10.

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Exatamente dois dias se passaram desde último encontro com Louis. Estar sozinho a essa altura, parecia tão mórbido quanto andar de roda gigante sem alguém do lado, mesmo que Harry afirmasse que ser solitário era a sina de um escritor, alguém decidiu mostrar-lhe o contrário. Sentou na lateral da cama, abrindo a gaveta onde começara a guardar todas as folhas que vinham dentro dos livros - algo que Louis apelidou de mini-artigos de opinião - que ele os devolvia. Olhou para elas, orgulhoso do quanto se acumularam ao longo dos meses. Às vezes, grifava o que de mais estranho ou de mais lindo Louis havia escrito. Uma das frases que mais gostava de ler era quando emprestou "Morte Súbita" e apenas quatro linhas rabiscadas em um guardanapo:

"Não pude gastar um papel do meu caderno pra escrever qualquer coisa sobre este livro a qual eu não entendi metade e não tive forças pra terminar. Beijaria o Bola. Um mais curto Harry! Monografia acabando comigo. Adoro você. "

Ou quando ele devolveu "Misery":

"Stephen King é realmente maravilhoso como escritor, eu concordo com a sua opinião Harry. Me assusta você gostar de alguém tão frio e escuro como esse velhote, uma vez que você é a coisa mais doce que eu já conheci. Voltemos ao problema.... Eu passei mil folhas com metáforas sobre pedra, mar, dor e remédios, eu não sabia mais onde eu estava ou o que diabos eu estava lendo. Mas, como todo livro que preste, ele fica bem do meio pro final. CUIDADO! Eu posso te sequestrar e fazer você escrever um livro só pra mim e te encher de jujubas no lugar de morfina. Todo amor, Louis."

Enquanto guardava a pasta dentro da gaveta velha de seu criado mudo, Harry sentiu uma pitada de dor no peito e um sorriso formar-se involuntariamente. È sim, esse é o Louis.

Não conseguiu mais parar de escrever naquela noite. Era como se seus dedos não fizessem mais parte do corpo cansado, com a vista turva e o coração a mil. Às vezes, não fazia a mínima ideia do escrevia e não se dava conta do quanto às mãos parecia movimentar-se cada vez mais rápido. Mas depois, quando revisava tudo, tentava não dormir com longas 20 páginas de palavras sem sentido ou frases sem pontuação correta.

Gostava de escrever sobre romances, coisas efêmeras como a paixão ou até a vida. Um gosto mórbido que lhe custava uma pasta cheia de livros negados pelas editoras e cartas empilhadas em uma caixa debaixo da cama. Porém, seu projeto novo era diferente. Talvez por que estivesse começado descrevendo Louis por inteiro e depois, as coisas tivessem fluído da melhor forma possível. Não que o beijo tenha dado gás a criatividade, isso ainda era um problema, mas de alguma forma tudo parecia mais fácil depois de vê-lo. Harry ainda não acreditava no que tinha feito. Sentiu quase como se estivesse se jogado de uma montada alta rumo a riacho - algo que pra ele é praticamente difícil devido ao medo de altura - porém, era mais ou menos assim. A sensação era boa. E não sentia mal nenhum pouco por isso.

Já era madrugada quando decidiu que era hora de dormir. Fechou o notebook, o depositando na mesa do quarto e pegou o celular de dentro do casaco. O cheio de baunilha continuava intacto no tecido grosso e o seu instinto foi colar junto ao rosto e respirar fundo o cheiro de Louis. E aquele sorriso formou-se em seu rosto da forma mais clichê possível. Mas era o melhor cheiro do mundo e não pode evitar em mandar uma mensagem quando se deitou na cama.

"Tenha bons sonhos Lou."

Para surpresa dele, Louis respondeu rapidamente a mensagem, o fazendo sorrir mais uma vez, encolhendo na cama.

"Só se eu sonhar com você! (um perfeito clichê que certamente você escreve nos seus livros)."

Era manhã de inverno. Não havia neve, mas o frio ficava cada vez mais insuportável de lidar do lado de fora do Campus de Louis. Harry carregava uma bandeja de papelão com quatro tipos de sabores de milk-shakes, pois quando decidiu levar algo, não conseguia sequer escolher qual gosto poderia agradá-lo. E levou um de morango sem calda, de chocolate sem lactose, de baunilha e um de frutas vermelhas. Eu sou patético, imagina se ele não gostar de nenhum desses sabores?

your eyes // lsOnde histórias criam vida. Descubra agora