CAPÍTULO 7

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"Muro de concreto bom de derrubar, é o BOPE chegando e o pau vai quebrar!" - Tihuana

ROBERTO

Deixei a água gelada cair com pressão no meu pescoço e se espalhar pelo meu corpo, me molhando por inteiro. Eu já havia encerrado meu banho há alguns minutos, mas continuei sob os jatos do chuveiro, as mãos apoiadas no blindex e os olhos fixos em nada. Eu não estava enxergando um palmo à minha frente, porque a minha mente estava longe. Eu, finalmente, estava prestes a me aposentar e hoje, depois de anos, quase tive uma crise de ansiedade com meu fuzil na mão. Se eu não tivesse controlado aquela porra, nem quero imaginar a merda que poderia ter dado. Enquanto eu dava um sacode em dois vagabundos no alto do morro, o rosto do Capitão Araújo vinha na minha mente, assim como as cenas que vi antes de subir. Ele estava dançando com ela, suas mãos de cafetão nela e ela sorria pra ele como se ele fosse merecedor de ter aquele sorriso direcionado a ele. Ele a agarrou pela cintura, ele a colocou de costas pra rua e eu não pude mais ver o rosto dela, mas vi uma das mãos em seu rosto e os rostos dos dois se aproximarem.

Não mistura pessoal com profissional? Não fode!

Aquele vestido solto, curto o suficiente para que eu visse apenas as pontas do rabisco de uma tatuagem na lateral de sua coxa, as pernas bonitas de fora. Qual é, ela tava bem diferente de quando nos vimos, mais cedo. E isso me deu raiva. Raiva porque estava esfregando na minha cara que eles tinham intimidade e ela e eu não. Graças a porra do meu trabalho.

Encerrei o banho, ignorei meu celular e engoli alguns remédios, apagando feito uma pedra. Quando o relógio despertou, eu parecia um zumbi me escorando pelas paredes da minha própria casa. Tomei outro banho gelado, o que me ajudou a despertar e uma boa dose de café. Só voltei a ver meu celular já no batalhão e haviam mensagens não lidas da Major ao longo da madrugada. Talvez tenha bebido demais e eu sei que ela me viu passando, porque nos encaramos diretamente olhos nos olhos durante um tempo.

MAJ Betta, 22:45
Coronel, está tudo bem? Eu vi sua
patame passando correndo
Operação surpresa? Emergência?

Ela manteve a formalidade pelas próximas duas horas, até que perdeu a linha na madrugada, provavelmente pela impaciência e pelo álcool.

MAJ Betta, 01:34
Nascimento, tá tudo bem?
PORRA, BETO
CARALHO

Ergui uma das sobrancelhas ao recostar as costas na minha cadeira e encarar a tela do celular por um tempo. Parece que, da mesma forma como essa Diaba dos infernos ficou na minha mente a noite inteira, eu também fiquei na dela. Isso é bom.

Eu, 11:27
Perdeu a noção ou o álcool encharcou
sua mente, major?
Tá falando comigo como se eu
Fosse um dos fodidos que andam com você

A resposta demora alguns minutos pra chegar, mas chega. Eu, sem perceber, abro um sorriso ao ler seu nome na barra de notificações. Eu tô muito fodido.

MAJ Betta, 11:40
Eu te vi passando cantando pneu,
fiquei preocupada, me desculpe, coronel


Eu, 11:42
E você ia fazer o que? Subir atrás de mim sem
autorização de novo?
Aliás, se me lembro bem, a major não mistura
vida pessoal com profissional, mas onde é que
o cap Araújo entra nessa? Eu vi o vexame de ontem,
vocês pareciam bem misturados, major


Sua resposta não é imediata e, quando está quase dando meio-dia, sou interrompido por Mathias atendendo um chamado meu. Eu bloqueio a tela do celular e encaro o capitão à minha frente.

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