Imola, 16 de Maio de 2024

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Catrina

Já havia se passado mais de uma semana do incidente da boate.

Lembranças daquela noite vieram para mim como flashes em sonhos e Leclerc aparentemente não mentiu. Eu realmente me lembrei de ter chamado ele de Charlie.

O porque minha eu bêbada parecia simpatizar com ele era um mistério para mim e unicamente para mim, pois simplesmente não havia falado com ninguém sobre isso.
E nem iria.

Não fazia sentido contar sobre isso para Lando ou Samantha se eu já sabia que o eles me diriam, e eu não queria ouvir o que eles tinham a dizer.

Era semana de corrida novamente, dessa vez em Imola, Itália.
Tudo nessa corrida seria grandioso.

Era corrida em casa para a Ferrari, Júlia e eu teríamos que fazer bonito. Havia muito expectativa em nós, e eu ainda teria uma reunião com Vasseur sobre algo que ele não quis me contar. Mas Julia não participaria, e isso estava me deixando ansiosa.

Os garotos da F2 também estavam presentes, haveria corrida deles neste mesmo fim de semana, mas o ponto alto era o tributo.

Sebastian Vettel estava organizando a meses um tributo pelo aniversário de 30 anos dos acidentes fatais de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger neste mesmo circuito de Imola.
Durante a tarde, todos fizemos uma caminhada na chuva, usando camisas com as cores do clássico capacete de Ayrton, em sua homenagem.
Pude notar Julia chorando algumas vezes, ele é o ídolo de todos nós, mas talvez dela um pouco mais.

Foi uma tarde muito simbólica, todos nós correríamos no fim de semana com balaclavas verdes e amarelas.
Julia havia feito um capacete especial, havia deixado seu fiel capacete rosa para correr com as cores de sua nação nesse fim de semana.

Eu pensei em falar com Leclerc durante a corrida, pedir desculpas por ter sido grossa com ele quando ele só quis me ajudar. Novamente eu senti que fiz besteira.
Mas ele não estava correndo como a maioria, estava de bicicleta conversando com Hamilton que ia de patinete.

De noite, de volta ao meu motorhome, me enrolei em lençóis e fiz uma xícara de chá, a chuva havia atacado minha rinite.

Estava quase voltando para o sofá afim de ler algo quando ouço alguém bater na porta. Era Leclerc.

- Oi. - Murmurou.

- Oi. - Murmurei de volta.

Ele parecia não saber ao certo o que fazer ali, ou, se sabia, parecia envergonhado demais para falar. Ele parecia ponderar e pensar mil vezes no que dizer.

- O que você quer? - Quebrei sua linha de pensamento.

Ele antes olhava para os lados, como se temesse que alguém o visse ali, mas quando eu falei sua atenção se voltou para mim.
Ele pareceu conter um sorriso e me olhou dos pés a cabeça.

- Você ainda está com meu hoodie. - Disse simplesmente.

E era verdade.
Voltei com ele de seu motorhome e não devolvi, primeiro porque não queria vê-lo e segundo porque era ainda mais confortável que o meu antigo da McLaren. E, secretamente, eu gostava de como cheirava.

- Ah, sim, desculpe. Você o quer de volta? - Fiz menção de tirar.

- Não, não. - Segurou meu braços. - Pode ficar. Fica bem em você.

Eu não gostava disso. Eu não gostava quando ele me tratava bem. Fazia com que eu parecesse um monstro.
Preferia que ele implicasse comigo.

- O que você quer então?

- Posso entrar?

- Não!

- Vai querer mesmo que alguém passe e me veja aqui? Alguém vai querer vir me salvar, dragões cospem fogo.

Aí estava. Sua implicância.

Não pude evitar sorrir, foi minimamente engraçado, mas virei o rosto para que ele não visse que o achei engraçado. Ele não merecia esse gosto.

Me afastei da porta e o deixei entrar, fechando a mesma atrás dele enquanto caminhava para dentro.

- Você esteve no meu, nada mais justo que eu vir no seu. - Falou se sentando no sofá. - Mas aqui parece muito mais confortável e limpo que o meu.

- Claro que sim, eu sou organizada. - Puxei seus pés para for do sofá, ele estava de sapatos sujos.

Ele riu. E apenas isso. Riu e ficou em encarando, eu já estava ficando desconfortável.

- Terceira e última vez, Leclerc, o que você quer? - Perguntei com impaciência.

- Vasseur falou comigo hoje. - Iniciou olhando para as próprias mãos. - Ele disse que falaria com você depois, mas que eu poderia adiantar caso quisesse. Claro que ele falou da boca para fora já que acha que não nos damos bem.

- Nós não nos damos bem. - Enfatizei.

- Você que não se dá bem comigo, eu me dou muito bem com você. Até deixei você dormir bêbada na minha cama.

- Detalhes...

Ele apenas revirou os olhos e continuou.

- Ele quer que sejamos bem colaborativos nas próximas semanas. Você sabe, é home race para nós dois. - Parou de brincar com as mãos e voltou a me olhar.

Isso fez com que eu desviasse meus olhos, já que eu o observava calmamente enquanto ele estava distraído com os próprios dedos. Algo em saber que ele me olhava fazia com que eu não conseguisse o olhar.

- O que quer dizer?

- Quero dizer que precisamos fazer alguns vídeos de marketing e tirar algumas fotos promocionais com nossos capacetes especiais. A equipe toda está empenhada para garantir nossa pole e uma vez com a pole, garantir que a corrida seja perfeita.

Eu revirei os olhos.

- Qual é, Catrina. - Se levantou levemente irritado. - Alguns dias. Não pode fingir que me aguenta por alguns dias? Se precisar, fique bêbada, você pareceu mais tranquila comigo depois de alguns drinks.

- Alguns dias? - Finalmente disse olhando em seus olhos.

- Sim. Alguns dias, poucos dias. Finja ser minha amiga por alguns dias. Eles só querem algumas fotos do "Príncipe e da Princesa de Mônaco". Só isso. - Disse fazendo aspas no ar.

Eu ponderei.
Se eu não colaborasse poderia estar colocando uma possível vitória em risco, e isso era tudo o que menos queria. Mas concordar seria ter que passar mais tempo que o normal com alguém que eu realmente detestava.
Eu não tinha tempo para pedir a opinião de Samantha sobre isso.

- Trégua. - Estendi minha mão.

- Trégua. - Ele a apertou.

Ele fez que sim com a cabeça e se encaminhou até a porta, abriu e viu se não tinha ninguém por perto.

- Espero que sua corrida seja boa esse fim de semana, Catrina.

- Espero que sua corrida seja boa esse fim de semana, Charles.

Tudo que pude ver foi um grande sorriso em seu rosto antes que ele fechasse a porta.

Tudo que pude ver foi um grande sorriso em seu rosto antes que ele fechasse a porta

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