CAPÍTULO 12

1K 91 36
                                    

"Eu me flagrei pensando em você, em tudo o que eu queria te dizer. Em uma noite especialmente boa, não há nada mais que a gente possa fazer. Eu vou fazer de tudo que eu puder, eu vou roubar essa mulher pra mim." - Zeca Baleiro

ROBERTO

Elisabetta é facilmente a mulher mais mais que eu já conheci. Mais engraçada, mais gostosa, mais eficiente, mais maluca, mais teimosa, mais geniosa. Ela é feita de fases, como a lua. Embora eu saiba que ela seja completamente apaixonada e eficiente no que faz, me pego agora com o pensamento hipócrita de que prefiro a versão dela sem a farda. Eu sei, durante muitos anos eu briguei com a Rosane porque ela dizia a mesma coisa pra mim, mas agora eu estava batendo de frente comigo mesmo. A farda parece envelhecer a Betta em uns mil anos e por mais gostosa que ela fique em posição de autoridade, porra, eu preferia muito mais a versão relaxada dela, sorrindo até pro vento que bate e cumprimentando Deus e o mundo com gentileza. O porteiro e os funcionários da conservação do prédio dela abriram sorrisos tão grandes e brilhantes na direção dela que eu cheguei a me perguntar se ela seria um anjo na vida deles. Eles se assustaram ao me ver fardado, mas ela ofuscou meu lado sombrio com seu sorriso encantador.

A diaba é uma deusa!

Dirigindo o carro dela, eu passei no meu apartamento e, já de banho tomado, vesti uma bermuda, camiseta e ri das caretas que ela fez ao ver uma foto do Rafa ainda pequeno, todo sujo de cocô, no porta-retrato perto da televisão. Juntos, seguimos até Ipanema. Eu gostava de caminhar por Ipanema, achava que tinha menos turistas — talvez seja ilusão minha — e gostava da atmosfera do lugar. Eu a levei em um bistrô vintage onde o balconista não escondeu o olhar interessado que passou pelo corpo dela. Eu estava muito bem acompanhado, sei disso. Embora eu tenha ficado um pouco enciumado pelo macacão curto de malha que ela usava, reconheço que Betta chamaria atenção até mesmo se estivesse vestindo um saco de batatas e cebolas. Nos sentamos em uma mesa perto da janela grande de vidro, eu de costas para uma mesa de três mulheres jovens e ela de costas para a porta de entrada.

— Aqui é bem legal. — ela comentou sorridente, observando o local

— Você não é a única que conhece excelentes lugares no Rio. — respondo divertido e puxando o menu — Pode escolher o que vai comer. Eu vou no básico de sempre. — dou de ombros entregando o menu para ela

— Que seria? — ela ergue uma sobrancelha abrindo o menu

— Arroz, feijão, bife a cavalo e fritas. — debruço os cotovelos na mesa e a olho

— Tão previsível, Roberto. — ela ri fraco e passa o olhar pelo cardápio

Eu fico em silêncio, a observando ler o cardápio. Eu estava descobrindo uma nova sintonia com ela, além da cama. Parecíamos um casal normal, ela com uma bolsa de pano sustentável carregando até as minhas coisas, nós dois de chinelos e sem problemas pra atrapalhar. Eu sinto que consigo me acostumar com isso logo, apesar dos anos de solidão e reclusão. Esse lado da Betta é um lado fácil de lidar, ela tem o riso frouxo e eu amo isso.

— O que foi, Roberto? — ela pergunta ao notar que eu a observo, ainda sem erguer os olhos para mim

— Só esperando a dondoca se decidir. — dou de ombros

— Já me decidi. — ela fecha o menu e me encara — Escondidinho de frango.

— Sério? — ergo uma sobrancelha —Tá um puta calor lá fora.

— Nada que uma caminhada não resolva. — ela dá de ombros — Vai desgastar rápido.

Eu acenei para a garçonete educada e paciente, efetuando nossos pedidos. Pra beber, Betta pediu um suco de maracujá natural e eu peguei de abacaxi com hortelã. Claro que provamos o suco um do outro antes de ficarmos com nossos pedidos originais e almoçamos em um clima bom, leve, onde os momentos de silêncio não eram constrangedores e vez ou outra soltamos uma piada ruim ou um comentário sobre o sabor da comida e o ambiente. O problema começou quando eu ouvi as risadinhas das jovens na mesa atrás de mim e notei que Betta pareceu incomodada ao observar algo por cima do meu ombro. Eu perguntei o que houve, ela disfarçou — muito mal — e não disse nada. Terminamos de comer e eu estava curioso.

Amores de EliteOnde histórias criam vida. Descubra agora