CAPÍTULO 5

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"Nossos nomes em todas as notícias, será que ela daria a vida por mim? Porque se eu morrer, tu tem que ir até o fim. Tem que me vingar e botar a bala pra comer. Descarregar o pentão de 100 mesmo chorando por mim." - Mc Cabelinho


ROBERTO

Apoiando as mãos na mesa, inclinado sobre a superfície de madeira, eu sentia minha carne tremer e minha cabeça ferver. Porra, eu nunca seria capaz de admitir insubordinação. Quem manda na porra toda sou eu e, quando não mandava, obedecia sem questionar. Quando era capitão, fiz muita coisa sem querer ter feito, porque meus superiores mandaram. Cuidei da porra do Turano só pro Papa da época poder dormir tranquilo lá em cima, mesmo não concrodando e querendo mandar aquele velho pra puta que pariu, porque foi a ordem que me foi dada. Caralho! Por que ela não me obedeceu e ficou lá embaixo?

— Nascimento. — seu comandante me chamou e eu apenas ergui o olhar para ele, sem me mexer — Lima é a melhor desse batalhão. Melhor do que muito oficial superior por aí. Eu sei que ordens são ordens, mas ela salvou a sua vida. Ela é leal, não joga pra perder e não aceita perder pra ninguém, principalmente pra vagabundo. Ela tinha duas opções, ver você cair ou te ajudar a sair. E escolheu, mesmo conhecendo a sua fama, sobreviver a você aqui em fora.

— E você consegue perceber que isso faz com que uma reação em cadeia comece? — pergunto sério, a voz baixa — Se todo major, todo capitão, todo tenente achar que pode desrespeitar um superior, essa porra aqui vai virar o que?

— Eu entendo que o que ela fez foi errado, Nascimento. — ele insiste, calmo — Mas eu sei que você consegue dar conta de agradecê-la e dar o exemplo para os outros ao mesmo tempo. Porra, vocês acabaram de realizar uma operação histórica. Pela primeira vez na vida o BOPE agiu numa operação conjunta com outro batalhão, mais de duas toneladas foram apreendidas. Não tô pedindo pra você fazer vista grossa e relevar, só estou pedindo pra pegar leve.

Pegar leve, parece até piada.

O comandante sai da sala, me deixando sozinho e eu respiro fundo. Piscando freneticamente, lidando com a explosão dentro de mim, os olhos e o sorriso do meu filho passam pela minha mente. Eu cerro os punhos, dando soco na mesa e fechando os olhos com força, sendo invadido por flashes de memórias da infância do Rafael. Era sempre assim. Meu filho é a única pessoa que eu amo incondicionalmente e me importo de verdade. O sorriso daquela Diaba surge por último, em uma memória da noite em que nos conhecemos, antes de saber que ela também usava a farda, assim como eu.

Respiro fundo.

Talvez seja o meu, talvez seja o seu. Me lembro dela com o vagabundo na mata. Mas pode ter certeza de que eu vou descer daqui carregando o que é meu. Ela passou o cara na minha frente, contrastando totalmente com a primeira impressão que eu tive dela.

Hora de enfrentar isso.

Reunidos com olhares orgulhosos, as equipes se encontram na garagem, enfileirados e esperando pelos seus superiores. Eu caminho pra junto deles, onde o comandante está e percebo que Major Lima já está lá, aguardando. Seu cão, Aaron, me encara nos olhos e eu me pergunto se animais são mesmo irracionais. Aquele cachorro parecia capaz de olhar dentro da minha alma. Me lembro de como ele atacou um vagabundo por mim hoje.

— Não irei me estender hoje. — o comandante sorri para finalizar seu discurso — Vou deixar a palavra com o Coronel Nascimento.

Eu cerro a mandíbula e ponho os braços para trás, parando na frente de todos.

— Senhores. — chamo a atenção — Os senhores fizeram o seu coronel muito feliz hoje, senhores.

— Operações Especiais! — todos gritam, incluindo a major

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