O Retorno| 23

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Isabella Martini


"A verdadeira força não está em se curvar diante dos desafios, mas em manter a própria direção, mesmo quando o mundo tenta desviar seu caminho."
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As portas de vidro do escritório se abriram com um leve estalo, e eu pisei no chão de mármore polido com a confiança que havia me faltado nos últimos trinta dias. Olhei em volta, absorvendo cada detalhe familiar - as paredes impecavelmente brancas, as mesas organizadas, a movimentação apressada dos advogados e estagiários. Era como se nada tivesse mudado. Mas tudo havia mudado.

Um mês fora daquele lugar foi o tempo necessário para colocar meus pensamentos em ordem, para tentar entender o turbilhão que se tornara minha vida. Mas eu sabia que o verdadeiro teste começaria agora, com meu retorno. E com Matteo.

Caminhei pelo corredor até o meu escritório, acenando para os colegas que me cumprimentavam, surpresos ao me ver ali tão cedo. Eu sabia que não estava preparada para o que estava por vir, mas precisava enfrentar a tempestade.

Quando cheguei à porta do meu escritório, ela já estava entreaberta. Respirei fundo e empurrei a porta, pronta para começar meu dia. Mas, ao entrar, encontrei Matteo sentado na minha cadeira, girando lentamente de um lado para o outro.

- Vejo que resolveu finalmente voltar - disse ele, com um sorriso enigmático que me irritava mais do que deveria.

Fechei a porta com um pouco mais de força do que pretendia e cruzei os braços, encarando-o. - E você não perdeu tempo em invadir o meu espaço, como sempre.

Matteo se levantou da cadeira com a graça de um predador. Seu olhar sombrio percorreu meu rosto, como se estivesse tentando ler meus pensamentos, decifrar os motivos que me trouxeram de volta. - Estava me perguntando quanto tempo levaria até você cansar de se esconder, Isabella.

- Não estou me escondendo, Matteo. Eu precisava de um tempo... longe de tudo isso - respondi, tentando manter meu tom firme. - E de você.

Ele deu um passo em minha direção, e eu senti o ar ao meu redor ficar mais pesado. Matteo sempre teve esse efeito sobre mim - uma mistura de fascínio e perigo que eu nunca consegui ignorar.

- Ah, claro, porque estar longe de mim vai resolver todos os seus problemas, não é? - ele provocou, sua voz carregada de ironia. - Ou será que você está finalmente percebendo que fugir não adianta?

Revirei os olhos, mas meu coração bateu mais rápido com a proximidade. Eu odiava o quanto Matteo conseguia me tirar do sério e, ao mesmo tempo, me fazer querer estar mais perto dele. - Não estou fugindo de nada. Ao contrário de você, eu preciso de clareza para tomar decisões. Não faço acordos nas sombras.

- Você fala como se fosse melhor que eu, Bella - ele sussurrou, aproximando-se mais um passo. Agora, ele estava tão perto que eu podia sentir o calor que emanava de seu corpo, o leve aroma de sua colônia. - Mas sabemos que, no fundo, você adora o lado sombrio das coisas. Adora ser desafiada. É por isso que sempre volta para mim, para este lugar.

Senti um arrepio percorrer minha espinha. Havia uma parte de mim que odiava admitir o quanto Matteo estava certo, o quanto ele compreendia essa dualidade em mim. Mas também havia outra parte que se recusava a ceder, a ser controlada por ele. - Voltei por mim mesma, não por você. Voltei porque este é o meu lugar, a minha carreira. E não vou deixar que você me tire isso.

Matteo sorriu, um sorriso lento e carregado de segundas intenções. - Então prove. Mostre que é capaz de me enfrentar, de me desafiar, sem deixar que seus sentimentos interfiram.

- Sentimentos? - perguntei, com um toque de escárnio. - Quem disse que tenho algum sentimento por você, Matteo?

Ele inclinou a cabeça para o lado, seus olhos escuros cravados nos meus. - Ah, Bella... você pode até tentar se convencer disso. Mas sabemos que é mentira. Caso contrário, não estaríamos tendo essa conversa agora, não estaríamos aqui, a poucos centímetros um do outro, tentando resistir a algo que é inevitável.

Minha respiração ficou presa na garganta. Ele estava tão perto agora que eu podia sentir seu hálito quente, a tensão entre nós pulsando como uma corrente elétrica. Cada palavra que ele dizia era como um fio puxando-me para mais perto, desfazendo minha resistência.

- Matteo... - comecei, mas a voz falhou.

- Isabella, não somos tão diferentes quanto você gosta de pensar - ele sussurrou, inclinando-se mais para perto. Nossos lábios estavam a meros centímetros de distância. - Ambos somos controladores, obcecados em ter tudo do nosso jeito. Mas você tenta negar isso, tenta se esconder atrás dessa fachada de moralidade. Eu, pelo menos, sou honesto sobre quem sou.

Seu rosto estava tão próximo agora que eu podia ver a sombra das cicatrizes que ele escondia tão bem, o lado de Matteo que ele nunca revelava por completo. Havia dor ali, uma escuridão que ele carregava como uma armadura.

- Talvez eu devesse ser mais como você, então - retruquei, minha voz mais fraca do que eu gostaria. - Manipuladora, egoísta, disposta a passar por cima de tudo e todos para conseguir o que quer.

Matteo deu uma risada curta, sem humor. - Seria uma mudança interessante, devo admitir. Mas isso não é você, Bella. Você sempre vai tentar fazer a coisa certa, mesmo quando isso significa lutar contra seus próprios desejos.

- E você sempre vai escolher o caminho mais fácil, mesmo que signifique destruir tudo ao seu redor? - rebati, tentando recuperar o controle.

- Talvez - ele murmurou, aproximando-se ainda mais, nossos lábios quase se tocando agora. - Ou talvez o que eu realmente queira destruir seja essa barreira entre nós.

Eu senti a pressão da sua presença, a tentação irresistível de ceder, de fechar a distância que restava entre nós e deixar que tudo se desmoronasse. O ar ao nosso redor parecia denso, carregado com as palavras que nunca dissemos, com os segredos que Matteo ainda guardava, com o desejo que crescia entre nós.

Mas, no último segundo, algo dentro de mim despertou. Uma lembrança de por que eu tinha me afastado, do que estava em jogo. Afastei-me de Matteo, rompendo o feitiço que nos envolvia.

- Isso não vai funcionar, Matteo - disse, minha voz mais firme agora, tentando convencer a mim mesma tanto quanto a ele. - Você pode tentar me seduzir, me manipular, mas eu não sou uma das suas peças de xadrez. Sou sua parceira... ou não sou nada.

Os olhos de Matteo brilharam com uma mistura de frustração e admiração. Ele sabia que tinha perdido aquela batalha, mas a guerra estava longe de terminar.

- Veremos, Isabella. Veremos até onde sua moralidade a leva - ele disse, recuando lentamente.

Quando ele saiu do meu escritório, o ar parecia mais leve, mas eu sabia que aquele confronto havia mudado algo entre nós. Matteo havia me testado, e eu havia resistido. Mas, por quanto tempo conseguiria manter essa resistência antes que tudo o que eu acreditava desmoronasse?
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Meu Deus, eu sou cadelinha desses dois juntos 🛐

AMOR DE DUAS CARASOnde histórias criam vida. Descubra agora