Harry abriu a porta esperando que Louis entrasse.
Os cômodos eram brancos, com livros empilhados por todos os lugares até na pia da cozinha, como se estivessem em um amontoado de livros velhos em uma caixa de sapato. No chão havia várias velas espalhadas, umas ainda inteiras e outras apenas com vestígios de que foram queimadas durante a noite. O cheiro forte de framboesa quase o deixou enjoado.
Evitou sorrir quando o viu desconcertado tentando arranjar um espaço no sofá para que pudesse sentar. Aquele lugar parecia uma zona e por algum motivo achou encantador. Louis pensou que talvez tratasse de um solitário ou um tanto louco, mas manteve-se em silêncio, sentando no sofá em meio às pilhas de livros.
Ficou parado ali, observando Harry sair da sala e vasculhar o armário da cozinha. O olhou mais uma vez e percebeu que havia mais livros dentro do armário também.
Quando voltou, ajoelhou próximo a ele, segurando uma caixinha de madeira com vários remédios. Harry segurou as mãos mais uma vez e sussurrou "Shh! Não vai doer nada" como se Louis fosse uma criancinha. Limpou os cortes com álcool, assoprando cada um a cada som estranho que saía da boca dele.
– Isso doí. – Louis resmungou.
– Calma Louis. Já vai acabar.
Harry enfaixou as mãos pequenas, o olhando nos olhos, ainda meio perdido e sem entender o porquê. Seu coração não batia rápido, nem suas mãos tremiam e nada dele parecia anormal, apenas sentiu paz pela primeira vez na vida e isso parecia bom.
[...]
A chuva caía. O céu antes claro havia ficado tão negro como a noite sem estrelas. Harry correu pela casa a fim de certificar-se que as janelas estavam bem fechadas, o deixando ali sentado entre duas torres de livros antigos e uns nem tanto assim. Louis ainda analisava a capa de cada um, na imensidão tortuosa de tantos livros espalhados pela sala. Viu de A Culpa é das Estrelas até Shakespeare. Todos tinham folhas e mais folhas dentro como se fossem marcadores.
Harry foi até a cozinha e procurou por chá. Presumiu que Louis odiaria se fizesse café, uma vez que trabalhava em um. Tentou achar suco pela geladeira, mas havia vários litros de suco de laranja abertos, que tinham cor de urina e também achou que seria ruim oferecer aquele negocio nojento.
"Não, Harry. Tente não ser estranho dessa vez."
Andou com as duas xícaras de chá na mão e o entregou.
– Você pode ficar aqui enquanto a chuva não passa. – ele disse enquanto sentava no chão.
Harry tentou descrevê-lo mentalmente como parte do exercício diário. Olhou sem vacilar cada detalhe de seu rosto magro. Os olhos azuis, os cabelos penteados para cima e o quanto o seu moletom parecia ser maior do que o corpo. Apesar de tentar não olhar, prestou atenção na escuridão embaixo dos olhos, como se o cansaço estivesse pensando em seu olhar. Momentaneamente, perdeu-se em pensamento.
– Até parece que você fez de propósito.
– O quê?
Harry o olhou confuso.
– Era só pra ser um curativo, então você me deu chá e agora está chovendo. Parece que você arrumou tudo isso pra me sequestrar. Eu posso ligar para a minha mãe antes? Eu preciso me despedir... – Louis disse, logo depois percebeu que o outro ainda o olhava confuso, pálido como mármore. – Ei, ei... Calma. Estou brincando.
– Oh... Eu sei, é que... É Londres, chove todo dia.
– Uma merda de cidade.
Deu de ombros, encostando a cabeça no sofá.
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your eyes // ls
FanfictionHarry é um escritor que sonha em ter um livro oficialmente publicado. Louis é apenas um estudante de História que trabalha em um café na esquina. Harry não sabe lidar com o mundo. Louis acha que o tem nas mãos.