NOITE

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ABEL ONSão Paulo, SaltoHospital do Monte Serrat

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ABEL ON
São Paulo, Salto
Hospital do Monte Serrat

A noite estava silenciosa no hospital, e as luzes fracas do corredor lançavam sombras suaves sobre as paredes. Eu estava sentado na cadeira ao lado da cama de Olivia, meus pensamentos divagando enquanto observava o lento e tranquilo ritmo de sua respiração. O cheiro estéril do ambiente, junto com o som ocasional de um monitor, fazia parte da cena, e eu me via refletindo sobre o que estava por vir.

Era estranho pensar na ideia de ser pai novamente. Minhas filhas já eram grandes, Maria Inês e Mariana haviam crescido e se tornado "independentes", e a vida parecia ter mudado para algo mais calmo e previsível. Agora, com a chegada do novo bebê, a ideia de voltar à paternidade parecia desafiadora e até um pouco assustadora.

Eu me peguei ponderando sobre as coisas que haviam mudado. Trocar fraldas, por exemplo. Era algo que eu havia feito há tanto tempo que não tinha certeza se ainda lembrava como se fazia. E mesmo o simples ato de segurar um bebê parecia algo distante, quase como se fosse uma habilidade que eu tinha perdido com o tempo. A ideia de ter que aprender tudo de novo me deixava um pouco inseguro. A vida estava prestes a me desafiar de maneiras que eu não havia antecipado.

Enquanto refletia sobre essas preocupações, o som de um leve movimento ao meu lado me trouxe de volta ao presente. Olivia estava acordando. Seus olhos se abriram lentamente, e ela me olhou com uma expressão de leve confusão.

– Abel? - ela perguntou, a voz rouca e cansada. – O que você está fazendo aqui? Onde estão as meninas? - questionou, confusa e sonolenta. Eu sorri para ela, tentando transmitir uma sensação de tranquilidade.

– Leila e Jorge foram levar elas para jantar e descansar junto com a Marta - expliquei. – Elas estão bem, eu disse a elas que você e eu precisaríamos de um pouco de privacidade.

Olivia parecia aliviada com a notícia das meninas.

– E você? Por que está aqui? Não deveria estar em casa?

Eu olhei para ela com um olhar carinhoso, tentando suavizar a preocupação que eu sabia que ela sentia.

– Eu queria estar aqui com você - respondi. – Não importa o que aconteça, quero estar ao seu lado. Se você está passando por isso, então eu também estou.

– Obrigada, Abel. Eu estou me sentindo cansada, meu corpo parece tão pesado. Às vezes, sinto como se algo estivesse me esmagando. - ela sorriu fraco, e pude ver o cansaço em seus olhos.

Eu me levantei e fui até a cama, movendo a cadeira para o lado dela.

– Por que não descansa mais um pouco? Posso ficar aqui com você.

Ela assentiu, e eu a ajudei a se acomodar de volta na cama, ajustando os travesseiros para que ela ficasse confortável. Então, deitei-me ao seu lado, passando a mão carinhosamente sobre sua barriga. A sensação de estar tão perto dela, tocando a nova vida que estava se formando, trouxe uma onda de tranquilidade que eu precisava.

– Como está se sentindo, Olivia? - perguntei suavemente.

– Cansada - ela respondeu, fechando os olhos por um momento. – Mas também animada, é uma mistura estranha de emoções.

– Eu entendo - eu disse, acariciando sua barriga com um toque gentil. – Eu também estou animado, mas não posso negar que há uma parte de mim que está um pouco insegura. Não sei se ainda me lembro de como ser pai de um bebê.

Ela abriu os olhos, olhando para mim com uma expressão compreensiva.

– Você vai lembrar. E, se precisar de ajuda, eu estarei aqui para te ajudar. - eu sorri para ela, sentindo um alívio.

– É só que, com as meninas já tão grandes, eu me sinto como se tivesse perdido o toque para essas coisas. Trocar fraldas, dar banho, tudo isso parece tão distante. Olivia riu suavemente, o som suave e reconfortante.

– É normal se sentir assim. E, para ser honesta, eu também estou um pouco nervosa. É uma nova fase para mim, e é natural sentir alguma insegurança.

– Isso é verdade - eu concordei. – Às vezes, sinto que estou em um mar de inseguranças. Mas, se enfrentarmos isso juntos, acredito que podemos encontrar o equilíbrio.

– E eu estarei ao seu lado. Não precisamos ter todas as respostas agora, vamos aprender e crescer juntos como pais. - ela me olhou com um sorriso carinhoso.

Eu a observei, sentindo um profundo amor e admiração por ela.

– Às vezes, eu me preocupo em não estar à altura das expectativas. Mas saber que estou vivendo isso tudo com você, me dá mais confiança.- ela suspirou, relaxando mais na cama.

– E eu tenho certeza de que seremos ótimos papais. Não importa o que aconteça, temos um ao outro para nos apoiar e enfrentar os desafios.

– Seremos ótimos papais!.. Você já tem algum palpite se o bebê será menino ou menina? - ela olhou para mim com um olhar pensativo e uma leve expressão de diversão.

– Eu tenho alguns palpites, sim. Eu sinto que é uma menina, mas também me pego pensando que pode ser um menino. E você? Alguma ideia?

– Eu também estou dividido - confessei. – Acho que seria ótimo ter um menino para equilibrar a nossa família, mas ao mesmo tempo, uma menina também seria incrível. Só quero que ele ou ela esteja saudável e feliz.

Ela sorriu, um brilho de ternura nos olhos.

– Concordo totalmente. Mas precisamos pensar em nomes, você já tem algo em mente?

Eu a observei, enquanto tentava me lembrar dos nomes que tinha pensado durante a noite.

– Na verdade, ainda estou em dúvida. Você tem algum nome que goste ou que esteja considerando? - Olivia pensou por um momento, seu olhar distante enquanto pensava.

– Eu tenho alguns nomes em mente, mas ainda não tenho certeza. Para meninas, estou pensando em algo como Sofia ou Alice. Para meninos, talvez Davi ou Lucca. E você?

– Gostei dos nomes que você mencionou - disse, assentindo. – Acho que Sofia é um nome lindo, e Lucca tem um bom som.

A conversa continuou em um tom mais leve, e eu percebi como era importante ter esses momentos de conexão e apoio. As preocupações e inseguranças que eu sentia eram naturais, mas eu sabia que ter Olivia ao meu lado fazia toda a diferença. E, enquanto acariciava sua barriga e conversávamos sobre o futuro, sentia que estávamos criando uma base sólida para a nova fase de nossas vidas.

A noite no hospital parecia menos solitária agora. Eu sabia que, ter a Olivia e a nova vida que estávamos prestes a acolher tornava tudo mais significativo. E enquanto passávamos aquele momento juntos, eu sentia uma sensação crescente de esperança e preparação para o que estava por vir.

Love on the Field - Abel FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora