5.

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O frio quase congelou os ossos de Louis. Concordou que não poderia pegar mais livros naquela semana, uma vez que, as provas se aproximavam e o professor de África com certeza o devoraria vivo por qualquer reposta fora de ordem, o fazia escrever 5 laudas obrigatórias e Louis odiava tanto escrever tanto quanto o odiava.

Stan já estava na cama debaixo com os fones no ouvido e gritando algo que parecia com "Linkin Park".

Cala a boca Stan. – Louis disse tentando fazê-lo parar, sem resposta. – Stan, silêncio. Você não é Mike Shinoda, seu britânico de merda.

Louis revirou os olhos. Stan era o tipo de garoto irritante que todos gostavam menos Louis. Os dias naquele dormitório haviam ficado cada vez mais irritantes com Stan. Ele trazia garotas e transava com elas debaixo de Louis, enquanto lia e fingia que nada acontecia. Certo dia, ele tinha trazido uma garota chamada Alexa, ela era morena e baixinha como um boneco. Seu rosto era redondo como uma bola de basquete, tinha uma bunda empinada e falava "Merda" a cada dois segundos.

– Merda, Stan. Enfia. – ela dizia. – Merda, cadê a camisinha? Merda, merda, merda. Goza fora, seu...

Merda.

Sabia que era irritante por motivos que conhecia profundamente, mas sempre fingia não saber.

Louis levantou-se da cama ainda zonzo. O quarto ainda estava escuro. Pela janela, um enorme gramado verde estendia-se coberto de alguns flocos de neve. O inverno havia chegado. Pegou o celular e se assustou ao olhar que já era mais de 7 da manhã. Esfregou os olhos tentando clarear os borrões na sua visão. Quando pulou do beliche, Stan já estava sentado na cama de baixo, com os braços apoiados em cima das pernas e um olhar vago, como se estivesse tentando perfurar o chão. Não estava chorando ou muito menos com um fone no ouvido, era apenas Stan em completo desalento. Ele apenas parou tempo suficiente para falar bom dia para o companheiro de quarto, enquanto se arrumava para ir trabalhar, mas o outro não esboçou qualquer reação, muito menos disse alguma palavra.

– Tô meio atrasado, tá tudo bem aí? – Perguntou ele. – Stan? Aconteceu alguma coisa?

Insistiu, porém, nenhuma resposta.

Stan apenas se levantou. O olhar era vazio, andando rumo ao banheiro sem ter a menor certeza para onde estava indo. Pegou a toalha pendurada na porta, fechando-a logo após fazendo um enorme estrondo. Louis enrugou a testa quase sem entender o via diante de seus olhos. Stan nunca acordava tão cedo.

Desceu do ônibus. Ao chegar ao café, olhou para um lado e para o outro, mas não o viu. É claro, Harry não aparecia já fazia algumas semanas. A checagem rápida por um homem alto, de cabelos logos e pele pálida, quase estava virando rotina.

O frio aumentara, as mesas na calçada deram lugar a um cômodo lotado de pessoas abarrotadas de casacos de couro, gorros de lã e um terrível cheiro de pão quente. Pensou se talvez pudesse ir até o apartamento, levar um pouco daquele café estranho que ele tomava todas as vezes que ia lá ou pudesse apenas dar um "oi, por onde esteve?". Mas só pegou mais uma bandeja, desejando que aquele dia fosse tão agradável quanto os outros dias sem ele ou qualquer confusão com pratos quebrados.

[...]

Harry entrou no quarto na noite anterior quase sem forças algumas para ler qualquer coisa que tivesse enviado pelo postal. Abriu o notebook e o cursor era o único que o perturbava. Observou que o seu quarto era cheio de notas mentais as quais ele nunca usaria, mas se arrependeria se não as anotasse.

Escreveu sobre algo que havia pensado na semana passada sobre felicidade, mas depois apagou. Suspirou outra vez olhando para as paredes tentando procurar algo instigante o bastante e quis que a criatividade fosse um dom feito ou algo que fosse concreto, mas no fundo sabia que não. Mesmo que buscasse no fundo da sua mente rodeada de pensamentos aleatórios, nunca conseguiria falar a verdade através de suas histórias, pois não entendia o que era viver. Ele nem mesmo entendia o que era ser alguém amado ou aceito, como poderia ser um bom escritor?

A felicidade não mais parecia algo único e intenso como havia descrito em um dos post-its colados na parede. A felicidade, agora, mais parecia uma leve sensação a qual não se lembrava de sentir de forma plena. Tempos em tempos, Harry sentia uma leve faísca dentro de si, principalmente quando se perguntava sobre Louis. Apenas um leve pensamento sobre ele, o deixava feliz, mesmo que não entendesse seu real significado. Mas, se ser feliz fosse ainda melhor do que ele sentia quando Louis entrava pela porta da sua casa, com um livro na mão e rabiscos soltos, então valeria a pena busca-la.

Um sorriso formou-se em seu rosto de forma automática e riu de novo quando percebeu o quão bobo ele ficou. Então começou a descrevê-lo. E aquele cursor que antes parecia gritante, movimentava-se com graciosidade e todas as palavras eram sobre alguém praticamente desconhecido e que por algum motivo, o fazia sentir-se bem.

Na manhã seguinte, o céu escureceu em um cinza profundo e frio aumentara. Harry olhou para o relógio em cima do criado mudo, eram 7 horas e ele precisava de mais café. Ele queria continuar. Ele queria saborear da inspiração que era escrever pensando nele. Talvez ele pudesse buscar por mais café e vê-lo mais uma vez.

your eyes // lsOnde histórias criam vida. Descubra agora