CAPÍTULO 23

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"Ele vive na sombra do patrão, agradar vagabundo é sua profissão. Confunde ganância e ambição, simpatia, comédia e vacilação." - Revelação

CRISTIANO

Eu não sei dizer quando foi que a minha vida virou o que virou, mas aconteceu. Caí nas graças do Fábio, entrei sob suas asas e, desde então, venho sendo seu motorista e, de repente, virei seu quebra-galho. Passei a buscar algumas encomendas pra ele, enviar alguns recados e virei o principal ponto entre ele e o Rocha. Apesar do Fábio ser o coronel, Rocha como major era muito mais influente, já que montou todo um esquema surreal de faturamento e está comandando um complexo de favelas inteiro, faturando mais de trezentos mil por mês, livre de impostos. Fábio foi passado pra trás e, na cadeia alimentar do esquema, não estava mais no topo. Rocha agora vivia cercado de pessoas influentes como o próprio governador do estado, deputados, senadores e o antigo secretário de segurança, Guaracy Novaes, que largou a secretaria de segurança e está tentando ir pra Brasília.

Eu estive em um dos pagodes naquela favela, ao lado de Fábio. Na mesma mesa que eu estava sentado, havia vários políticos. Eu ouvi tudo sobre um esquema pra tomar o Bairro Tanque e fiquei desacreditado quando percebi que Rocha estava fechado com aqueles políticos. É absurdo o que a corrupção está fazendo. Por isso, gosto de pensar que estou apenas tentando sobreviver nesse meio.

— E aí, Cris. — Rocha perguntou sorrindo — Curtindo?

Estávamos passeando de barco, Rocha assumindo a direção. Tinha whisky caro, mulheres, comida boa. Enquanto eu estava debruçado, sentindo o vento em meu rosto, Fábio estava puto, sentado ao lado de Jaqueline.

— Muito. — confirmo sorrindo e ele sorri também — Valeu pelo convite, eu tava mesmo precisando relaxar.

— Relaxa, tu é nosso, garoto. — ele ergueu seu copo de whisky em minha direção, como se estivesse brindando a mim. Eu acenei igual com meu copo — E você, Fábio? Tá curtindo o barco?

— Porra, tu tem que me valorizar mais, Rocha. — Fábio reclama — Sou eu que tô de frente no batalhão, sacou?

— Caralho, tu é um chorão do caralho, hein? — Rocha o encara, dividindo sua atenção entre a direção do barco e o amigo — Para de chorar de barriga cheia, porra.

— Eu tenho que falar. — Fábio resmunga

— Porra, olha ele, Cris. — ele me inclui na conversa — Caralho, Fábio não te trouxe aqui pra isso não, amigo. Vou te mandar logo a real, a gente vai tomar a Zona Oeste toda e o Tanque vai ser nosso. Tu vai me ajudar nessa porra, hein? Cris tá na hora de fazer alguma coisa também, não vai ficar desfilando por aí sem pegar no pesado não.

Bebi um gole do whisky em minha mão e respirei fundo. Eu não quero me envolver diretamente com isso, eu não sou bandido.

— Oh, Cris é meu. — Fábio me defende — Porra e eu já te avisei que vai dar merda isso. Tem mais bico lá do que no meu batalhão.

— Fábio, fica tranquilo. — Rocha o tranquiliza — Tá acontecendo uma paradinha agora que vai mudar nossa vida.

— O que tá acontecendo agora? — ergo uma sobrancelha e Rocha me olha

— Eu até te contaria, mas teu maridinho aí quer manter tua inocência. — ele ri e bebe um gole de whisky

O celular dele toca e ele o atende sem cerimônia. Fábio me olha tenso.

— Fala, Sem Alma. — Rocha atende a ligação — Boa. Então, tu vai raspar a paradinha, mas não enterra elas não. A gente vai precisar. — passa as instruções — A gente se fala depois.

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