Retorno

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And I will love you, babe, always

And I'll be there, forever and a day, always

I'll be there till the stars don't shine

Till the heavens burst and the words don't rhyme

I know when I die, you'll be on my mind

And I love you, always

(Always - Bon Jovi)


POV – Peregrina

Os inícios e os finais sempre se pareciam. Não havia propósito em tentar distingui-los.

Novamente, eu flutuava no azul. Um azul intenso e flamejante que perfurava a neve, onde as eras se encontravam como os ponteiros de um relógio. Meia-noite. O universo era neve, safira e meia-noite.

O azul me confortava. Eu flutuava, mas estava presa a ele, a essa cor que penetrava em quem eu era e me definia, a esse amor que me envolvia num abraço. Ora revolto. Ora calmo. Sempre profundo. Como o mar. Infinito.

Meu peito ardeu à lembrança do amor. Então eu tinha um coração para doer? Era intenso. Perturbador. Era bom. Era sempre estranho e paradoxal ser um humano.

Os corpos também pareciam iguais, distinguíveis apenas por sua ausência. Músculos, nervos e ossos conectando-se sob a pele. Em breve, eu poderia senti-los novamente. Nada profundamente diferente de outros despertares. Mas então havia as emoções. A força implacável que movia os corpos: os sentimentos, a identidade, a memória. E havia tantas memórias chegando, com tamanha força, que ameaçavam me romper.

Eu era uma jovem humana. Um corpo vibrante e poderoso impulsionado por um temperamento forte e determinado. Melanie. O espírito indomável. Um amor profundo penetrando em minha essência e me movendo para além de qualquer limite. Jared. Jamie. Melanie me deu uma família.

Eu era também Pet, e tinha as emoções brandas de uma Alma jovem demais, quase infantil. Um coração inabitado até que foi tomado, consumido, modificado em sua essência. Eu era Peg então. Era esse meu nome? Algo corria dentro de mim, incessante. O fluxo da rocha incandescente. Estava feito agora. Tudo estava mudado praa sempre. Natural, profundo e imutável como se tivesse sido sempre assim. Eu pertencia a Ian.

Ian.

Então era aqui que estava meu sangue. Eu podia senti-lo agora, fervendo sob minha pele, o desejo urgente me fazendo redescobrir minhas veias. Eu precisava estar com ele. Onde estavam minhas mãos? Os músculos sob esta pele em chamas? Siga o calor. Siga o frio.

— Peg? Peg, acorde, querida. Eu preciso que você acorde. Eu preciso de você – disse a voz que me fez redescobrir meus ouvidos, profunda, caudalosa, suave.

Continue falando. Senti tanta saudade. Eu pensei... Eu pensei que nunca mais fosse te ouvir. Que nunca mais poderia te ver. Eu esperei durante meses. Mas ainda não.

Eu era Estrela então. Uma Alma ávida e verdadeira, tomada pelo encanto de sentir. Apaixonada pelas sensações que não eram minhas. Um vislumbre de Jared, de quando tudo em mim ansiava por ele. Mas este corpo ansiava por Ian. Meu coração se contorceu dentro do peito e uma lágrima escorreu por meu rosto, mostrando-me o caminho para as próximas. O toque suave dos lábios de Ian a colheram. Eu conhecia aquele toque, conhecia aquele gesto. De quando eu era Peg e tudo aquilo me pertencia.

Ninguém me preparou para a solidão. Para o abismo sem fim que me separava da felicidade. Eu estava preparada para a dor, mas não para o vazio, para a saudade. Aquele era um tipo totalmente diferente de suplício. Ausência era algo profundamente escuro.

A Hospedeira - Coração DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora