Capítulo 48

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Todos estavam unidos em um só pico de ansiedade. Um dos maiores festivais de música do Japão estava se aproximando, celebridades e mais celebridades, nacionais e internacionais iriam tocar lá.

Tio Zane era um dos organizadores a alguns anos, assim como meu pai e os outros que tocavam em sua antiga banda. Consequentemente, o pub ficava sempre cheio por conta dos estrangeiros que já estavam visitando o local e dos próprios curiosos e amantes de música.

Tudo estava cansativo e pesado, conciliar todos os meus afazeres estava se tornando cada vez mais desafiante, meus pais entendiam isso e me apoiavam. Eu era extremamente grata por possuir uma família tão acolhedora e gentil.

Minha mãe passou a acordar ainda mais cedo para preparar marmitas para mim, assim eu não perderia tanto tempo em busca de algo comestível. Isso só até algumas semanas atrás, onde ela passou a cozinhar também para Baji, Sanzu e os outros meninos. Ela amava ser gentil com as pessoas, quem seria eu para repreender aquele gesto amoroso dela?

Por outro lado, eu me preocupava muito mais por saber que possivelmente Wakasa poderia aparecer uma hora ou outra. Ele era músico, afinal, quem garante que ele não iria tocar no festival? E se tinha uma coisa que mexia comigo eram aquelas malditas palavras que ainda ecoavam depois de tantos anos.

“ Ninguém vai acreditar em você.”

É, talvez ele estivesse certo. Ninguém nunca acreditaria em mim. Ele era famoso, estava no auge da carreira internacional, e eu era o quê? Uma adolescente apaixonada, morrendo de amores pelo cara famoso que conheceu.

Essa é uma história bem clichê e patética, mas por baixo dos panos, ela era cruel. Cruel demais para desejar até mesmo ao pior inimigo, e bem, ela era verdadeira. E talvez, a culpa de tudo aquilo ter acontecido fosse minha, ou das minhas roupas, ou da situação em que eu estava, ou sei lá, do meu vestido? Da ocasião? De ter feito aquelas coisas e dito aquelas palavras quando ninguém estava olhando? Era difícil demais tentar entender e mais difícil ainda tentar achar uma justificativa para aquilo.

Naquele dia em específico, além do ensaio, tínhamos uma reunião importante com o tio Zane. Os garotos estavam com os nervos à flor da pele, até mesmo o Kei estava nervoso, e consequentemente ele mordia as pontas da baqueta de forma involuntária.

— Gatinho, você vai acabar com sua baqueta. — falei dando risada. — Precisa se acalmar, você errou o tempo pela terceira vez.

— Não é fácil. — reclamou fazendo um muxoxo. — Eu sempre fico nervoso com essas reuniões.

— A gente sabe, mas pensa só, e se for algo incrível? — Mitsuya disse tentando levantar o astral do amigo. — Nem toda reunião é ruim.

— É verdade. — Mikey concordo sorridente.

— Temos que dar o nosso melhor. — Draken disse nos encarando. — Concentração e vamos lá. Aliás, Sanzu, poderia parar de gravar?

— Não quero. — Sanzu respondeu mostrando a língua. — Sou um produtor de conteúdo independente. E sempre pago o lanche de vocês.

— Mas é chato ficar sendo gravado toda hora! — o loiro mais alto reclamou. — Isso cansa.

— Não sei como a cupcake aguenta. — Mitsuya disse dando uma risada cínica.

— Ha-ha. — falei e mostrei a língua. — É muito engraçado, mas ele não é nem louco de ficar me filmando.

— Conhecendo bem o Sanzu. — Mikey disse pensativo. — Ele deve ter inúmeras pastas suas de fotos e vídeos que ele grava, até mesmo quando você está dormindo.

Meus olhos se arregalaram de uma maneira imprevisível, virei a cabeça lentamente na direção de Haruchiyo, que permanecia com aquela droga de sorriso no rosto. Parecia até ser uma piada de mal gosto, mas ele era louco o suficiente pra fazer aquilo.

Semicerrei o olhar na direção dele, que apenas me respondeu lançando um beijinho no ar e uma piscadela desagradável. Ah mas eu iria raspar aquele cabelo ensebado dele.

— Em casa conversamos. — falei tentando demonstrar firmeza na voz. — E é melhor você não ter fotos minhas dormindo.

— Eu tenho várias! — Ele confessou sorridente.

— Eu te odeio.

Antes que ele revidasse com palavras de duplo sentido que só serviriam para me provocar, a porta do estúdio foi aberta e com isso, todos ficamos em silêncio. Lá estava tio Zane, meu pai e os outros.

— Meu Deus, são eles! — Mikey disse quase como um gritinho.

— Oi filhota. — o homem disse lançando um sorriso simpático. — Tudo certo por aqui?

— Tudo sim, pai. — respondi esboçando um sorriso. — O que vieram fazer aqui?

— Seu tio Zane trouxe notícias. — Respondeu apontando para o outro.

—  Oh sim…

— Boa tarde, meus queridos. — Zane disse abrindo os braços. — Antes de tudo, quero agradecer a vocês por emprestarem seus talentos para a casa, as noites no pub ficaram mais felizes e agitadas com vocês aqui.

— Obrigado! — Respondemos em uníssono.

— Agora o meu obrigado vai ser direcionado ao Sanzu, nós já tínhamos uma boa movimentação, mas depois de você nos divulgar aqui e principalmente divulgar a minha sobrinha. — o homem disse e deu uma piscadinha em minha direção, esboçando um lindo sorriso. — A nossa movimentação triplicou, muito obrigado por isso.

— Não precisa agradecer. — Haru disse e sorriu genuinamente. — Se precisarem dos meus serviços, estou aqui.

— Agora a grande notícia é que, como todos sabem, o maior festival de música do país está chegando. — ele disse em um tom genuíno de empolgação. — Praticamente o país inteiro para, o turismo aumenta e etcetera, etcetera. Algumas bandas cometeriam crimes para ter a chance de tocar lá.

— Está querendo dizer que vamos tocar lá, senhor? — Draken perguntou tentando ligar os pontos.

— Quase isso, a questão é que teremos aquecimentos aqui no pub. — ele disse mexendo as mãos. — Alguns olheiros vão estar presentes, se eles acharem que vocês tem talento, com toda certeza receberão a carta-convite.

— Foi assim que alcançamos um patamar de fama internacional. — meu pai disse orgulhoso. — Peço que se esforcem, se esse for o desejo de vocês.

— Não quero que se sintam pressionados. — Zane continuou. — Mas quero que cheguem a um consenso em equipe, se vocês quiserem tocar no festival e serem reconhecidos, basta que se esforcem o suficiente que a minha parte de tentar convencer eles para lhes darem uma chance, eu irei cumprir.

— Caraca, isso é… Isso é demais! — Baji disse eufórico. — Imagina só, cara, a gente tocando para todo o país!

— Dessa vez eu concordo com ele. — Mitsuya disse caminhando para perto de nós. — Essa é uma experiência que eu realmente desejo ter.

— Eu também. — Draken e Mikey concordaram juntos.

— E você, cup? — Sanzu questionou, com a sobrancelha arqueada. — Não tem interesse no festival?

— Tenho, tenho sim. — falei esboçando um sorriso. — É só que… Eu tenho medo de ficar sobrecarregada ou de atrapalhar vocês. Deveriam procurar um vocalista melhor…

— Negativo. — Draken disse em seu típico tom autoritário. — Ou tocamos todos, como a banda que somos, ou ninguém vai. Estão de acordo?

— Sim. — Os outros responderam em uníssono.

— É, parece que você arrumou um grupo e tanto, filha. — Papai disse sorrindo orgulhoso.

— Certo, então, vamos treinar. — Falei erguendo a palheta.

— Vamos nessa! — Eles disseram juntos.

— Mas antes, vocês podem nos dar autógrafos? — Mikey pediu aos homens que estavam quase se retirando do local. — Vocês são nossa maior fonte de inspiração, não queria deixar essa chance se perder.

— Claro que sim garoto, vamos todos para o bar. — Zane disse animado. — Essa é por conta da casa!

E assim, todos nós os acompanhamos, conversando, sorrindo e trocando informações importantes. Aquele era o nosso jeito “família” de ser.

Look at the Camera • Sanzu Haruchiyo | Tokyo RevengersOnde histórias criam vida. Descubra agora