Puta imunda!

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Aurora

Saímos cedo na segunda para o hospital, onde Anne ficaria internada para fazer o transplante na terça. Anthony também ficou, mas optou por ficar em outro quarto e eu me senti aliviada por isso. Ainda não tive coragem de olhar para ele e ver o quanto ele se arrependeu do que fizemos. Eu tinha esperança de que ele não lembrasse de nada, ja que estava bêbado, assim como da outra vez, mas não conseguia encará-lo para ter certeza ou não.

Um mês depois

- Eu chamei vocês aqui para conversarmos sobre o transplante da paciente Anne Campos. - o doutor nos olhou e depois observou os exames em suas mãos.

Minhas mãos suavam espremidas uma na outra enquanto minha perna esquerda balançava levemente. O médico demorou alguns segundos com uma expressão séria nos olhos enrrugados, que me deixou mais angustiada.

Ao contrário de Anthony ao meu lado, que parecia calmo demais, o que me deixava mais ansiosa ainda e não consegui conter o suspiro de impaciência que saiu por minha boca, atraindo a atenção de ambos os homens na sala. Mas, assim como o médico, Anthony fingiu nao ter ouvido e continuou com sua calma irritante.

- Então doutor, como minha Anne está? - soprei temerosa e ele me olhou sério. - funcionou ou não?

- Bem, os exames dela mostram que houve a pega da medula...

- E o que isso quer dizer? - perguntei aflita.

- Isso quer dizer que a medula passou a produzir as células do sangue, como leucócitos e plaquetas, em quantidades suficientes.- ele sorriu e minha perna parou imediatamente com meu coração acelerando e meus olhos marejando - os resultados dos exames mostram resultados promissores, a medula já está regenerando, mas ela ainda vai precisar tomar alguns medicamentos para que não haja rejeição.

- Ainda pode haver rejeição doutor? - esse foi Anthony, porque eu estou sem palavras, tentando não chorar.

- É raro mas acontece, por isso vamos evitar que aconteça. Anne vai precisar de cuidados, é importante lembrar de que, embora o hemograma esteja voltando ao intervalo normal, o seu sistema imunológico ainda está muito imaturo. Ela ainda precisará tomar as medicações e seguir as precauções, para se manter saudável e prevenir infecções...

O medico continuou explicando e Anthony prestava atenção a tudo, mas mesmo ouvindo a voz do doutor a palavra cura gritava em minha mente, eu e Anne poderiamos voltar a nossa vida, agora com o trabalho na empresa eu poderia muito bem arrumar uma casa melhor para nós e cuidar dela, sem toda essa pressão dele em mim, sem toda essa ansiedade e angustia que esse homem me causa.

Como se o peso de um elefante saisse de cima de mim coloco as mãos no rosto e baixo a cabeça, deixando que as lágrimas e soluços saiam, sacudindo meu corpo, mas não me importo ou me envergonho por deixar que o cansaço desses últimos meses, de noites insones e preocupações com o futuro da minha garotinha saíssem em forma de lágrimas.

O médico sai da sala dizendo que vai nos dar privacidade e imagino que Anthony também saiu e continuo chorando como se não conseguisse parar, porque não consigo parar o choro desesperado que sai por minha garganta. O alívio por não precisar mais ver ela tão frágil, sem forças nem mesmo para sorrir. Sinto a mão dele em minha costas, esfregando a palma para cima e baixo com delicadeza e me acalmando no processo.

Fungo limpando as lágrimas e me afasto do seu toque. Um mês havia se passado sem que trocassemos uma palavra sequer, ou ele olhasse para mim. Me levanto saindo da sala e indo até minha garotinha, a única que sei nunca partiria meu coração, a única por quem eu me ajoelhei deixando meu orgulho de lado só para chegar a esse momento.

Aurora - Desejo e Obsessão...Onde histórias criam vida. Descubra agora