Quem é o pai?

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Aurora

Quando chego a casa de Ana estou ensopada e tremendo. Ela me manda tomar um banho quente o que faço rapidamente, ja estava sentindo meus ossos tremerem. Anne por um milagre estava bem, até comeu bem e estava alegre pulando e brincando com as crianças que os pais ainda não haviam ido buscar.

- Você vai trabalhar hoje menina? - tia Ana me oferece uma caneca de leite quente com sal, só tomo assim.

- Não tia, hoje somos só eu e Anne! - minto e bebo do líquido quente, que me aquece por dentro.

- Oh minha filha, me diga uma coisa, por acaso você conhece esse homem que Sarah está saindo? - ela me olha preocupada - tenho medo dele não ser bom para ela e ela acabar se envolvendo com outro desgraçado igual aquele Bruno!

- Não o conheço muito bem, para ter uma opinião sobre ele tia, desculpe! - minto, já estou me sentindo uma desgraçada por mentir para as unicas pessoas que se importam comigo.

- Não tem problema minha filha! - ela sorri - É só preocupação de mãe mesmo. Só espero que ele não quebre o coração dela, sarah ja sofreu muito com aquele desgraçado! - ela se refere ao Bruno, um garoto com quem Sarah se envolveu aos dezoito. 

Como a maioria dos garotos da favela que não tem uma oportunidade de mudar de vida, ele acabou virando um traficante e tia Ana fez ela terminar com ele, mas não foi fácil para ele deixá-la em paz, foi preciso ela ir até o dono do morro e pagar para ela ordenar que o Bruno ficasse longe dela e só assim ele a deixou em paz, ou seria executado!

Sinto meu coração doer por não avisar a ela que Anthony não é uma boa pessoa, só o fato dele não dizer seu o nome verdadeiro ja diz muito sobre ele. Mas, por Anne, eu não posso revelar, perder o emprego não é uma opção e minha filha vem em primeiro lugar. Falta menos de uma semana para eu finalmente receber meu salário e levar Anne no médico, pelo menos até que seja confirmado o diagnóstico eu preciso manter o emprego.

- Eu já estou indo tia! - aviso colocando o copo na pia e pegando Anne no colo - quero me enfiar nas cobertas com minha garotinha logo! - sorrio e aperto Anne em meus braço, faço cócegas em sua barriga ouvindo o melhor som do mundo, um que eu não trocaria por nada, sua risada alegre!

- Pala mamãe! - ela grita rindo e paro, sorrindo do seu rostinho vermelho e feliz.

- Tá certo minha filha! Tome cuidado para não escorregar por ai nessas calçadas mal feitas. Quero só ver o dia que um político vai realmente cumprir as promessas de campanha e terminar de arrumar essas ruas! Ja começou a safadeza das eleições de novo. É só nessa época que pobre não fede, quando eles vem com a cara lisa abraçar e se fazer de amiguinhos. Se aparecer um por aqui em casa eu vou jogar um balde de mijo... - ela rosna furiosa e gargalho imaginando ela fazendo isso, tenho certeza que ela realmente vai fazer.

- Calma mulher! - sorrio sentindo minha barriga doer e a cabeça - É a época de ganhar dinheiro e materiais de construção! - gargalho da sua raiva, mas ela tem razão, a cada quatro anos eles aparecem prometendo o mundo e o fundo, mas os únicos que se beneficiam são eles mesmos e os ricos, os pobres que se virem para sobreviver.

- É por isso que eles não cumprem o que promete, o povo fica vendendo voto por cinquenta reais ou uma carroça de areia! Aí nem tem direito de cobrar nada! - ela resmunga indo para longe de mim, ate o banheiro.

- Sua benção tia! - grito ja saindo na porta e ouço seu "Deus te abençoe".

Nem perco meu tempo pensando em política, enquanto eles estão lá roubando e vivendo no luxo as custas do pobre eu tenho que me virar para tentar sobreviver. Acho incrível povo que briga defendendo político, se o homem nem sabe que ele existe, tenho certeza que se eu for na casa de algum pedir ajuda, eu não chego nem na porta!

Aurora - Desejo e Obsessão...Onde histórias criam vida. Descubra agora