OLIVIA ON
São Paulo, Academia de FutebolAcordei mais cedo do que o habitual, mas com uma sensação de leveza que há muito tempo eu não sentia. A conversa com Abel no dia anterior havia sido decisiva. Depois de um longo e sincero diálogo, decidimos que tentaríamos. Não havia mais como ignorar o que sentíamos um pelo outro, então iríamos nos permitir conhecer melhor e ver onde isso nos levaria.
Era um alívio saber que não precisaríamos esconder mais nossos sentimentos, pelo menos entre nós dois. Abel foi claro sobre manter a discrição no trabalho, e eu concordei plenamente. Não queríamos que nada atrapalhasse a dinâmica do time ou gerasse fofocas desnecessárias. Mas, fora isso, estávamos dispostos a explorar essa nova fase juntos.
Depois de um banho rápido, me vesti com uma blusa de seda azul-clara e uma calça preta elegante. Escolhi acessórios discretos, algo que combinasse com a seriedade do dia, mas que ainda assim me deixasse confortável. Passei um pouco de maquiagem, o suficiente para me sentir confiante, mas sem exageros. Precisava parecer profissional, mesmo que meu coração estivesse em desordem.
Quando cheguei ao CT, o ambiente estava tranquilo, como de costume. As pessoas passavam por mim com sorrisos e cumprimentos, e eu retribuía com um aceno de cabeça e um sorriso, mas minha mente estava em outro lugar. Sabia que encontraria Abel em algum momento, e o pensamento de vê-lo e não poder ter uma proximidade, me deixava nervosa.
Ao entrar na sala de reuniões, fui recebida pelos membros da equipe. Todos já estavam acomodados, prontos para discutir os detalhes da campanha do Dia dos Pais. Sentei-me na ponta da mesa e organizei meus papéis, tentando ignorar o leve tremor nas minhas mãos.
– Bom dia, pessoal. Espero que estejam todos prontos para essa campanha, vamos fazer algo realmente especial este ano - comecei, tentando manter a voz firme.
– Com certeza, Olivia - respondeu Fellipe, com um sorriso entusiasmado. – A ideia de incluir as famílias dos jogadores foi um sucesso, e ter o Abel com as filhas vai ser incrível.
Meu coração deu um salto ao ouvir o nome de Abel. A imagem dele com as filhas, sorrindo para a câmera, veio à minha mente.
Precisava me concentrar...
– Sim, acho que vai ser um toque pessoal muito bonito - respondi, tentando parecer tranquila. – E o que temos sobre o cronograma das gravações? Está tudo pronto? - questionei.
A reunião prosseguiu com os detalhes usuais, horários, logística e ideias para cenários. Mas, por mais que tentasse, não conseguia afastar o pensamento de como seria ver Abel com as suas filhas durante as filmagens. Será que ele estaria tão nervoso quanto eu? Será que ele pensou tanto em mim quanto eu pensei nele?
Quando a reunião terminou, me despedi da equipe e caminhei até meu escritório. O corredor estava silencioso, e eu aproveitei o momento para tentar me acalmar. Precisava ser forte, afinal, eu era uma profissional, e precisava agir como tal.
Sentei-me à minha mesa e comecei a revisar os e-mails. Minha mente, no entanto, continuava a divagar, relembrando cada detalhe do que havia acontecido no dia anterior. A batida na porta me trouxe de volta à realidade.
– Entre - chamei, minha voz um pouco hesitante.
A porta se abriu lentamente, revelando Richard. Ele entrou sem dizer uma palavra, fechando a porta atrás de si. O ar no escritório parecia ficar mais denso de repente, e eu sabia que essa conversa estava para acontecer há algum tempo.
– Olivia, a gente precisa conversar - ele disse, a voz grave e direta, como sempre.
Eu assenti, indicando a cadeira em frente à minha mesa para que ele se sentasse. Ele hesitou por um momento, mas acabou se sentando. Havia algo em seu olhar que me fez perceber que ele estava tão desconfortável quanto eu.
– Tem sido difícil, né? - ele começou, cruzando as mãos sobre o colo e olhando para mim com uma expressão que misturava frustração e cansaço. – Desde aquela noite... as coisas entre a gente ficaram complicadas.
Respirei fundo, tentando manter a calma. Sabia que essa conversa era inevitável, mas isso não tornava as coisas mais fáceis.
– Eu sei - admiti, olhando diretamente para ele. – Tem sido difícil para mim também. - Richard assentiu, como se esperasse essa resposta.
Por um momento, ele pareceu perdido em pensamentos, mas então seus olhos se fixaram nos meus.
– Olha, Olivia - ele disse, a voz mais suave agora. – Eu não quero que as coisas continuem assim. A gente tem que trabalhar junto, tem que se ver quase todos os dias... e esse clima... isso está me matando.
Eu o observei por um momento, sentindo a tensão no ar. Não era fácil falar sobre isso, mas ele estava certo. Esse clima ruim entre nós estava afetando nosso trabalho, e se não fosse resolvido, só pioraria.
– Eu também não quero que continue assim, Richard - respondi, sincera. – Mas eu acho que a gente precisa aceitar que o que aconteceu... não foi o melhor para nenhum de nós, a gente se confundiu.
Ele me olhou com uma mistura de surpresa e compreensão, como se estivesse esperando por uma resposta diferente, mas ao mesmo tempo soubesse que eu tinha razão.
– Eu sei - ele disse, soltando um suspiro. – Eu estava pensando... a gente poderia tentar, sabe? Sem pressão, sem expectativas. Só... se conhecer melhor, ver onde isso pode dar.
Eu o observei, considerando suas palavras. Por um momento, a ideia me passou pela mente. Mas logo percebi que isso não era o que eu queria, pelo menos não mais. Meu coração já estava em outro lugar, com outra pessoa.
– Richard, eu aprecio que você esteja sendo sincero - comentei, escolhendo minhas palavras com cuidado. – Mas eu acho que não seria justo com você. O que aconteceu entre nós foi... um erro, e eu não quero continuar algo que eu sei que não tem futuro.
Ele permaneceu em silêncio, processando minhas palavras. Podia ver a decepção em seus olhos, mas também uma aceitação relutante.
– Eu entendo - ele disse finalmente, sua voz cheia de resignação. – Eu só queria que... a gente pudesse ser amigos, pelo menos. Sem esse clima ruim entre a gente. - sorri para ele, um sorriso triste, mas sincero.
– Eu também quero isso - concordei. – Podemos ser bons amigos, Richard. Isso é importante para mim. - ele sorriu de volta, um sorriso pequeno, mas genuíno.
Havia uma leveza no ar agora, como se a tensão que nos envolvia há tanto tempo finalmente estivesse começando a se dissipar.
– Então, amigos? - ele perguntou, estendendo a mão para mim. Eu apertei sua mão, sentindo um peso sair dos meus ombros.
– Amigos - respondi, sentindo que, apesar de tudo, estávamos finalmente no caminho certo.
Richard se levantou, e eu fiz o mesmo, acompanhando-o até a porta. Antes de sair, ele se virou para mim mais uma vez.
– Eu só quero que você seja feliz, Olivia - ele disse, e pela primeira vez em muito tempo, suas palavras soaram totalmente sinceras. Eu assenti, agradecida.
– E eu desejo o mesmo para você, Richard. - ele sorriu, e dessa vez, parecia ser um sorriso de verdade.
Eu o observei sair do meu escritório, sentindo uma mistura de alívio e tristeza. Sabia que o que tínhamos feito era o certo, mas não era fácil deixar para trás o que poderíamos ter sido.
Quando a porta se fechou, voltei para minha mesa e sentei, respirando fundo. O dia ainda estava só começando, e eu sabia que haveria desafios pela frente. Mas agora, com as coisas claras entre mim e Richard, e com um novo começo com Abel, eu sentia que estava finalmente pronta para seguir em frente.
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Love on the Field - Abel Ferreira
FanfictionAbel Ferreira, técnico do Palmeiras, sempre foi conhecido por sua dedicação e foco absoluto no futebol. Porém, ele não esperava que sua vida tomaria um rumo inesperado quando conhece Olivia Mancini, a jovem Vice-Presidente e Chefe da área de Mídias...