CAPÍTULO 8

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"Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia pra fugir do mundo, pretendo também me embrenhar no emaranhado desses seus cabelos. Preciso transfundir teu sangue pro meu coração que é tão vagabundo" - Zeca Baleiro

ELISABETTA

De volta ao batalhão que saímos, eu desci do carro e respirei fundo quando senti a ardência sob a farda, na região do abdômen. Nascimento ficou parado ao meu lado feito um sentinela.

— Os senhores, mais uma vez, heróis dessa cidade. — o secretário sorriu e me olhou — Major, eu nem sei o que seria de mim se não fosse a senhora.

Eu percebo que seus olhos passam pelos meus dedos, como se procurassem por algo, mas não encontram nada. Nenhuma aliança em seu caminho.

— Eu sinto que te devo uma. — ele sorri pra mim — Um jantar na sexta, que tal? Não que um jantar possa ser capaz de agradecer o que a senhora fez por mim, mas...

— Secretário. — minha voz soa arrastada e cansada — O senhor não me deve nada. Eu faria por qualquer um, é o meu trabalho.

Ele parece um pouco desapontado e Nascimento se balança ao meu lado, parecendo desconfortável, como se tivessem agulhas sob sua farda preta.

— Bom, de qualquer forma, espero vê-los de novo. — ele diz — Mais uma vez, obrigado.

Ele sorri mais uma vez e se afasta. Eu respiro fundo.

— Cara chato da porra. — me permito resmungar

Nascimento se vira e me encara, segurando um sorriso de lado.

— Não pode dizer essas coisas perto de mim. — ele murmura

— O senhor discorda, coronel?

— Não, nem um pouco.

Nós dois sorrimos um pro outro, mas eu imediatamente paro de rir quando sinto uma fisgada no abdômen. Nascimento me avalia.

— A senhora foi baleada, major? — ele diz ao ver o sangue em meu colete e me encara, sério

— Não. — minto

Ele estreita os olhos.

— Então de quem é o sangue no colete? — ergue uma das sobrancelhas

Eu respiro fundo, entregando os pontos.

— Não foi nada, o senhor sabe. — digo — O colete segurou.

— Ainda assim, você precisa ser avaliada.

— Eu sei, mas se falasse que tava machucada, nós teríamos ido pro hospital e eu ainda estaria tendo que escutar os discursos desse engravatado na minha cabeça. — faço careta — Sinceramente, as enfermeiras dão conta disso aqui mesmo.

Ele estreita os olhos mais uma vez, me encarando contrariado.

— Eu preciso checar meus homens, coronel. — bato continência, pedindo permissão pra sair

— Eu faço isso. — ele diz sério, me pegando de surpresa — Vai pra enfermaria.

— Eu já disse que...

— Agora, Elisabetta.

Eu me calo ao me dar conta de que essa é a primeira vez em que ele diz meu nome inteiro. Nada de Elis e nada de major. O tom que ele usa é o mesmo tom que meus pais usavam quando eu fazia merda. Eu sei que ele é alguns anos mais velho que eu e que é meu superior, mas eu não precisava dessa firmeza paternal agora, né?

— Já foi? — pergunta sério

— Coronel. — o saúdo

Deixando as armas de lado e passando pelos blindados de apoio que vão chegando e estacionando, eu sigo para a enfermaria pra cuidar do meu ferimento. O colete segurou, mas ainda causou atrito. Nada perto do que poderia ser e é por isso que eu agradeço o tempo todo, em silêncio.

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