Imola, 19 de Maio de 2024

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Catrina

Catrina MonteRey vince il Gran Premio d'Italia. Che spettacolo. — Julia repetia freneticamente.

— Eu não acredito nisso. Me deixe olhar de novo.

Eu tomei o telefone de sua mão.
Era um vídeo na minha vitória narrado pelo comentarista italiano, o meu preferido. Seus comentários pareciam ter mais emoção do que todos os outros.

Eu já havia visto esse vídeo três vezes.
E se dependesse de mim eu o veria mais trinta.

Lei, che viene a vincere per la prima volta con la Ferrari, in casa Ferrari! Lei, la Principessa di Monaco, il nostro Dragone Rosso. Catrina MonteRey vince il Gran Premio d'Italia! Brillantemente. Che spettacolo. E a seguirla, l'Incubo Rosa, Julia Pinheiro. Uno/due, uno/due, uno/due. A casa nostra, a casa Ferrari! La Ferrari vince in casa...

Meu corpo arrepiava todas as vezes que eu ouvia Princesa de Mônaco e Dragão Vermelho.
Era o que eu era agora, eu aceitei de bom grado. Era imponente e forte, eu era um dragão e cuspi fogo atrás da minha vitória.

l'Incubo Rosa, Trina. Eu sou o Pesadelo Rosa. — Julia tinha um sorriso gigante enquanto falava. — Pesadelo Rosa!

Tão feliz quanto eu.
Era assim que ela estava.
Seu apelido havia sido dado pela cor de seu cabelo/capacete e por ela ser quase uma muralha na pista, o pesadelo que não deixava ninguém a ultrapassar.

A corrida havia sido perfeita.
Foi brilhante, eu nunca vi a Ferrari em tão perfeita sincronia. A estratégia, as mensagens mandadas na hora correta. Julia e eu parecíamos pensar exatamente igual.
Foi uma dobradinha perfeita.

O mar vermelho nas arquibancadas estava em festa, eu nunca havia visto nada igual.
Ferrari na Itália é quase uma religião e agora eu era uma de suas Santas. Santa Catrina.

Cruzar a linha de chegada, ser a primeira a ver aquela bandeira arrancou de mim o maior sorriso da minha vida. Aquilo não tinha preço. Nada daquilo tinha preço para mim.
Eu queria que meu padrinho estivesse aqui para ver.

O pódio foi lindo, eu, Julia e Samantha lá em cima.
Samantha sorria mais por mim do que pelo seu P3.

Assim que encostei o carro, pulei dele como um raio. Tirei meu capacete, branco e vermelho, em seguida minha balaclava verde e amarela.
Corri para a equipe, pulei e abracei a todos.

Meus amigos, meus companheiros de equipe, os estrategistas, meu engenheiro.
Abracei Vasseur. Ele segurou no meu rosto e me deu um beijo na testa como um pai faria.

— Eu sabia, garota. Eu sabia que você seria uma estrela!

Eu quis chorar, mas me segurei ao máximo.
Só conseguindo agradecer.

Pude ver, um pouco mais atrás, outros participantes do mar vermelho.
Carlos e Charles.

Eu corri e pulei para abraçar Carlos, ele estava muito feliz por mim. Falou algumas besteiras que eu sequer entendi, mas apenas sorri.
Ao seu lado estava Charles, ele sorria radiante.

— Parabéns, Trina. Foi espetacular. — Consegui ouvir ele dizer no meio de toda a gritaria.

— Obrigada, Charlie.

Achei que seria apropriado um abraço.
Ele achou surpreendente, pois ficou duro no início antes de me abraçar de volta.
A cara de Carlos ao nosso lado era impagável.

Encontrei Lando mais a frente, seu sorriso parecia que iria rasgar sua cara.

Trina! Você ganhou, Trina. — Ele gritava e me sacudia. — Ganhamos esse ano, Trina. Finalmente!

Eu quase não sabia o que dizer. Tudo que saía da minha boca era "obrigada" e "eu consegui".

Na ante sala eu fui a ultima a entrar, estava dando entrevista para Nico Rosberg e quando entrei, Julia e Sam estavam vendo os replays da corrida.
Cheguei a tempo de ver a batida entre Aurelia e Lola, não fui nada bom e acabou com a corrida de ambas. 

Samantha se levantou assim que me viu, ela só havia tocado meu ombro enquanto eu dava entrevistas, agora seria um parabéns de verdade.

— Você conseguiu mesmo, pirralha. — Disse se aproximando.

Eu sorria, mas eu também chorava.

Eu a abracei e escondi meu rosto em seus ombros porque não queria que as câmeras pegassem isso, era pessoal demais.
Puxei Julia para o nosso abraço, ficamos ali alguns segundos enquanto as imagens passavam no fundo, nada mais importava.

Nosso abraço foi interrompido quando nos avisaram que era hora do pódio.

Colocamos os respectivos bonés com cada posição e subimos para o palanque. Samantha primeiro, depois Julia e depois eu.
Eu engenheiro estava lá, ele receberia o troféu pela equipe. 

Quando eu entrei, tudo que vi foi um mar vermelho.
Uma bandeira gigante da Scuderia Ferrari cobria dezenas de pessoas.
Eles gritavam meu nome, gritavam o nome de Julia.

A hora dos Hinos chegou e ouvir o meu tão amado Hino de Monaco era mágico. Olhando para baixo, dentre os membros da equipe, eu pude ver Charles murmurando sua letra.

Depuis toujours, le même pavillon
Flotte joyeusement au vent de notre pays
Depuis toujours les couleurs rouge et blanche
Constituent le symbole de notre liberté
Grands et petits l'ont toujours respecté!

Eu sorri para ele e ele sorriu de volta, puxou o telefone do bolso e tirou uma foto.
Fiz uma pose simples, apenas sorri de lado e pisquei o olho direito. Quem visse, jamais iria saber que eu estava posando para uma foto, mas ele sabia. Meu novo amigo, aparentemente.

Ainda era muito estranho pensar nele como um amigo e eu esperava não me arrepender disso.

O Hino da Itália foi entoado em seguida.
A multidão o gritava a plenos pulmões, era a coisa mais linda que eu já havia visto.

Fratelli d'Italia
L'Italia s'è desta
Dell'elmo di Scipio
S'è cinta la testa
Dov'è la Vittoria?
Le porga la chioma
Ché schiava di Roma
Iddio la creò

Se precisasse um dia conjurar um patrono, essa seria minha lembrança feliz.

Recebemos os troféus e as medalhas, tiramos fotos e estouramos champanhe.
Fiz questão de estourar como Lando, batendo a garrafa no chão. Era festa, era glória.

Antes de conseguir molhar qualquer uma das duas, elas correram com as suas garrafas até mim e me molharam por completo. Eu apenas fiquei lá parada, com a língua para fora, quase como uma criança na chuva. 

Confetes voavam por todos os lados e se grudavam em mim, meu coração batia tão rápido que eu poderia jurar que pularia para fora do meu peito e cairia na frente da multidão.

Estourei meu champanhe e molhei as garotas, sem seguida molhando todos lá em baixo.

Eu vi Lando sorrindo e acenando, eu vi Carlos sorrindo e acenando e vi Charles sorrindo e chorando.

— Feliz dobradinha. — Eu disse brindando com Julia.

 — Eu disse brindando com Julia

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15 • 16 | CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora