Maranello, 20 de Maio de 2024

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Catrina

Na manhã seguinte a minha vitória, nós quatro — pilotos Ferrari — fomos até Maranello gravar algumas coisas.

Maranello era relativamente próximo a Imola, então fomos até lá para fazer algumas fotos e vídeos para marketing, já que no domingo teríamos o tão aguardado GP de Monaco.

Fomos em dois carros, Charles e eu em sua Daytona SP3 preta com a bandeira de Monaco, e Carlos e Julia na 812 Competizione personalizada dele.
Isso me deixou um pouco irritada, na verdade.

Eu sugeri que cada um fosse em seu próprio carro.
Gostaria muito de chegar em Maranello com minha 296 GTB branca fosca, com meu numero na lateral. E Julia também gostaria de ir em sua Roma cor-de-rosa.
Se não isso, pelo menos que nós duas fossemos em um carro e eles noutro, senti que foi algo meio machista e tentei rebater. Éramos pilotos também, não apenas passageiras.

Entrei de cara feia no carro.

— Por favor, me diga que não foi algo que fiz.

— O que? — Charles me tirou dos meus pensamentos ansiosos.

— Essa sua cara. — Disse apontando para mim. — Não é por minha culpa, ou é? Isso é porque você vai comigo e não com Carlos ou Julia?

Revirei os olhos.

— Eu já consigo lhe tolerar, Charles. Não tenho problema em estar como você no mesmo carro... Já fiz isso antes.

— É, mas você entrou e dormiu. — Disse me olhando. — Agora eu corro o risco de te ouvir reclamar.

Joguei minha garrafa de água nele, que apenas riu e ligou o carro.

Passamos alguns minutos em silêncio, eu apenas olhava para a frente, mas pude notar que sempre que ele podia, me olhava pelo canto do olho.
Eu poderia ter ido o caminho inteiro calada, mas isso pareceu incomodar ele. E muito.

— Já chega. — Falou impaciente. — Você vai me contar que porra foi que aconteceu?

Eu o olhei confusa.

— Não aconteceu nada.

— Você está com a cara mais feia do mundo.

— É literalmente a minha cara normal.

— Não, não, Catrina. Você é linda, e agora está com uma cara de quem comeu algo estragado. Vamos, fale!

Eu pisquei algumas vezes, incrédula.
Linda?

Ele tinha voltado os olhos para a pista enquanto eu o olhava sem saber o que dizer.

— Eu ainda estou esperando uma resposta. — Disse sem me olhar.

Eu tentei não pensar muito, ou pelo menos fingir que o quê ele disse não me afetou. Mas afetou. E muito.
Linda? Ele realmente me achava linda?

Porque falaria isso assim, do nada? Tudo bem, eu havia aceitado ser sua amiga, mas isso significava ser cordial.
Significava parar de implicar e se tratar bem, sem olhares mortais ou esbarrar um no outro, coisas assim.
Ele chama todas as amigas de linda? Nem meus amigos mais próximos - Lando e Samantha - falam assim comigo, apenas se eu perguntar suas opiniões. Samantha dirá que estou bonita, Lando dirá que estou ótima sem sequer olhar na minha cara.

Trina? — Estalou os dedos na minha frente. — Você travou ou algo assim?

Ele ria da minha expressão.

— Não... Claro que não. — Tentei me recompor.

— Ótimo, então me responda.

Fiz que sim com a cabeça, tentando organizar meus pensamentos.

— Eu queria ter ido no meu carro. — Disse, por fim.

— Como é?

— É isso. Eu queria ter ido no meu carro. Na minha Ferrari 296 GTB branca, com os acentos vermelhos e um 15 bem grande do lado.

Dessa vez foi a vez dele de me olhar incrédulo.

— Você só pode estar brincando comigo, Catrina.

— Você não acha machista que as garotas tenham que ir como passageiras de vocês? Cada um deveria ir no seu carro, se não isso, que pelo menos eu fosse com ela, sabe? Isso é injusto.

Ele ficou calado um tempo.

— Falando assim faz parecer ruim. — Ponderou com a cabeça. — Agora me sinto mal.

— Como assim se sente mal?

— Foi minha ideia. — Disse baixo. — Pedi pra Vasseur pra você ir comigo no meu carro, sabe? Dupla de Monaco chegando junta... Achei que seria legal. E você é minha amiga agora, pensei que passar um tempo juntos, sem crises de ansiedade, seria bom.

Ele ainda tinha os olhos na estrada, mas eu tinha meus olhos nele.
Aquilo foi estranhamente doce.

— Tudo bem, Charlie. Não precisa se sentir mal. Eu achava que havia sido uma decisão que... bem, não importa mais. É só uma viagem de amigos agora, já estou tranquila com isso.

Virei e voltei a olhar a estrada, mas pude ver, pelo canto do olho, suas covinhas aparecendo enquanto ele abria um sorriso.
Ele sempre reagia assim quando eu o chamava de Charlie, e para sua felicidade, havia se tornado um hábito.

Eu não puder perceber em qual momento eu parei de detestá-lo. Acho que eu precisava me resolver comigo mesma, entender que ele nunca havia sido um real problema em minha vida, e depois disso eu pude ver que ele era um cara bem legal.

Ele colocou algumas musicas depois disso e minha cara feia se desfez.
Fomos cantando The Neighbourhood, The Strokes, Arctic Monkeys... Foi realmente divertido, e ele canta muito bem.

Maranello não era longe e não demoramos a chegar.
Carlos e Julia chegaram primeiro, eu os vi descendo do carro e algumas pessoas da equipe filmando eles e a incrível maquina que o espanhol possuía. Imaginei que comigo e Charles fariam o mesmo, isso me deixou nervosa por alguma razão.

Charles encostou o carro de uma maneira que as câmeras o pegassem bem, desligou e retirou o cinto, se virando para mim logo em seguida.

— Acho que é agora que vão filmar o Príncipe e a Princesa de Monaco.

— Parece que sim.

— Nervosa?

— Sempre.

Ele segurou a minha mão, que ainda estava segurando o cinto, sem querer realmente desatacá-lo. Eu o olhei, meu corpo parecia ter virado uma pedra de gelo e meu coração parecia querer sair pela minha boca.

— Vai ficar tudo bem, Trina. — Ele me olhava nos olhos, tentei ao máximo não desviar por nenhum segundo. — Se você se sentir desconfortável com algo, aperta minha mão, eu dou um jeito de te tirar de lá.

Fiz que sim com a cabeça e saímos do carro.

Fiz que sim com a cabeça e saímos do carro

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15 • 16 | CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora