CAPÍTULO 24

832 98 104
                                    

"O amor me consumiu e depois sumiu, eu até perguntei, mas ninguém viu. Eu fui fechando o rosto sem sentir e mesmo atenta, sem me distrair, não sei quem é você." - Ana Carolina

ROBERTO

A polícia do Bairro tanque era tão corrupta que nem eu tinha conseguido tirar os vagabundos de lá. Pra tomar o tanque, só fazendo uma mega operação, mas o governador não ia arriscar perder o controle em ano de eleição. Se morrer inocente, as mãos dele ficam publicamente sujas de sangue e ele perde milhares de votos. E foi aí que o Mathias teve uma ideia genial. Ele decidiu se disfarçar de corrupto, pegou o pelotão do BOPE e, vestido de azul, passou devagarinho na frente dos vagabundos. Era arriscado. Se alguém desconfiasse, ele iria pra vala.

Ficou acordado que ele tomaria conta de tudo e mandaria um aviso para que Elisabetta e sua equipe subissem logo atrás com os cães. Porra, eu sempre odiei operações idiotas, mas agora estava odiando ainda mais. A vida da minha mulher está em jogo. Essas armas não estão lá, ela está se arriscando à toa.

— Coronel. — Valmir se aproximou da minha mesa acompanhado de um homem — Esse é o Tiago Macedo, novo secretário interino.

Eu me levanto, cumprimentando o cara. Desde que Guaracy saiu da SSI pra tentar carreira em Brasília, precisamos de um secretário interino que o cubra quando ele não estiver por aqui. Tiago Macedo é alto, narigudo, bem apessoado. Passou anos no exterior e retornou há algum tempo. É advogado criminalista, tem boa fama.

— Coronel, muito prazer em conhecê-lo. — ele diz quando apertamos as mãos

— A satisfação é minha. — aceno — Bem vindo a SSI.

— O senhor tem feito um bom trabalho por aqui. — ele elogia — Acho que vamos nos dar bem.

Eu aceno mais uma vez de forma positiva.

— Eu vou apresentar o escritório pra ele. — Valmir me olha — O senhor precisa de mim agora?

— Não, pode ir. — o libero, voltando a me sentar — A incursão começou. Mathias está no Tanque.

— Então amanhã a ação acontece, certo? — Tiago me olha

— É o previsto. — confirmo

— Ok.

Tiago e Valmir se retiram e eu, apreensivo, pego meu celular e ligo pra Elisabetta. Ela me atende no quinto toque.

Oi, Beto. — sua voz soa cansada

— Oi, amor. — viro a cadeira para a janela, observando a vista do meu andar — Tá podendo falar?

Tô numa blitz na Dutra, mas pode falar.

— Eu fiquei sabendo que tem previsão de uma carga alta passar por aí hoje. — respiro fundo — Betta, eu tô tentando te tirar da operação do Tanque, amanhã.

Beto, eu não quero que falem por aí que eu estou aproveitando da posição do meu namorado pra ter algum privilégio. — ela diz séria — Se o Formoso me quer lá, eu vou estar lá.

— Essa operação está errada e você sabe disso. — digo frustrado — Eu não quero você se arriscando lá à toa.

Roberto, ordens são ordens. — ela diz impaciente — Os caras não mandaram invadir? Então eu vou invadir e tocar o terror naquela porra.

Eu respiro fundo. Desde que começou a fazer terapia, algumas semanas atrás, ela tem estado muito mais estressada que o normal. É como se tudo o que a psicóloga tivesse fazendo com ela, surtisse um efeito contrário. Não sei o que elas conversam nas sessões, mas Betta está claramente reagindo à dor das memórias visitadas durante as consultas. Eu não sei se isso é bom pra ela.

Amores de EliteOnde histórias criam vida. Descubra agora