia governar a mente de um garoto de seis anos.

Finalmente, depois de três dias esperando a oportunidade certa, vi Joseph cair num sono profundo depois de encher a cara enquanto Barbara visitava uma amiga. Movi-me como um gato, treinando pela primeira vez as habilidades que me seriam úteis muitas outras vezes mais tarde na vida. Girei a corrente no pescoço dele com todo cuidado até o fecho ficar visível. Então, eu a roubei. Se é que se pode roubar algo que deveria ser seu.

A Hospedeira - Coração DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora