SEGURANÇA

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Capítulo 25

Sinto passos lentos se aproximarem de mim por trás, enquanto estava ali sentada sozinha no meu esconderijo secreto, o lugar que tantas vezes me acolheu nas minhas angustias infantis e que agora servia de refúgio da dor que senti. Nas minhas mãos uma garrafa de vodca me fazia companhia, enquanto grossas lágrimas desciam sob meu rosto avermelhado.


Era Engfa , saberia reconhecer aquele cheiro a milhas, não me atrevi olha-la, estava me sentindo tão envergonhada em sua presença, como se não bastasse tudo que ela havia visto em seu escritório, agora ela estava ciente de com quem realmente estava envolvida.

Esperei que ela dissesse algo, alguma critica, um sermão sobre moral, ética, um comentário vil, esperava até mesmo uma demissão.

Mas ela nada disse.

Apenas sentou-se ao meu lado, na outra extremidade do banco, mantinha-se silenciosa, discreta e distante, me atrevi a olhar de soslaio e vislumbrei seu perfil altivo olhando para frente, na mesma direção que eu antes olhava. Não precisei o tempo em que ficamos ali, sem nada dizer. Eu me calava por embaraço, ela eu não saberia dizer.

--A senhora deve estar me achando tão suja depois do que presenciou--falei em voz baixa, mas seu semblante permanecia imóvel --eu mesma tenho me sentido assim por um tempo, acredite. Já não bastava o embaraço de ter agido de forma tão indecorosa no escritório, ainda por cima descobre que eu vivo em um caso tão condenável.

Permaneceu calada, apenas ouvia o barulho da brisa e de longe a melodia que era tocada. Ela se moveu apenas para retirar da bolsa um maço de cigarros e colocar na boca bem desenhada, para logo em seguida acende-lo. Aproveitei para tomar um grande gole do liquido, sentindo minha garganta arder, mas me encorajando a seguir.

--Sei que não estou em condições de pedir nada, você já me salvou uma vez, mas se fosse possível gostaria que se mantivesse discreta sobre isso, não suportaria que minha mãe soubesse de algo tão vergonhoso assim, acontecendo sobre o seu teto.

Ela apenas balançou a cabeça afirmativamente enquanto soltava entre os lábios uma fumaça que cheirava a menta.

--Eu estou me sentindo tão tola, inconsequente, tão desprezível. Uma verdadeira depravada por minhas atitudes nos últimos meses que eu não posso sequer convence-la de que não sou uma pessoa má como você deve estar pensando agora.

--Não penso isso. --só então ouvi sua voz, e a olhei com desconfiança sem acreditar realmente o no que ela diz.

Seus olhos frios então se focaram em mim pela primeira vez enquanto ela continuou.

--Bom, tola e inconsequente sim, talvez um pouco imatura e tola, no entanto discordo do resto.

--Como pode discordar? Eu sou tão repugnante.

--Eu sei ler as pessoas, Yoko. Alguns chamam de aptidões, habilidades, até mesmo dom. O fato é que dificilmente me engano --fez uma pausa para tragar--Isso me ajudou sempre, e aperfeiçoo a cada dia usando isso em meus trabalho. O fato é que não preciso olha-la mais de uma vez para saber que você não tem tanta culpa como pensa. Acredite.

--Como assim? --cerrei os olhos a encarando cheia de incerteza.

--Que não é do seu feitio agir assim, que tentou resistir bravamente as investidas, que sabe quão condenáveis suas atitudes eram, e o quão errado moralmente é se envolver com alguém comprometida, mas que isso tudo passou a não fazer tanto sentindo quando se envolveu emocionalmente mais do que deveria, deixando suas convicções de lado e resolvendo optar pelo que seu coração ditou, achando que viveria um conto de fadas, mas agora está aí se despedaçando por constatar uma coisa que já sabia ao muito tempo mas se recusava a admitir: Ela nunca foi sua.

SUA OBSESSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora