Hungria, 19 de Julho de 2024

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Catrina

Media Day pela manhã e TL1 pela tarde. Hungria até agora havia se provado muito tranquila para mim, indo contra todos os meus pensamentos ansiosos.

Nas entrevistas que demos pela manhã, estavam presentes eu, Julia, Tina e Nerea.
Fomos perguntadas sobre as expectativas para o fim de semana, sobre as renovações de contrato que estavam saindo e, é claro, sobre meu relacionamento com o Charles.

Era estranho ter que responder a essas coisas. Tirar isso da gaveta e mostrar para o mundo parecia certo e confortável, mas ficar explicando sobre isso, não. Parecia uma jogava de marketing e isso era a nova obsessão da minha ansiedade. Será que as pessoas pensavam isso também?

— Minha pergunta agora é para Catrina MonteRey. — Disse uma jornalista sorrindo, e eu já conseguia imaginar a natureza da pergunta, mas apenas fiz que sim com a cabeça. — Acho que todos estamos pensando a mesma coisa, todos queremos saber. Charles Leclerc?

As meninas ao meu redor sorriram.

— Ah, sim. É, Charles Leclerc. — Foi tudo o que respondi, meio sem jeito.

A jornalista insistiu na pergunta.

— Isso já vem de muito tempo? Quero dizer, vocês não pareciam muito próximos antes, mas de uns tempos para cá foram se aproximando... Quero dizer. — Ela sorria. — Conta para a gente.

— Eu preferia responder perguntas sobre o desempenho do meu carro nesse fim de semana, se não fosse muito incomodo. 

Depois disso, mais ninguém me perguntou nada.

A caminho da sala de reuniões em nosso hospitality, onde gravaríamos alguns conteúdos junto com os rapazes, Julia não pode deixar de puxar minha orelha e dizer que fui grossa.
Eu verdadeiramente não acho que eu tenha sido.

Uma coisa é que as pessoas achem fofo, ou até que façam cartazes engraçados. Outra coisa é que o foco do meu trabalho seja deixado de lado para que eu responda perguntas estúpidas como essa. 

Eu sou uma piloto, eu estou indo bem no campeonato. Eu fui a primeira mulher a conquistar um Grand Chalem. Droga, eu venci em Monaco. Não deveria ter ser esse tipo de pergunta para responder.

Julia e eu, assim que chegamos ao hospitality, fomos mandadas para uma pequena sala, o conteúdo de hoje seria um preview da track do Hungaroring.

Eu sempre me divertia muito com Julia, ela era uma pessoa que eu não tive muito contato assim que chegou no grid, mas assim que viramos teammates, a conexão foi imediata. Eu realmente a considerava uma amiga.

— Sabe, — Ela começou a dizer assim que a equipe se dispersou, após a gravação. — Samantha veio falar comigo ontem a noite. 

— Serio?

— Sim, eu estava jantando com o L... — Ela parou bruscamente, balançando a cabeça em seguida. — Eu estava jantando. — Reformulou. — Quando saí ela me parou, perguntou se você estava bem, você não responde as mensagens dela a alguns dias. Pelo menos foi o que ela me disse.

— É. Eu acho que tem muito acontecendo. Eu só não quis explicar nada para ela, eu sei que ela iria perguntar e, sabe, eu estou meio cansada de ficar me justificando ou explicando ou contando histórias.

— Trina, calma. — Disse segurando minhas mãos. — Eu acho que você pensa demais. As pessoas quererem saber é natural, porque é novo, eu também quis saber. Mas eu entendo você fugir de jornalistas, eu só não entendo você fugir da sua melhor amiga.

Eu também não entendia porque estava fugindo dela. Ou Lando. Ou Daniel.

Eu pensei que devia uma conversa aos meus amigos.

Pensei em passar no quarto de Samantha após o jantar, mas eu não cheguei a ir até lá.
Antes mesmo de sequer ir para o restaurante eu passei no hospitality da Racing Bulls, queria avisar ao Danny para jantarmos juntos e conversamos um pouco sobre isso, depois eu falaria com ela.

Eu o procurei por alguns lugares, falei com pessoas mas ninguém parecia saber por onde andava Daniel Ricciardo, ninguém a não ser Yuki Tsunoda.

Eu o vi saindo muito vermelho de um corredor mais adiante. Muito vermelho mesmo.

— Tsunoda? — O chamei.

Ele virou de costas muito assustado, mas quando viu que era eu pareceu mais calmo e abriu um sorriso terno.

— Oi, Catrina. — Apertou minha mão. — Só Yuki já está bom.

— Certo, Yuki. — Retribuí o sorriso.

— Parabéns pelo relacionamento. — Ele disse de forma carinhosa. Eu não queria ter que falar sobre isso, então apenas sorri e murmurei "obrigada". — O que posso fazer por você? Eu não vi o Leclerc, se é isso que está querendo.

— Não, não. — Sorri. — Na verdade eu estou procurando outra pessoa.

Ele parecia confuso.

— Você viu o Daniel por aí? 

Eu rosto voltou a expressão de antes.
Ele parecia vermelho e nervoso, suava um pouco e olhava para os lados como se as pessoas (que estavam distantes) pudessem nos ouvir.

— Claro que não. — Ele disse um pouco mais alto do que gostaria. — Eu não o vi. Para que você quer saber se eu o vi?

— Eu estava querendo chamar ele e Lando para jantar... — Ele parecia muito inquieto e eu liguei os pontos rápido o suficiente para acabar com a conversa ali. — Mas acho que ele deve estar no quarto dele, vou dar uma passada por lá.

Ele assentiu, ainda nervoso.

— Certo. Obrigada, Yuki.

Ele não respondeu, apenas passou reto por mim, veloz como um RB19, e sumiu pelas ruas.
Não pensei duas vezes, virei o corredor em que o vi sair apressado. Algo estava acontecendo e eu queria saber o que era.

Não demorou muito para que eu descobrisse.

Na última sala, com a porta entreaberta, eu pude ver Daniel Ricciardo e Samantha Caballero aos beijos, e assim como Yuki, eu saí de lá como um RB19, sem falar com ninguém e sem olhar para trás. 

 

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15 • 16 | CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora