CAPÍTULO 22

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"Toda vez que eu tento te esquecer, me lembro mais e tudo o que eu faço tem um pouco de você. Eu tento te expulsar da mente, mas você não sai. Por isso não me sinto preparado pra te ter." - Ferrugem e Bruno Cardoso

MESES DEPOIS...

ELISABETTA

Encarei os ponteiros girando no relógio em meu pulso e respirei fundo, tentando entender o que estava acontecendo comigo. Eu percebi que estava dando defeito há algum tempo, mas de repente eu fui perdendo o controle de tudo ao meu redor. Só durmo com a ajuda de calmantes, tenho crises de pânico e de ansiedade pós operações e estou começando a ficar paranoica com as coisas ao meu redor. E, naquela noite, na primeira vez do Beto no terreiro, vovó veio conversar comigo depois de conversar com ele. As palavras dela invadiram meus ouvidos, cruzaram meu coração e fizeram morada na minha mente.


— Fia, xê foi escolhida, nada nessa vida é por acaso. — ela diz e eu sorri orgulhosa com suas palavras — Xê sempre vai ter teus guias no teu caminho, vovó tá aqui com você. — ela disse e segurou minhas mãos — Mas xê tem mágoas nesse seu coração e precisa de uma ajuda carnal.

Eu franzi o cenho.

— Fia, se xê num aprender a pedir ajuda, não vai haver um amanhã pra voxê e esse homi.

— Ele vai embora, que nem os outros, vovó? — sinto meu peito doer com a possibilidade dele me deixar

— Não. — ela diz séria — A sinhora é que vai embora.

Arregalo os olhos.

— E vai deixar todo mundo chorando nessa terra fria, minha fia.


Eu demorei a entender tudo o que ela disse naquele dia e demorei mais ainda a aceitar que eu precisava de ajuda.

— Elisabetta, por que você está aqui? — a psicóloga repetiu a pergunta que havia feito alguns minutos atrás

— Eu... preciso de ajuda. — coço a cabeça

— Muito bem. — ela assentiu — O primeiro passo é reconhecer. Precisa de ajuda com o que?

Me remexo no sofá confortável, mas ainda me sentindo desconfortável.

— Eu não sei. — murmuro

Ela respira fundo, ainda me olhando.

— Elisabetta, por que está aqui? — repete

— Eu preciso de ajuda, já disse.

— Com o que?

Eu respiro fundo, sentindo meus olhos marejados. Seguro o choro.

— Eu não sei como começar isso. — digo — Posso te contar um pouco sobre a minha vida?

— Claro. — ela concorda — Mas antes, o que te fez vir aqui? Qual foi o estalo?

— A minha religião. — digo — Eu levei meu namorado no terreiro e Vovó Maria Conga disse que se eu não aprender a pedir ajuda, vou acabar deixando esse mundo.

Ela suspira e faz algumas anotações em seu caderno. Eu a observo em silêncio.

— Certo, me conta um pouco sobre sua vida. — ela me olha — Como entrou pra polícia?

— Eu tinha vinte e cinco anos e estava preparando meu TCC para pegar meu diploma de história.

— Licenciatura ou bacharelado? — ela sorri, tornando a conversa mais leve

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