CAPÍTULO 16

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"Não somos do tipo que vai devagar, porque quando você sabe, você sabe. Ela não quer ficar sozinha nunca mais e eu lhe disse: querida, somos nós contra o mundo [...] Seremos nós contra o mundo." - Chris Grey

ROBERTO

O Mathias aproveitou a chance que teve. Fez o que aprendeu no BOPE, fez o que eu ensinei. Ele matou o vagabundo pra proteger o refém. O problema, parceiro, é que um tiro de 7-6-2 faz um furo pequeno na entrada, mas o buraco de saída é do tamanho de uma tangerina. A equipe entrou e, em menos de um minuto, a gente tinha resolvido o problema. O Mathias eliminou o cara mais casca grossa da história do Comando Vermelho. Só que um pequeno detalhe estragou tudo. Aquela porra daquela camisa que o Fraga tava usando. Direitos Humanos, escrito em inglês e sujo de sangue. Essa merda já tá virando manchete no mundo inteiro.

Um massacre! Uma carnificina foi o que aconteceu lá dentro. — Fraga disse rodeado de câmeras e microfones — O governador vai ter que explicar pra mim como é que ele me prometeu que não haveria massacre, pra imediatamente depois o Coronel Nascimento e o Capitão Mathias executarem os presos a sangue frio. Foi uma execução! — ele puxa a camisa, exibindo a mancha de sangue no peito — Não houve tempo pra negociação. As balas do Capitão Mathias, com as ordens do Coronel Nascimento chegaram antes. O BOPE entrou única e exclusivamente pra matar e matou. Aliás, fez o que está acostumado a fazer nas favelas do Rio de Janeiro. Uma limpeza étnica, uma limpeza social. É isso o que eles fazem! É pra isso que eles são pagos!

Porra, eu nunca fui de me meter na vida da Rô depois que a gente se separou, mas casar com o Fraga era sacanagem. Eu salvo a vida do cara, eu evito que ela e meu filho tenham que lidar com o luto de perder esse merda e é assim que esse cara me agradece. Me fodendo publicamente destruindo a minha reputação.

Eu gostaria de ver, uma vezinha só, o BOPE invadir e prender um traficante num condomínio de luxo. — ele continua seu discurso — Mas isso eles não fazem, né? Não fazem porque são pagos para serem covardes. Covardes!

Respirei fundo, bebendo um longo gole de água e coloquei a televisão no mudo. Eu estava largado no meu sofá, me sentindo exausto física e mentalmente. Recostei no encosto macio e virei a cabeça, vendo Elisabetta andando de um lado para o outro, perto da janela, com o celular no ouvido. Ela parecia exausta e impaciente. Eu não sei explicar o porquê dela ter vindo parar aqui na minha casa, mas nós dois simplesmente agimos em sincronia. Juntos, nós revistamos os vestiários, descobrimos que tinham alguns agentes carcerários metidos nisso, enquadramos todo mundo e ela, em momento algum, deixou o meu lado. Fiel e leal, ela assumiu a bronca comigo até o fim, mesmo desaprovando o que aconteceu lá dentro. Leal a farda dela, leal a mim.

— Não, mãe. — ela revirou os olhos, respirando fundo — Sim, mãe, eu tava lá, mas eu não... Caralho, não se mete na porra do meu batalhão. Eu já te falei que não era a encarregada dessa operação.

Eu respiro fundo. Apesar de estar exausto e de preferir o silêncio, eu estou aliviado de não estar lidando com isso sozinho hoje. É bom tê-la aqui comigo. Eu fico me perguntando como uma semana que começou tão bem, esteja indo por água abaixo em tão pouco tempo.

— Eu tava com o Coronel. — ela para de andar e encara a rua pela janela — Sim, mãe, ele me protegeu lá dentro. Eu tava segura.

Eu a vejo mexer a cabeça em sinal negativo e suspirar de novo.

— O Eri tava lá também. Ele e o Aaron. — ela explica — Escuta, eu só te liguei porque você deixou um milhão de mensagens. Eu tô bem, tô viva e exausta. — ela se vira pra mim, mas não me olha, está distraída na ligação — Não sei se vou pro Grajaú hoje não... Eu sei, eu sei que odeio ficar sozinha em pós operação, mas eu... Eu tô com umas coisas pra resolver. — ela ergue o olhar e me encontra, nós dois nos encarando — É, tem gente precisando de mim.

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