SAÍDA

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OLIVIA ONSão Paulo, Barra FundaAcademia de Futebol - Búnquer

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OLIVIA ON
São Paulo, Barra Funda
Academia de Futebol - Búnquer

O aroma do café recém-passado permeava o ar, trazendo uma sensação de normalidade no meio de uma situação incomum. Estávamos todos na cozinha improvisada do búnquer, tentando manter uma rotina matinal, apesar das circunstâncias. Abel estava na bancada, conversando com Daniel sobre os últimos dias no CT antes de termos que nos abrigar aqui. Era uma conversa leve, quase superficial, mas que servia para afastar, ao menos por alguns minutos, o peso da realidade.

Eu estava sentada ao lado de Joaquín, que estava perdido em seus pensamentos, mexendo o café com uma colher sem prestar muita atenção. Na mesa, as crianças se comportavam de maneira típica, rindo e brincando enquanto tomavam o café da manhã, alheias ao que estava acontecendo lá fora. Mayke e Rony tentavam controlar a bagunça que Mariana, e os filhos deles estavam criando, mas era evidente que as crianças estavam impacientes, cansadas do confinamento.

– Olivia, você acha que ainda vai demorar muito pra gente sair daqui? - Mariana perguntou, sua voz carregada de uma ansiedade que ela tentava esconder.

– Espero que não, Mari. Mas vamos confiar que tudo vai ficar bem, tá? - sorri, tentando transmitir uma calma que, sinceramente, não sentia.

Ela assentiu, mas eu sabia que a preocupação continuava ali. E como não estaria? Há dois dias que estamos confinados neste búnquer, depois de um incidente que ainda não estava completamente claro para nós.

– Joaco, pode me passar o leite? - pedi, enquanto ele distraidamente brincava com uma das canecas. Ele olhou para mim, como se estivesse voltando de um devaneio, e entregou o leite com um sorriso cansado.

– Desculpa, Olivia. Minha cabeça está a mil - ele murmurou.

– Não se preocupe, todos estamos assim - respondi, tentando não deixar o desconforto transparecer.

De repente, um som agudo e mecânico cortou o ar, a porta do búnquer destravando. Todos nós congelamos, nossos olhares se encontraram, uma mistura de alívio e apreensão. Abel foi o primeiro a se levantar, seguido de perto por Mayke e Piquerez, que também estavam visivelmente tensos.

– Será que finalmente vamos poder sair daqui? - Richard murmurou, enquanto se levantava devagar, como se hesitasse em acreditar que aquilo era real.

Acompanhei Abel até a entrada do búnquer, o coração batendo forte no peito. Quando a porta se abriu completamente, revelando o corredor iluminado, todos respiramos fundo. Era o momento que esperávamos, mas havia uma sensação de que algo ainda estava errado.

Assim que saímos do búnquer e subimos até o CT, a visão que nos recebeu foi um choque. O centro de treinamento estava completamente revirado, havia policiais por toda parte, funcionários limpando a bagunça, reorganizando o que havia sido destruído. Parecia que o local tinha sido palco de uma batalha, algo muito além do que poderíamos imaginar.

– Meu Deus, o que aconteceu aqui? - Rony sussurrou, a mão cobrindo a boca em um gesto de incredulidade.

– Isso... isso é muito mais do que imaginávamos - murmurei para Abel, sentindo um arrepio percorrer minha espinha e olhei de relance para Richard.

O CT que conhecíamos estava praticamente irreconhecível. Era como se tudo o que construímos ali tivesse sido violado.

Leila apareceu no meio da confusão, conversando com alguns policiais. Quando nos viu, caminhou rapidamente em nossa direção. Sua expressão era séria, mas havia uma tentativa visível de manter a compostura.

– Leila, o que está acontecendo? Por que nos fizeram ficar no búnquer por tanto tempo? - Abel perguntou, sua voz revelando a preocupação que todos nós sentíamos.

Ela hesitou por um momento, os olhos cansados revelando mais do que suas palavras poderiam.

– Ainda estamos investigando os detalhes. O que posso dizer agora é que tudo está sob controle. A polícia está cuidando da situação, e vocês precisam descansar e se acalmar.

– Mas Leila, o que aconteceu exatamente? Não estamos seguros aqui? - Mayke insistiu, os filhos ao seu redor visivelmente assustados com a cena.

Leila respirou fundo, sua postura rígida não cedendo.

– O mais importante agora é que vocês vão para casa e descansem. Vamos informar vocês sobre os próximos passos. Por favor, confiem na gente, estamos lidando com isso.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Era claro que ela não nos contaria tudo naquele momento. Abel, embora contrariado, assentiu e começou a guiar todos de volta ao búnquer para pegarmos nossas coisas.

Enquanto arrumamos nossas coisas em silêncio, a tensão era quase palpável. As crianças, que antes estavam alegres e despreocupadas, agora sentiam o peso do clima estranho.

– Olivia... - Mariana se aproximou de mim, sua voz baixa e hesitante. – Você vai para casa com a gente, não vai?

Eu olhei para ela, vendo o medo em seus olhos, e soube que não poderia deixá-la. Mariana teve uma conexão especial comigo, e naquele momento, era claro que ela precisava de alguém em quem pudesse confiar.

– Claro que vou, Mari - respondi, tentando sorrir. – Vamos todos juntos.

Abel e Maria Inês estavam prontos para sair, e quando olhei ao redor, vi que todos os outros também estavam. Não havia mais nada a fazer ali. Era hora de sair, mesmo sem todas as respostas.

Quando finalmente saímos do CT e voltamos para casa, a sensação de estar do lado de fora era quase surreal. O mundo lá fora parecia o mesmo de sempre, mas nós havíamos mudado. A segurança e a confiança que tínhamos antes pareciam distantes agora.

[...]

Os dias que se seguiram foram estranhos. Ficamos em casa, tentando voltar a uma rotina normal, mas a tensão nunca desapareceu completamente. As meninas tentavam brincar e estudar, mas vez ou outra perguntavam sobre o que havia acontecido, e nós, adultos, fazíamos o possível para desviar as perguntas.

Abel passou horas em chamadas com a diretoria, tentando entender os detalhes do que tinha acontecido e como aquilo afetaria o time. Eu me concentrei em manter as coisas funcionando, tentando manter a normalidade para as meninas, mas era difícil não me perder nos próprios pensamentos.

Mariana ficou próxima a mim durante esses dias. Conversávamos muito, ela parecia buscar em mim um tipo de apoio emocional que talvez não conseguisse de mais ninguém. Falamos sobre o que aconteceu, mas também sobre outras coisas, minha carreira, meus sonhos, e sobre nossas vidas. Era uma forma de escapar, de criar um pequeno espaço de normalidade no meio do caos.

No quarto dia, recebi uma ligação de Leila que trouxe algum alívio. As investigações estavam avançando, e a situação parecia estar sob controle. Suspirei fundo, finalmente relaxando, a notícia trouxe um pouco de alívio para todos nós.

– Finalmente vamos poder voltar ao normal - disse, sorrindo de forma cansada, mas aliviada.

Olhei ao redor e me permiti um suspiro de alívio. Ainda havia incertezas, mas estávamos juntos. Isso era o mais importante. Aquele pesadelo parecia estar finalmente chegando ao fim, e eu sabia que, apesar de tudo, enfrentaríamos qualquer coisa juntos, como uma verdadeira família.

Love on the Field - Abel FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora