Miami, 04 de Maio de 2024

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Catrina

Os treinos haviam sidos bons mas eu jamais me acostumarei a usar esse tom de azul. Tudo parece errado e nada combina.

Mas é claro que esse é o menor dos meus problemas.

Algumas meninas não sabiam que eu tinha uma tatuagem e sequer passou pela minha cabeça que o resto do mundo também não, a foto postada em meu Instagram viralizou de uma forma que agora todos me chamam assim. Acho que finalmente ganhei meu apelido na Formula 1.

The Red Dragon, Il Dragone Rosso, O Dragão Vermelho.

Soa imponente, mas não tenho certeza se gosto disso. Quero dizer, sei que a maioria das pessoas devem estar me chamando assim com a ideia de ser um grande nome, mas sei que parte está só curtindo com a minha cara. Como Leclerc.

- Julia, bom dia. - Ele disse assim que entrou na sala de reuniões.

- Bom dia Charles, animado hoje. - Julia riu.

- Trouxe Leo comigo, não tenho como ficar triste.

Eu entrei na sala logo atrás de Julia e vi o sorriso dele sumir.

- Bom, na verdade eu tenho sim como ficar triste. - Disse apenas para que eu pudesse ouvir.

- Leclerc. - Falei num cumprimento breve e educado.

- Dragone. - Ele me respondeu, sorrindo irônico logo em seguida.

Foi uma longa reunião.

A qualificação foi boa, mas quase ficamos fora do Q3 por erros com os pneus. No fim, Julia e eu largaríamos de P6 e P7, respectivamente. Tínhamos muito o que fazer na corrida de amanhã, a cobrança era grande para melhores desempenhos no campeonato porque, embora estivéssemos fazendo um bom trabalho e conseguindo pódios, precisávamos de vitórias.

Eu já havia ganhado uma vez, em Singapura, com a McLaren. A mesma corrida em que Carlos quebrou o jejum e a sequencia da Redbull. Mas nunca com a Ferrari.

Julia, antes da Ferrari, corria por uma Haas onde era muito difícil sequer marcar pontos. Ela nunca tinha vencido nada.

Precisamos vercer.

- Ansiosa para amanhã? - Lando perguntou se sentando na minha frente.

- Um pouco, pra dizer a verdade. - Falei brincando com a comida.

- De uma forma boa ou ruim?

- De uma forma ruim. -Desabafei.

Seu olhar era terno, mas confuso, eu sabia que teria que explicar.

- Não gostei dessa história de Dragão Vermelho.

- Você só pode estar de brincadeira. - Disse revirando os olhos. - Daria tudo para ter um apelido legal assim, eles me chamam de Lando NoWins. É ridículo.

Eu sorri.

- Quero ver como vão te chamar se você vencer.

- Se não. Quando. Quando eu vencer. Porque eu vou vencer. - Ele apontava o garfo pra mim enquanto dizia isso.

- Estamos famintos por vitórias, mate. Também não aguento mais esperar.

- Elas estão mais perto do que pensamos. - Falou sabiamente.

Pensei algumas vezes mas achei melhor não comentar com Lando sobre nada que envolvesse Leclerc. Isso consumia minha cabeça mais do que eu gostaria de admitir.

Esses dias eu havia sonhado com ele.
Eu o encontrava na rua novamente mas dessa vez ele era gentil comigo, conversávamos e nos abraçávamos. Foi muito estranho.

Pensando sobre isso, eu cheguei a conclusão que eu só devo querer muito que ele pare de me irritar. Quero dizer, eu não quero ficar perto, não quero ser sua amiga e definitivamente não quero um abraço. Eu só quero que ele volte a me ignorar. Era melhor assim.

Ainda me culpo pela forma que falei com ele naquele dia da piscina, mas não é como se ele n tivesse falado algumas merdas também.

Eu não sou má ou grossa como ele diz que sou.
Sou?

Se tem uma coisa que detesto é que as pessoas tirem conclusões sobre mim sem nem me conhecerem. Eu nunca fui grossa, apenas não era próxima. Carlos é um amigo antigo e Julia uma novata que eu quero que se sinta bem, ele não é próximo.
E daí que não olho nos olhos dele, porque isso deveria ser importante?

Eu acho que prefiro ele longe porque assim não dou motivos a ninguém de continuarem com as comparações.

Eu fiz minha carreira, tenho minha história. Eu não sou ele, não sou uma versão dele.

Não gosto de ser comparada com ele, e nem com ninguém na verdade.
Mas algo no nome dele faz meu corpo ferver sempre que o ouve.

E eu detesto admitir, mas estou pensando nesse sonho muito mais do quê devia.
Pensando no que fazer para que ele se torne real.

Pensando no que fazer para que ele se torne real

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15 • 16 | CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora