CAPÍTULO 18

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"O rio que por ruas corre em mim, as águas que me querem levar tão longe. Tão longe que me façam esquecer de ti, é." - Ana Carolina

Semanas depois...

ROBERTO

Eu tentei ajudar o Mathias, mas eu sabia que uma hora ele não aguentaria mais a humilhação. Eu nunca duvidei da lealdade dele desde o primeiro momento em que nos vimos e foi por isso que não me emputeci quando, há duas semanas, ele me ligou pra se meter na minha vida pessoal. Me disse que a Elisabetta havia ido ao batalhão do Fábio com a desculpa de que iria ver o velho amigo, Capitão Cristiano de Araújo, mas que deu umas incertas pelo local até descobrir qual era a real situação dele. Ele também me pediu para mantê-la afastada de lá, porque o Major Rocha tem segundas e terceiras intenções com ela, disse que presenciou um momento em que ele tentou intimidá-la, mas que ela não abaixou a cabeça pro cara. Porra, eu fiquei muito puto, mas não tive a oportunidade de falar com ela. Ela tá trabalhando direto, sem folga com as blitz dela e têm dado muito resultado. Eu meti blindados de nível de guerra no BOPE, dei o helicóptero Águia pra eles e, enquanto ela fecha o cerco lá embaixo, eu toco o terror na favela. Era de se esperar que, uma hora, o Mathias se cansaria de ficar olhando tudo da janela. E foi aí que, de manhã, lendo a coluna da jornalista histérica Clara Vidal, eu tive certeza de que era a gota d'água pra ele. No meu celular, uma mensagem brilhou dizendo que o André estava preso enquanto eu ainda terminava de ler sua declaração pra ela. O cômico disso é que eu até consigo ouvir a voz dele dizendo isso, porque foi o que ele repetiu no meu ouvido por anos.

É uma covardia o Senhor Governador colocar a culpa das mortes do presídio em cima de mim. O BOPE tá abandonado faz tempo, a tropa de elite foi jogada às traças. O policial sai na rua pra matar um leão por dia. Eu não aceito essa covardia, principalmente vindo de um governador que só pensa em politicagem e benefício próprio.

Caralho!

Doeu dentro de mim ver meu capitão preso numa cela militar. Doeu mais do que imaginá-lo de farda azul.

— Coronel. — ele me encarou

Eu respirei fundo, segurando o jornal em minhas mãos.

— Trinta dias, André. — murmuro — Como é que eu vou tirar você daqui agora?

Ele me encara de queixo erguido, orgulhoso e raivoso demais pra pensar com calma e admitir que fez merda.

— Policial do BOPE responsabiliza governador. — eu leio a manchete — Cara, eu não sei que vontade é essa que você tem de fazer merda. Eu nunca vou entender isso.

— Fazer merda, Coronel? — nós dois nos encaramos — Falar a verdade e defender o batalhão é fazer merda agora? — ele se exalta

— Baixa o tom pra falar comigo. — chamo sua atenção, mas ele não me ouve

— Eu só estava falando a verdade, Roberto! — ele se defende — Porra!

— Você me respeita! — eu grito apontando o dedo na cara dele, o calando — Baixa a porra do tom pra falar comigo!

Nós dois nos encaramos feito dois animais ferozes enjaulados. Eu sei que, se não fosse o amor dele pela farda, ele já teria jogado minha patente pro alto e partido pra cima de mim há muito tempo. Foi o que eu disse, Mathias é leal. Ele jamais faria isso e esse é um dos motivos pelos quais eu o admiro e o defendo.

— Não venha você me falar em defender meu batalhão! — eu continuo — Faço isso desde muito antes de você entrar na polícia!

Eu respiro fundo, tentando me acalmar.

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