EU TE PERDOOU

365 38 8
                                    

Capítulo 17


Sentir os lábios de Faye sobre os meus me deu um sopro de coragem que a muito não sentia, o gesto carregava todas as respostas que eu precisava. Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Faye entendia até mesmo o que não sei dizer! Entre nós haveria de ter barreiras e fronteiras nos separando. Mas naquele momento éramos uma única rocha, firme e inseparável, era como se um simples tocar de lábios fosse suficiente para dissipar todos os martírios que sofreríamos na incessante busca de nós mesmas. O mundo entrou nos eixos de novo. Seu olhar, naquele instante, se eternizou sobre mim, ainda sentindo o gosto doce em meus lábios me fez pensar quão corajosos podemos ser quando estamos apaixonados.

Li uma certa vez que todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um 'sim' ou um 'não' pode mudar toda a nossa existência.

Não lembro há quantos anos atrás havia lido aquilo, mas certamente no momento que li aquela frase não fazia tanto sentido como no momento presente. Eu tinha em minhas mãos a oportunidade única de mudar meu destino, de dar uma reviravolta na minha vida, de fazer uma escolha que por mais dolorosa que fosse, haveria de ser feita.

Poderia ter esperado algum tempo, ter ficado em casa até ter tempo de acalmar o turbilhão de sentimentos que invadiam meu coração, ter agido covardemente como naqueles dois meses protelando minha decisão, mas por mais incrível que se pareça decidi seguir em frente, os lábios quentes e macios dela me davam a certeza que precisava, mesmo sendo inevitável sentir o nervosismo de ir em frente.

Meus dedos tamborilavam na direção enquanto as gotículas de chuva deslizavam suavemente sobre o vidro do carro em que dirigia, o céu possuía uma coloração cinza, ainda eram onze da manhã de acordo com o painel do carro, mas o sol parecia se esconder diante de nuvens escuras e sombrias.

Talvez aquele dia denotasse bem meu estado de espirito, aquela inquietação e a tristeza que carregava comigo.

Vez ou outra meu celular apitava em um barulho sutil mas que me davam um arrepio a cada toque.

Uma, duas, três mensagens de Rafael, todas elas me questionando se iria mesmo aparecer em sua casa conforme o combinado. Aquilo me soava tão estranho, era inédito vê-lo tão nervoso, parecia ter uma urgência em falar comigo que nunca tinha visto antes.

Diferentemente das outras vezes em que ele sempre dizia que queria me ver, nas ultimas vezes que nos falamos ele sempre mencionava a necessidade de conversar. De me falar algo que eu sequer desconfiaria, mas no fundo do meu inconsciente temia que ele houvesse descoberto algo.

Com a proximidade da casa que me era tão conhecida sentia minhas mãos suarem enquanto tentava enxuga-las no meu jeans. Sentia meu peito apertar. Parei o carro em frente respirando fundo enquanto percebia a fina garoa se desfazer.

Naquele momento senti que iria fraquejar, por mais decidida que achei que estivesse há alguns minutos atrás, quando se está mais próximo a realidade, era inevitável ser arrebatada pelo medo. Minha covardia as vezes me surpreendia.

Ouvi meu celular apitar mais uma vez e de forma impaciente deslizei meu dedo sobre a tela, mas quando vi a remetente da mensagem logo meu coração se abrandou.

''Opte pelo que faz seu coração vibrar'' Faye.

Como se de alguma maneira ela soubesse minha indecisão, por mais irreal que pareça sentia como se eu e Faye tivéssemos uma ligação incomum, uma sintonia tão perfeita que chegava a ser assustador.

Desci do carro e adentrei no jardim, sentindo os respingos do orvalhos sobre a grama molhar meus sapatos e a brisa daquele dia frio me atingir em cheio causando arrepios. Abri a porta da frente que estava destrancada, e estranhei o silêncio incomum da casa, não havia visto ninguém na sala. Fechei a porta com cuidado enquanto ia em direção ao escritório onde supus que Rafa estava, aquele era o lugar preferido dele na casa, sempre cuidado dos seus inúmeros projetos. Sentia meu ar faltar a cada passo que dava e tentei acelerar a caminhada como se quisesse acabar com aquilo de uma vez.

SUA OBSESSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora