Irmãs

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Tick tock hear my life pass by

I cant erase and I cant rewind

Of all the things I regret the most I do

Wish I'd spent more time with you

Here's my chance for a new beginning

I saved the best for a better ending

And in the end I'll make it up to you, you'll see

You'll get the very best of me

(One Day Too Late - Skillet)


POV – Peg

Já era o oitavo dia desde a minha volta e Ian ainda só conseguia adormecer se estivesse enrolado a mim, como uma grande criança agarrada ao seu cobertor.

Quando por qualquer motivo, eu, sem perceber, me afastava de seu abraço, ele acordava imediatamente, ofegante, assustado, confuso. Então eu acordava também e o abraçava novamente, colocando sua cabeça sobre meu peito para que pudesse afagar seus cabelos. Em poucos segundos, sua respiração se acalmava e ele voltava a dormir um sono, ainda assim, atribulado.

Era uma novidade para mim ver Ian desse jeito, tão vulnerável. E isso me deixava assustada. Mas, por mais que me esforçasse, eu não podia nem começar a compreender o que tinha se passado com ele durante o tempo em que estivemos afastados. Tempo que quase o tinha destruído.

Como sempre, ele tentava me poupar de tudo e se recusava a falar sobre sua dor quando percebeu que eu queria toma-la para mim. Era o que eu faria se pudesse, mas é claro que não podia.

— Está tudo bem – ele dizia. – Não precisamos falar de coisas que já passaram. Não foram tempos sobre os quais se queira falar aqui. Deixe isso pra lá, Peg. É melhor que pra você tudo não passe de um sonho ruim.

E era isso que parecia, um sonho ruim. Exceto pelo fato de que os efeitos dele permaneceram "ecoando" nos outros à minha volta e, portanto, também em mim, mesmo que fosse difícil entender a exata dimensão do sofrimento de Ian ou dos demais, até mesmo do de Estrela. Para mim, isso tudo era como se eu tivesse ido dormir um dia e sonhado que era outra pessoa.

Por outro lado, ainda que fosse uma memória confusa e envolta numa aura de pesadelo, eu me lembrava de "morrer". E me lembrava de ter temido a morte dos que estavam comigo. E mesmo já tendo sentido esse pavor, meu coração nem chega a conceber o que seria de fato ter perdido um deles.

O que seria ter perdido Ian e sobrevivido a isso? Minha mente sequer consegue assimilar o horror daquele momento, muito menos formular o efeito que isso teria sobre mim a longo prazo. É difícil até imaginar que haveria um "longo prazo" diante da devastação que a ausência dele me deixaria. É seguro deduzir que isso teria me destruído, varrido minha sanidade, despedaçada em milhares de minúsculos pedacinhos, para algum lugar ainda mais inóspito que o deserto.

Quando me convenci disso, percebi que a vulnerabilidade de Ian, passageira como todas as suas tempestades, não podia ser traduzida em uma impressão de fragilidade, mas era, sim, sua fortaleza natural sendo restaurada. Ele tinha sobrevivido a algo que teria facilmente me destruído, porque ele era mais forte do que eu. Sempre seria. Esse homem que era meu amor, minha âncora, a sombra sob a qual eu descansava.

Ele só precisava de um tempo. Precisava que eu fosse a sombra dele agora. E que aguardasse pacientemente — mesmo que esperar fosse doloroso — que a vida voltasse lentamente a seus olhos outrora tão ardentes. Mesmo assim, eu queria que houvesse um jeito de entender sua dor e que, entendendo-a, eu pudesse erradicá-la. Porque, simplesmente, vê-lo assim me punha num estado muito próximo do desespero egoísta, algo a que eu não estava acostumada.

A Hospedeira - Coração DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora