"Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia pra fugir do mundo, pretendo também me embrenhar no emaranhado desses seus cabelos. Preciso transfundir teu sangue pro meu coração que é tão vagabundo" - Zeca Baleiro
ELISABETTA
De volta ao batalhão que saímos, eu desci do carro e respirei fundo quando senti a ardência sob a farda, na região do abdômen. Nascimento ficou parado ao meu lado feito um sentinela.
— Os senhores, mais uma vez, heróis dessa cidade. — o secretário sorriu e me olhou — Major, eu nem sei o que seria de mim se não fosse a senhora.
Eu percebo que seus olhos passam pelos meus dedos, como se procurassem por algo, mas não encontram nada. Nenhuma aliança em seu caminho.
— Eu sinto que te devo uma. — ele sorri pra mim — Um jantar na sexta, que tal? Não que um jantar possa ser capaz de agradecer o que a senhora fez por mim, mas...
— Secretário. — minha voz soa arrastada e cansada — O senhor não me deve nada. Eu faria por qualquer um, é o meu trabalho.
Ele parece um pouco desapontado e Nascimento se balança ao meu lado, parecendo desconfortável, como se tivessem agulhas sob sua farda preta.
— Bom, de qualquer forma, espero vê-los de novo. — ele diz — Mais uma vez, obrigado.
Ele sorri mais uma vez e se afasta. Eu respiro fundo.
— Cara chato da porra. — me permito resmungar
Nascimento se vira e me encara, segurando um sorriso de lado.
— Não pode dizer essas coisas perto de mim. — ele murmura
— O senhor discorda, coronel?
— Não, nem um pouco.
Nós dois sorrimos um pro outro, mas eu imediatamente paro de rir quando sinto uma fisgada no abdômen. Nascimento me avalia.
— A senhora foi baleada, major? — ele diz ao ver o sangue em meu colete e me encara, sério
— Não. — minto
Ele estreita os olhos.
— Então de quem é o sangue no colete? — ergue uma das sobrancelhas
Eu respiro fundo, entregando os pontos.
— Não foi nada, o senhor sabe. — digo — O colete segurou.
— Ainda assim, você precisa ser avaliada.
— Eu sei, mas se falasse que tava machucada, nós teríamos ido pro hospital e eu ainda estaria tendo que escutar os discursos desse engravatado na minha cabeça. — faço careta — Sinceramente, as enfermeiras dão conta disso aqui mesmo.
Ele estreita os olhos mais uma vez, me encarando contrariado.
— Eu preciso checar meus homens, coronel. — bato continência, pedindo permissão pra sair
— Eu faço isso. — ele diz sério, me pegando de surpresa — Vai pra enfermaria.
— Eu já disse que...
— Agora, Elisabetta.
Eu me calo ao me dar conta de que essa é a primeira vez em que ele diz meu nome inteiro. Nada de Elis e nada de major. O tom que ele usa é o mesmo tom que meus pais usavam quando eu fazia merda. Eu sei que ele é alguns anos mais velho que eu e que é meu superior, mas eu não precisava dessa firmeza paternal agora, né?
— Já foi? — pergunta sério
— Coronel. — o saúdo
Deixando as armas de lado e passando pelos blindados de apoio que vão chegando e estacionando, eu sigo para a enfermaria pra cuidar do meu ferimento. O colete segurou, mas ainda causou atrito. Nada perto do que poderia ser e é por isso que eu agradeço o tempo todo, em silêncio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amores de Elite
FanfictionO coronel do Batalhão de Operações Especiais Roberto Nascimento estava acostumado a viver com o sangue nas mãos. Conhecido por ser impiedoso e nada tolerante, ele se vê desafiado quando recebe a missão mais arriscada de sua vida, capaz de lhe entreg...