CAPÍTULO 17

853 77 44
                                    

"Diga que eu sou um homem amargo, mas eu ainda era um amigo. Me ajude a entender por que eu perco no final [...] Se você me amou uma vez antes, poderia me amar mais uma vez?" - Aaryan Shah

Dias depois...

ELISABETTA

Os dias passaram de um jeito arrastado. Eu coloquei as equipes na rua, todas fazendo rotatividade em pontos importantes do Rio de Janeiro, já efetuando apreensões de drogas nessas blitz. Roberto e eu nos vimos pouco, devido ao seu alto nível de estresse. Ele e seu capitão foram exonerados, mas enquanto Mathias retornou para os farda azul, Beto caiu pra cima e virou subsecretário de segurança, trabalhando na SSI diretamente com o Guaracy Novaes, o maluco que subiu o morro pra medir forças com o tráfico e terminou achando que me levaria para jantar. Parte de mim estava aliviada, significava que ele não estaria mais correndo perigo em incursão à favela, mas outra parte de mim ficava em alerta. O inimigo dele, agora, seria outro muito mais perigoso.

— Afasta um pouco a câmera pra eu ver. — peço batendo a porta do meu armário

Assim tá melhor? — sua voz grave preencheu o vestiário vazio

Ele mudou da câmera de selfie para a câmera traseira e eu pude ver seu reflexo no espelho de busto em seu banheiro. Examinei com olhares clínicos sua gravata e até que o nó não estava ruim. Ele estava bem, para um homem que se arrumou às pressas sozinho.

— Tá. — respondi — Até que não está tão ruim, hein? Pelo menos um nó que preste você sabe fazer.

Ele revirou os olhos e me mostrou o dedo do meio, me fazendo gargalhar. Eu me sentei no banco do vestiário, apoiando o celular em um canto e calçando meu par de tênis.

Eu sei fazer muitas coisas, major. — ele rebateu trocando as câmeras novamente e andando pelo apartamento, deixando apenas seu rosto aparecer — Minhas mãos são muito habilidosas e a senhora sabe disso.

— Uhum, sei. — ri amarrando os tênis

Então é assim, agora? — ele suspirou olhando para a tela do celular — Você encerrando o trabalho e eu começando.

Eu respirei fundo, pegando o celular e o encarando. Beto parecia menos cansado e menos estressado. Os dias em que ficou de licença, até que sua situação fosse decidida, o ajudaram a colocar o sono em dia. Já eu, por outro lado, tenho trabalhado direto, sem folga, de noite.

— Por enquanto. — comento — Já botei minhas blitz na rua, já estamos fazendo apreensões. Pequenas e grandes, a coisa tá feia. Eu tô apertando o cerco, os vagabundos estão desesperados.

Eu sei disso e pretendo usar isso a meu favor. — ele diz e eu franzo o cenho — Vou transformar o BOPE numa máquina de guerra. Aproveitar que você cercou o asfalto e vou desentocar esses filhos da puta lá em cima. O tráfico vai enfraquecer, os corruptos vão enfraquecer e depois eu vou deixar que eles se matem.

— Ok, entendi seu ponto. — confirmo com a cabeça — E o Rafa? Tem te respondido?

Não, desde que o filho da puta do Fraga me chamou de assassino na frente dele.

Eu respiro fundo, tentando apaziguar a situação.

— Não foi na frente dele, Beto. — digo — Você disse que a Rosane disse que tava passando na televisão e ele viu na hora.

Ah e na televisão pode? — ele se altera me encarando pela tela do celular — Na televisão ele pode falar uma merda dessa?

Eu fico em silêncio. Já é foda namorar um cara com filhos, namorar um policial do BOPE com filho adolescente é ainda mais foda.

Amores de EliteOnde histórias criam vida. Descubra agora