CAFÉ

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Assim que João saiu do meu escritório, me peguei imerso em pensamentos

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Assim que João saiu do meu escritório, me peguei imerso em pensamentos. A situação estava longe de ser simples. Decidi que era hora de sair um pouco do ambiente do CT e ter uma conversa mais descontraída com Olivia. Sabia que, com a responsabilidade que agora recaía sobre seus ombros, ela precisava de apoio mais do que nunca. Além disso, eu também precisava de um momento fora daquele ambiente carregado para organizar melhor meus pensamentos.

Levantei-me, peguei o telefone e liguei para Olivia, que ainda estava no campo, coordenando a coletiva de imprensa dos jogadores.

Ligação On

Olivia, que tal tomarmos um café fora daqui?

Um café?
Acho que seria uma boa ideia, Abel.
Preciso de uma pausa também.

Te encontro na portaria do CT

Ligação Off

Nos encontramos na entrada do CT e saímos juntos, dirigindo até uma cafeteria próxima que eu costumava frequentar. O lugar tinha um ar acolhedor, com paredes cobertas de livros e uma música suave tocando ao fundo. O ambiente era perfeito para uma conversa tranquila, longe dos problemas que nos esperavam.

– Esse lugar é encantador - comentou Olivia enquanto nos sentávamos em uma mesa perto da janela. O sol matinal iluminava o ambiente, criando um clima sereno.

– Sim, gosto de vir aqui quando preciso de um tempo para pensar - respondi, tentando deixá-la à vontade.

Pedimos nossos cafés e começamos a conversar sobre tudo o que estava acontecendo. O peso da responsabilidade em suas palavras era evidente, mas ela se mostrava determinada, forte como sempre. Porém, percebi uma leve hesitação em sua voz, algo que não era comum nela.

– Abel eu... - ela começou, mas antes que pudesse continuar, a porta da cafeteria se abriu e uma voz familiar ecoou pelo ambiente.

– Amor, você por aqui? - A voz de Ana Xavier cortou o ar, e senti um frio na espinha ao perceber que ela estava ali, em carne e osso, na minha frente, no Brasil. Não a via há meses, e sabia que ela tinha suas razões para estar aqui, mas aquilo não era nada bom.

Olivia, que estava sentada em frente a mim, ficou paralisada por um momento. Seus olhos alternavam entre mim e Ana, que estava acompanhada de nossas filhas, Mariana e Maria Inês.

– Papai! - gritou Mariana, correndo em minha direção e pulando nos meus braços. Sorri para ela, mas a presença de Ana ali estava longe de ser um motivo de alegria.

– O que você está fazendo aqui, Ana? - perguntei, tentando manter a calma enquanto abraçava minhas filhas.

– Passeando, marido - ela respondeu com um sorriso que beirava o sarcasmo. Era óbvio que estava tentando provocar Olivia, usando o termo "marido" de forma calculada.

Olivia parecia confusa, os olhos dela cheios de perguntas. Eu tinha explicado para ela que meu relacionamento com Ana estava acabado, que estávamos divorciados há meses. Mas a forma como Ana estava agindo, parecia que estávamos juntos. Era uma situação complicada, e Olivia se sentia cada vez mais desconfortável.

– É, eu vou... - Olivia começou a falar, mas sua voz estava tremida. Ela se levantou de repente, sem terminar a frase, e saiu correndo da cafeteria, claramente abalada.

– Olivia! - chamei, levantando-me imediatamente, mas ela já estava longe, atravessando a rua, visivelmente perturbada.

Ana riu baixinho, satisfeita com o efeito que suas palavras haviam causado. Me virei para ela, tentando controlar a raiva que crescia dentro de mim.

– Por que você fez isso, Ana? - perguntei, minha voz mais fria do que eu gostaria.

– Fiz o quê, querido? Só estou aqui passeando com as nossas filhas. Não é natural que eu chame o pai delas de marido? - ela respondeu com uma expressão de falsa inocência.

Eu sabia que aquilo era uma provocação, uma maneira de me desestabilizar. Mas, acima de tudo, eu precisava esclarecer as coisas com Olivia. Não podia permitir que ela pensasse que eu menti sobre meu relacionamento com Ana.

– Vamos, meninas - disse, segurando as mãos das meninas. – Vamos para o carro.

Elas seguiram comigo, mas minha mente estava apenas em Olivia. Eu precisava encontrá-la e explicar tudo o que havia acontecido, antes que fosse tarde demais.

– Papai, por que a Olivia saiu correndo daquele jeito? Ela não gosta mais de mim? - questionou Mariana. Ah... A inocência das crianças.

– É claro que gosta meu amor, por isso estamos indo encontrar ela.

Entramos no carro e dirigi o mais rápido que pude até o CT, onde imaginei que Olivia poderia ter ido para tentar encontrar algum conforto ou talvez até para se distrair do que havia acabado de acontecer.

Ao chegar no CT, saí do carro apressadamente, deixando as meninas com uma das funcionárias. Corri pelo corredor até chegar na sala de Olivia, mas ela não estava lá. O ambiente estava vazio, a cadeira empurrada de qualquer jeito contra a mesa, como se ela tivesse saído às pressas.

– Abel - ouvi a voz de João Martins atrás de mim. Ele estava vindo em minha direção, claramente preocupado. – O que aconteceu?

– Onde está Olivia? - perguntei, ignorando a pergunta dele.

– Ela saiu, disse que precisava de um tempo sozinha - ele respondeu, olhando-me com uma mistura de curiosidade e preocupação. – O que aconteceu?

– Uma confusão - respondi, passando a mão pelos cabelos, frustrado. – Vou procurar por ela. Não posso deixar as coisas assim.

Deixei João sem muitas explicações e saí em busca de Olivia, sentindo o peso da situação em meus ombros. Sabia que precisava esclarecer tudo com ela, mostrar que não havia nenhuma verdade nas palavras de Ana. Se eu a perdesse agora, tudo o que construímos, tanto profissional quanto pessoalmente, estaria em risco.

E eu não podia permitir que isso acontecesse.

Love on the Field - Abel FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora