CAPÍTULO 30

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"Chora porque a dor dói de verdade, chora toda a dor de uma saudade. Chora e pede ajuda lá do céu, chora e jura que não mereceu, que amargou o fel da solidão e não valeu. Diz em vão que se arrependeu, que não vive sem um beijo meu, é tarde demais. Agora viu que me perdeu e chora." - Vou Pro Sereno


CRISTIANO

A música alta parecia atravessar o meu cérebro. A batida infernal do pancadão violento parecia manter meu coração no mesmo ritmo. Eu respirei fundo, trazendo pra dentro uma carreira inteira de cocaína. Meus ouvidos zumbiram e minha cabeça rodou. Com o coração acelerado, o mundo pareceu girar de forma diferente ao meu redor. Era como se eu estivesse lento demais para um mundo rápido demais. Quando a primeira pancada passou, eu pude respirar fundo. As mulheres seminuas que dançavam e se esfregavam umas nas outras chamaram a minha atenção. Todas muito bonitas e bem montadas, para todos os gostos. Grandes, pequenas, magrelas, curvadas. Entretanto nenhuma delas parece boa o suficiente pra mim. Eu quero Elisabetta.

Relaxo as costas no sofá de veludo vermelho e observo uma delas, fantasiada de policial sexy, com um body preto cavado, um cap, algemas e cassetete nas mãos. É ridículo pensar que aquela fantasia maravilhosa parece algo vindo de um circo pra mim, porque a policial que eu quero, anda toda coberta, de colete, fuzil e bandoleira. A mulher se aproxima de mim, se insinuando na minha direção. Eu já a vi subir para os quartos duas vezes.

— Oi, Cris. — ela sorri ao se debruçar na minha mesa

Seu perfume extremamente doce toma conta das minhas narinas e eu bebo um gole de whisky caro.

— Eu te conheço?

A pergunta parece pegá-la de surpresa. Ela franze o cenho, confusa.

— Já te atendi várias vezes.

Eu franzo o cenho, a encarando. Eu já fiz de tudo nesse lugar. Com três, cinco, uma só e me revezando com amigos do batalhão. Não gravo rostos, não ligo pra nomes. A mulher se senta ao meu lado no sofá e se inclina sobre mim, a ponta de seu nariz tocando o meu. Eu desço o olhar, observando o vale entre seus seios bem marcados naquele decote absolutamente indecente. Volto a olhar em seus olhos escuros como a noite.

— Vaza. — digo sério

— Tem certeza? — ela pergunta descansando a mão casualmente em minha coxa

— Você é surda? — a encarei, virando o pescoço em sua direção — Ou tanto tempo trabalhando com esse som alto fodeu com a tua cabeça?

Ela não recua.

— Eu reconheço um homem ferido quando vejo um. — continua — Vai, se abre comigo.

Sem cerimônia, ela pega o copo de whisky da minha mão e bebe um gole.

— Você é psicóloga? — ergo uma sobrancelha

— Às vezes. — dá de ombros — Já ouvi tanta história nesse trabalho que poderia escrever um livro.

— Me conta uma delas. — pego o copo de volta

— Difícil é escolher, né? — ela sorri fraco — Teve a do homem que tinha problemas com a mãe e gostava de me pagar só pra ouvi-lo, porque eu me parecia com ela. Tem também a do cara que veio aqui obrigado, pelo irmão mais velho, porque aos vinte e quatro anos, ainda era virgem e todos achavam que ele era gay.

— E ele era? — pergunto curioso

— Não. — ela nega — Só era sensível.

— Fala mais histórias. — termino o whisky e ponho o copo na mesa, o enchendo com mais diretamente da garrafa abaixo da metade

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