GRAMADO

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ABEL ONSão Paulo, Academia de Futebol

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ABEL ON
São Paulo, Academia de Futebol

A manhã no CT estava tranquila, mas eu sabia que essa calma era superficial. Havia uma tensão no ar, algo que só quem tem anos de experiência no futebol consegue perceber.

À medida que me aproximava do campo, vi Olivia sentada no gramado, algo que não era comum. Ela estava sempre tão ocupada, tão focada nas responsabilidades que tinha como vice-presidente, mas ali, sentada sozinha, parecia mais vulnerável, quase como se precisasse de um momento para si.

Caminhei até ela em silêncio, não querendo interromper o que parecia ser um momento de reflexão. Ao me aproximar, ela olhou para cima e sorriu, um sorriso cansado, mas genuíno.

– Posso me juntar a você? - perguntei.

– Claro, Abel - ela respondeu, batendo no gramado ao lado dela.

Sentei-me ao lado dela, sentindo o frescor da grama sob mim. Havia algo calmante em estar ali, no campo, longe das preocupações e dos problemas que ocupavam nossas mentes.

– Tem sido difícil para você, não é? - perguntei, virando-me para Olivia. Ela suspirou, olhando para o campo à frente, onde os jogadores começavam a se aquecer para o treino.

– Difícil é um eufemismo, Abel. Leila vai me afastar um pouco dos assuntos da presidência. Quer que eu me concentre no caso do Richard. Toda a questão da segurança do clube, dentro e fora do CT, além da segurança pessoal dos atletas, está sob minha responsabilidade agora. Ela também quer que eu cuide da parte legal, advogados e, se necessário, da polícia. - balancei a cabeça, compreendendo o peso da nova função que Olivia estava assumindo.

– É uma responsabilidade enorme, Olivia. Mas, se há alguém que pode lidar com isso, é você. - ela sorriu novamente, desta vez com um pouco mais de confiança.

– Obrigada, Abel. Isso significa muito vindo de você.

Ficamos em silêncio por um momento, observando o treino começar. Os jogadores, alheios ao que discutíamos, corriam pelo campo, aquecendo-se para mais um dia de trabalho duro. Eu sabia que, para muitos deles, o futebol era tudo o que tinham. E era nossa responsabilidade garantir que eles não apenas jogassem bem, mas que também tivessem uma vida fora do campo que refletisse os valores que queríamos promover.

– Tem mais uma coisa... - disse, quebrando o silêncio. – As meninas amaram você e estão insistindo para ficarem mais tempo no Brasil. Parece que a escola delas permite aulas online, então, elas querem aproveitar ao máximo o tempo aqui. - Olivia riu, um som que trouxe um pouco de leveza à conversa.

– Eu adorei conhecer suas filhas, Abel. Elas são maravilhosas. E, se depender de mim, elas serão muito bem-vindas aqui pelo tempo que quiserem ficar.

– Elas perguntaram se poderiam vir para o treino amanhã - comentei, sorrindo ao lembrar do entusiasmo delas. – Estão animadas para verem os jogadores.

– Claro que podem vir - respondeu Olivia, com um brilho nos olhos. – Tenho certeza de que os jogadores também vão adorar a visita.

Sentado ali com Olivia, senti que, apesar de todos os desafios que enfrentávamos, havia um senso de unidade que nos mantinha firmes. Sabíamos que as decisões que tomávamos tinham consequências que iam muito além do campo. Eram decisões que afetavam vidas, carreiras e, no caso de Richard, talvez até o futuro dele.

– É por isso que precisamos ser fortes, Olivia - disse, virando-me novamente para ela. – Não apenas por nós mesmos, mas por todos que contam com a gente. - ela assentiu, o olhar dela encontrando o meu.

– Concordo. E sei que, podemos superar isso.

Nos levantamos juntos, deixando o campo para trás enquanto o treino continuava. Sabíamos que o trabalho estava apenas começando. As decisões que tomávamos naquele momento moldariam o futuro do Palmeiras, e, acima de tudo, moldariam o futuro dos jovens que confiavam em nós para guiá-los.

Quando saímos do campo, senti que, independentemente do que acontecesse, teríamos o apoio um do outro para enfrentar os desafios que estavam por vir. E isso, naquele momento, era tudo o que precisávamos.

Quando abri a porta do meu escritório, encontrei Martins já me esperando. Ele parecia inquieto, os olhos carregando um misto de preocupação e expectativa. Eu sabia que ele estava aguardando alguma explicação sobre os últimos acontecimentos.

– Bom dia, João - cumprimentei, tentando manter a voz calma, apesar da tensão que eu sentia no peito.

– Bom dia, Abel - ele respondeu, sem muita cerimônia. – Recebi uma mensagem da Leila mais cedo, mas parece que você tem algo importante para me contar.

Fechei a porta atrás de mim e me aproximei da mesa. Sentei-me e pedi que ele fizesse o mesmo. Não era uma conversa que eu queria ter em pé, nem apressadamente.

– João, aconteceu algo grave - comecei, direto ao ponto. – Descobrimos que a invasão ao CT foi muito mais séria do que imaginávamos. Não foi apenas um ato de vandalismo ou algo isolado. Quem fez isso estava querendo atingir a presidência... e o Richard.

– O Richard? Mas por que ele? - João franziu a testa, claramente surpreso.

– Porque Richard, inadvertidamente, colocou a segurança do clube como uma garantia em um negócio que envolvia pessoas perigosas - expliquei. – Essas pessoas acreditam que foram traídas, e o Richard, por ter dado essa garantia, está no centro disso tudo. Eles queriam fazer um exemplo dele e, ao mesmo tempo, enviar uma mensagem para a presidência.

A expressão de João tornou-se mais sombria, e ele ficou em silêncio por um momento, assimilando o que eu acabara de dizer. Sabíamos que no futebol, como em qualquer outra área, há elementos que muitas vezes fogem ao nosso controle, mas isso era algo que eu não esperava.

– Precisamos agir rápido, João, - continuei. – A segurança de todos está em jogo, e temos que proteger o clube e nossos jogadores.

– Concordo - ele respondeu, agora mais sério do que nunca. – O que você sugere que façamos?

– Leila decidiu que Olivia vai assumir a responsabilidade por toda a segurança do clube - expliquei. – Ela vai lidar com os aspectos internos e externos, a segurança no CT, no estádio, e até a segurança pessoal dos jogadores. Além disso, Olivia também será responsável por coordenar a atuação dos advogados e, se necessário, da polícia.

– Olivia é capaz, mas é muita pressão. Ela terá apoio? - João balançou a cabeça, compreendendo a gravidade da situação.

– Sim, todos nós vamos apoiá-la - respondi. – Precisamos unir forças agora mais do que nunca. É uma situação difícil, mas não podemos arriscar a segurança de ninguém.

– Vou começar a organizar as coisas com o time, eles precisam saber que estamos agindo para garantir a segurança de todos. - João assentiu, claramente ciente do peso das palavras.

– Ótimo! - disse, levantando-me enquanto ele fazia o mesmo. – Vou falar com Olivia agora.

João saiu do escritório, deixando-me com meus pensamentos. Sabia que havia muito em jogo, mas não podia deixar que isso me paralisasse.

[...]

Love on the Field - Abel FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora