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Harry acordou sozinho na madrugada com a cabeça a latejar como um gongo de relógio. Olhou de relance ao celular, ainda debruçado em cima da cama, sentindo o corpo pesar e a tudo parecer sem desfocado. Eram 3 da manhã e uma mensagem de Louis brilho na tela de desbloqueio.

"Eu gostei. "

Levantou-se, tateando no escuro para ligar a luz do quarto. Um silêncio cercou seu apartamento como se nada no mundo existisse ao seu redor, sem ruas com pessoas gritando pela calçada ou sons de sirene a tocar pelo quarteirão. Pegou uma aspirina largada no meio das anotações, bebendo um pouco de água e deitando-se na cama. Como poderia acreditar que tinha beijado Louis? Nem sabia como responder. E tinha se perguntado a cada minuto enquanto voltava pra casa, com a cabeça flutuando e os pensamentos soltos pelo ar. Fechou os olhos. Os olhos azuis pareciam penetrar em cada pensamento de Harry como se fosse à última memória de sua vida inteira. Se fosse possível, queria esquecer qualquer resquício do passado só pra ter mais espaço pra pensar em Louis e somente nele.

[....]

Louis não conseguiu resistir em pensar na sensação que era ter os lábios de Harry junto do seu. Começou a olhar para o enorme quadro, vozes por toda a sala e um enorme ruído de risadas ao fundo, tudo em câmara lenta, como se estivesse em uma bolha transparente onde só podia sentir o gosto da batata frita e o ar gelado da boca de Styles.

– Louis! – Charlie o cutucou no pescoço. – Tudo bem?

Virou-se imediatamente, quase esquecendo onde estava ou que diabo fazia sentado ainda na sala quando não havia mais ninguém.

– Sim. – murmurou.

– Não parece. – Charlie podia não falar com Louis todo o tempo, mas se existe uma coisa que ela aprendeu durante os dois anos e meio que ela estudava com ele, era que Louis William Tomlinson em silêncio, era sinal de perigo. – O professor falou que foi a Cabo Verde de novo e disse que lá eles falam inglês fluentemente.

– E daí? – Louis se deu conta da informação ficando vermelho e escondendo-se dentro do livro. – Ele é um idiota! Mesmo sabendo que ele faz essas piadas de propósito e só pra me chatear....

– Eu sei! O que aconteceu? Você nunca deixa passar quando ele fala algo errado. –Ela deu uma risadinha, dando um empurrão no ombro dele. – Quase 50% do tempo.

– Charlie... Eu tenho algo pra te contar. Eu acho que nós temos intimidade o bastante pra dividir alguns segredos.

– Louis... Eu só falo com você. Será que dá pra falar logo ou eu vou ter que chamar o Brian pra te desembuchar?

– Brian pode fazer qualquer coisa comigo. – Louis sorriu. – Eu conheci um cara no café onde eu trabalho. La em Soho.

– E....

Quando imaginou a cena de como conhecera Harry, sentiu-se ainda mais vermelho por fora e uma pintada de incomodo no estômago. Então sorriu mais uma vez, tentando formular frases sobre ele sem atropelar-se nas palavras. Eu estou ficando um bobo.

- O nome dele é Harry. E eu derrubei a minha bandeja com louças caras todas no chão, tipo um babacão. - Louis escondeu o riso com a mão. - Como se não bastasse, eu cortei as minhas mãos e um caco de vidro quase faz um buraco nessa aqui.

Ele estendeu a mão para Charlie, que deixou os óculos cair até na ponta do nariz, examinando a cicatriz na pequena mão.

– Você é estúpido. – ela deu uma risada. – E o que mais?

– Ele me levou pra casa dele, fez chá e curativo.

– Vocês se casaram? Louis, o que você está me dizendo é algo maravilhoso! Um cara que me leva pra casa e me mima desse jeito.... Quase sonho.

– E tem mais... Ele tem cabelos longos, olhos verdes e é alto.

– Ele é mais bonito que o Brian? – Charlie levantou a sobrancelha esquerda como se estivesse realmente interessada em saber. – Que bom que você está superando esse babacão que luta box. Olhou pro olho dele hoje?

– Harry é muito mais bonito do que o Brian e tenho certeza que mais inteligente também, mas quem sabe? O que eu quero dizer, é que ele é incrível, Charlie. Eu não sei explicar. As coisas aconteceram tão rápido que....

– Você tá me dizendo que casou e quer que eu seja sua barriga de aluguel? Eu não estou preparada para a maternidade.

– Cala a boca Charlie.

A risada dos dois ecoou pela sala vazia.

– Nós nos falamos durante esses meses, ele é bem diferente de qualquer um que eu já conheci. – e revirou os olhos. – Outro clichê. E ah... Ele mora sozinho, é escritor e é a coisa mais tímida que eu já conheci. Mas é adorável.

Recordou das risadas que sempre gostava de ouvir quando conversava com Harry quando o visitava. Pensou no quanto era fácil conversar sobre livros, personagens ou comida. Não que fosse difícil para Louis falar durante todo o tempo, mas era como se ele pudesse ser um livro aberto pra Harry, mesmo com pouco tempo de convívio.

– Você não é o Louis.

– Charles... – ele suspirou. – Eu tô parecendo uma menininha, não é? Droga. Odeio essa baboseira romântica. Deixa pra lá, vamos logo sair daqui antes que eu acabe recitando Shakespeare e fique louco de amor.

Charlie começou a reunir os livros dentro da bolsa, enquanto Louis parecia devanear em meio aos pensamentos de como era bom estar perto de Harry.

– Eu vi vocês dois no estacionamento. – Charles levantou da mesa, esperando que ele acompanhasse. – Você está assim por que ele te beijou.

– Harry é incrível.

Ela o olhou com a testa enrugada.

– Qual o problema?

Louis posicionou a mochila nas costas, encostando a cabeça no ombro da amiga e envolvendo os braços ao redor de sua cintura, andando lentamente pelos corredores vazios.

– Eu sou Louis Tomlinson. Esse é o problema. Eu faço uma bagunça na vida das pessoas, eu não sei ser maduro ou não sei o que é amor. E por algum motivo eu acho que o Harry é o ser que mais precisa de amor nesse mundo. Tô sendo emotivo demais?

– Sim. – Charles, como bem ele a chamava, o olhou nos olhos antes de ir embora. – Nós não damos amor, Louis. Nós o fazemos florescer. Não culpa sua toda aquela situação com o Stan.

– Charlie.

– Para de dizer meu nome. – ela sorriu. – Olha só, você conheceu alguém de verdade. Carne e osso. E que te trata muito bem, mesmo sem nem ter conhecido você antes.

– Eu sei, mas...

– Tantos "mas" Louis! É só um garoto. Você vai lá, o beija de novo e vê no que dá. Sempre funciona.

– Ele não é... Tudo bem Charles. – Louis a abraçou. – Obrigado.

– Sério? Você não é mal, Louis. Você é sarcástico, brincalhão e um pouquinho imaturo sim, quem no mundo é maduro totalmente? É o que você é. Não deixa nada de ruim que aconteceu lá atrás atrapalhar as coisas boas que acontecem agora. Agora é sua vez de beijar o Harry.

– Ele me beijou primeiro.

– Não deixe o coitado esperando. – Charles sorriu, dando um beijo na bochecha de Louis e indo em direção ao dormitório.

your eyes // lsOnde histórias criam vida. Descubra agora