Antagonistas

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No one knows what it's like, to be the bad man

To be the sad man, behind blue eyes

No one knows what it's like, to be hated

To be fated, to telling only lies

But my dreams they aren't as empty

As my conscience seems to be (...)

No one knows what it's like

To feel these feelings

Like I do

And I blame you

(Behind Blue Eyes - Limp Bizkit)


POV – Logan

Eu não teria apostado que seria fácil me adaptar à nova vida. Não que rotina, calmaria e trabalho pesado fossem problemas para mim. Quando se é uma Alma, os gestos cotidianos que visam o bem comum são mais do que bem-vindos. Eu apenas não achei que seria fácil me adaptar à presença dos humanos. Nunca pensei que conseguiria ou mesmo que tentaria entendê-los.

No entanto, eu me pegava constantemente dando asas a um estranho impulso de observar atentamente tudo o que eles faziam, suas expressões, seus sentimentos, o porquê por trás de suas ações...

Eles também nos observavam e pareciam movidos pela mesma curiosidade. As conversas após o jantar, um hábito que Jeb tinha manipulado muitos a cultivarem para ajudar na aceitação de Peg, tinham voltado. Porém, Peg me explicou que essas conversas tinham se tornado bem menos unilaterais com o passar do tempo.

No começo, ela tinha me dito, eles faziam muitas perguntas, mas com o tempo passaram a contar coisas sobre seu passado também. E eu estava me apaixonando pela paradoxal simplicidade do enigma que eles representavam.

Era instigante e perfeito ver com que facilidade as peças se encaixavam quando você aprendia a entendê-los. Tão pretensamente confusos nas teias que se formavam entre seu passado e suas ações presentes. Tão sincrônica e vívida a maneira com que cada emoção era uma resposta às atitudes dos outros. A vida com eles era como uma dança intrincada e harmônica.

Quando entendi isso, aprendi a agradá-los. Eu sabia o que dizer, como agir, quando responder com palavras ou onde se encaixaria melhor o silêncio. Foi fácil fazer com que a tolerância deles por mim passasse rapidamente a algo mais natural e espontâneo. Eu já podia quase dizer que tinha amigos.

Melanie e Doc, por exemplo, eram compassivos e agradáveis e eu gostava de ficar perto deles. Gostava de Jared, porque apreciava a dignidade orgulhosa por trás de suas palavras e ações. Achava divertida a maneira honesta e espontânea que Jamie tinha de lidar com as coisas. Gostava do jeito assustado de Heath e dos sorrisos cúmplices de Lily. Sentia-me confortável com o senso de normalidade que Geoffrey e Trudy davam a tudo. E, claro, havia Jeb. Aquele velho maluco e brilhante de quem eu tinha gostado desde o primeiro dia.

Pela primeira vez, eu conseguia entender o que havia de tão precioso nas lembranças de Peg, que fez Estrela se apaixonar por este lugar e Sunny nunca tentar sair.

Eu mesmo já não me imaginava longe daqui, e quando eu e Estrela nos fechávamos em nosso quarto no fim da noite, uma pequena caverna que tínhamos herdado de duas garotas que se mudaram para a célula de Nate, eu sabia que, embora parecesse uma loucura para alguém como eu, esta era a vida que finalmente nos faria felizes.

Mas é claro que nem tudo era perfeito nesta nossa vida pretensamente idílica. Muitos continuavam fazendo seu melhor para nos ignorar. Outros tantos tentavam, embora não funcionasse, nos hostilizar com comentários irritantes e olhares atravessados. Eu não me importava seriamente com nenhum deles. Não era eu que teria que passar a vida me vestindo com as roupas e me alimentando com a comida trazida por aqueles que eu desprezava. Era patético e, de minha parte, nada digno de nota.

A Hospedeira - Coração DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora