– Eu sinto muito Harry.
– Por favor. Eu dediquei parte da minha vida nesse livro.
– Você sabe que não é assim que funciona. Não posso fazer muito com essa coisinha que você escreveu. – ela disse enquanto levantava-se para pegar uma caixa de manuscritos de dentro do armário. – Aqui estão todos os seus livros que foram negados nos últimos anos, todos com a mesma carta e nada mudou. Volta aqui com algo diferente Harry e eu tenho certeza que vou fazer o melhor pra que isso aconteça.
Ele a olhou quase sem acreditar. Apoiou os cotovelos na mesa tentando ler as cartas que se amontoavam dentro da caixa amarela.
– "Previsível demais. Sabia que ela ia morrer no final pelo jeito com que ela falava insistentemente sobre o quanto a vida poderia ser breve quando tudo dava certo. Nós temos um padrão aqui, Styles?" – Harry leu, sorrindo no final. – Se eu escrevesse sem mortes? Nós podemos mudar. Eu não sei.
– Não é sobre as mortes. – ela insistiu. – É sobre o enredo. Bota essa cabecinha genial para algo que valha a pena ser lido. Tenho certeza que você consegue.
– Como consegue ser tão otimista? – Ele afundou as costas na cadeira.
– Você é o melhor colunista que existe. As pessoas gostam das suas opiniões sobre os livros mesmo sem saber o cara lindo que as publica. Devia aprender mais com tudo que você critica mensalmente.
– O leio todas as coisas que me mandam ler e essas coisas todas estão por aí, espalhadas em grandes livrarias, com grandes posters e filmes bem produzidos. Por que eu não consigo fazer melhor? Eu sei que eu sou bom...
O som estridente dos telefones da sala começaram a tocar incessantemente. Observou-a andar de um lado para o outro com o aparelho móvel encostado entre o ombro e o ouvido, folheando algo bastante importante espalhado dentre os inúmeros papeis na mesa. E ficou ali por mais uns minutos folheando, querendo apenas voar para outro lugar ou esconder-se dentro de um enorme buraco.
– Não basta ser bom. – ela quebrou o silêncio, levantando da mesa com algumas pastas na mão. – Me desculpa, Harry. Te vejo depois?
Ela abaixou próxima a ele dando um pequeno beijo em seu rosto.
Harry assentiu saindo da sala atordoado. Tinha perdido mais uma vez e não sabia lidar com o rumo que tudo tomava. A cada dia que saia daquele prédio, com mais cartas negativas, um pedaço dele ficava lá dentro. Por um instante pensou se estaria certo sobre querer ser escritor, pois não conseguia decifrar a felicidade estampada no rosto ou o porquê de nos apaixonarmos. Nem havia experimentado amar, além de um amontoado de folhas, como poderia escrever sobre o amor se não sabia o que era?
[...]
Em uma rua vazia, continuou sentando no carro. Os vidros da janelas ainda turvos e ainda com resquícios da chuva de mais cedo. Enquanto ficava ali, sentindo o vento quente do aquecedor, fechou os olhos.
Com o coração batendo tão forte como se estivesse corrido por todo o caminho, sentindo a respiração descompassada quase lhe rasgar o peito. Repetia para si mesmo que tudo ficaria bem, mesmo convencido de que não, nada ficaria bem.
Saiu do carro, pisando firme no chão e batendo a porta do carro. Quando virou a esquina, quase tropeçou em uma de muitas mesas na calçada. Sentou em uma delas, esquecendo-se de deixar a mochila dentro do carro e a largou no chão.
Tentou chamar algum garçom, mas qualquer esforço parecia ineficaz para chamar atenção de alguém. Harry sempre perguntava se era normal sentir–se nervoso ao pedir alguma coisa, ao falar com alguém novo, ao estar parado esperando por uma xícara de café. Odiava sentir que se esforçava demasiadamente por uma tarefa que parecia tão corriqueira.

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your eyes // ls
FanfictionHarry é um escritor que sonha em ter um livro oficialmente publicado. Louis é apenas um estudante de História que trabalha em um café na esquina. Harry não sabe lidar com o mundo. Louis acha que o tem nas mãos.