Capítulo 25
Minha visão era nebulosa e escura, ouvia barulho de sinos enquanto vozes infantis cantavam musicas celestiais, aos poucos tentava me situar em meio a pessoas bem arrumadas caminhando pelo jardim. Onde infernos eu estava? Olhei para mim, eu vestia branco como a maioria das pessoas ali, todos tão sorridentes e falavam tão alto que incomodavam meus ouvidos.
Olhei para cima protegendo os olhos contra os raios solares intensos daquela manha de verão. Senti uma mão puxar a minha enquanto as pessoas pareciam todas irem ao mesmo lugar.
-Vamos filha, não podemos nos atrasar!
Adentramos por uma porta enorme coberta de vidros coloridos que refletiam a luz solar formando um verdadeiro caleidoscópio. Ainda embevecida vi imagens de santos ao meu redor, enormes e imponentes, enquanto o som do coral infantil se tornava mais audível.
-Aqui na frente esta ótimo. --Ouvi minha mãe falar enquanto sentávamos no banco de madeira estofado próximo ao altar
--Estamos em uma igreja? --Indaguei para divertimento de minha mãe.
--Sim, hoje será um grande dia!
Logo a musica foi substituída por uma marcha nupcial, me tirando do devaneio.
--Levante-se querida, a noiva esta vindo!
Senti meu corpo ser suspenso para cima enquanto olhava ao meu redor pessoas olhando fixamente para a entrada. Atrevi-me a olhar também.
Uma mulher a qual não pude identificar caminhava em minha direção, o véu lhe cobria o rosto, me aguçando a curiosidade. Uma criança as suas costas cuidava da tarefa de segurar a enorme calda do vestido. Sentia meu coração disparar e minhas mãos tremulas com sua aproximação.
Só então vi meu tio em cima do altar, sorrindo, mas ele não sorria para a noiva, ele sorria para mim, em minha direção ao tempo em que ela se aproximava lentamente ele desfez o contato visual comigo apenas para retirar o véu que cobria o rosto da noiva.
Era Faye.
Ela então olhou para mim com olhos vermelhos e lagrimas escorriam pelo seu rosto bem maquiado, seu rosto esboçava um sorriso triste mas que logo se transformou em uma gargalhada.
Eles riam felizes.
Eles riam de mim.
Acordei em um sobressalto daquele pesadelo bizarro, toquei a testa úmida respirando aliviado por finalmente ter acordado. Ainda atordoada tentei me localizar, estava no apartamento de Engfa, o relógio marcava 4 da manhã, e minha boca estava seca como se tivesse passado horas no deserto.
Levantei da cama sentindo algumas pontadas na cabeça me fazendo arrepender de ter bebido tanto.
Descalça senti o assoalho frio em contato com meus pés quentes enquanto caminhava em direção a porta. Assim que abri ouvi um som melodioso invadir o ambiente, apesar de soar baixo era possível distinguir com exatidão o instrumento tocado.
Caminhei lentamente pelo corredor inteiramente decorado com pinturas renascentistas enquanto me aproximava do som a cada passo. Antes de entrar na sala avistei-a ainda de longe no meio da ampla sala, de costas a tocar o instrumento.
Deus ela parecia tão concentrada naquilo!Se pudesse registraria aquele momento com uma fotografia, no entanto tive que me contentar em gravar seu encanto em minha mente.
Não ousei interromper, mesmo minha sede descomunal, preferi ficar ali de longe a observando.
A melodia agora era outra, parecia tão melancólica o que tornava ainda mais bela.
Era invejável sua desenvoltura com o instrumento, seus dedos longos e ágeis tocavam com leveza e segurança as teclas produzindo uma melodia tão sincronizada quanto emocionante. Engfa usava um robe longo e alinhado na cor chumbo que iam ate os pés.
Ela finalizou a música e senti vontade de aplaudir tamanha perfeição com que ela havia se apresentado.
--Você deveria estar dormindo e não me espionando. --sua voz imponente soou fazendo com que tomasse um susto.
Aproximei meio sem jeito por ter sido descoberta. Sorri sem jeito ficando ao seu lado no piano em pé, enquanto ela se mantinha sentada, não estávamos próximas, mas o suficiente para que visse os detalhes do seu rosto que era iluminado pela luz que vinha da cidade, contratando com o ambiente escuro da sala. Ela estava sem maquiagem, ressaltando a pele pálida do rosto, e os lábios naturalmente vermelhos, era inédito vê-la dessa forma, despojada, natural e pelo menos aparentemente, mais acessível.
Ela tirou uma taça de cima do instrumento, uma bebida verde que cheirava a hortelã e levou aos lábios ainda sem me olhar.
--Adorei você tocando a musica do Quebra nozes.
Ela franziu o cenho.
-- Tchaikovsky você quis dizer. E sim, é a musica de Quebra Nozes...
--Ah ok. --finalizei amaldiçoando minha ignorância.
--Deveria estar dormindo. –falou sem me olhar.
Seus olhos apesar de frios estavam numa expressão cansada, abatida, as palpebras avermelhadas e olheiras um pouco aparente.
--Eu vim beber agua e acabei ouvindo você tocar. --me justifiquei.
--Esta se sentindo bem?
--Sim, só um pouco de tontura, e dor de cabeça leve, acho que exagerei um pouco na bebida.
--Certamente. Você deveria estar dormindo.
Revirei os olhos
--Não revire os olhos para mim. --falou firme me olhando.
--É que já é a terceira vez que você me manda dormir em menos de 3 minutos.
--E por que não vai?
--Não quero-- falei enquanto contornava com os dedos as bolinhas estampadas no tecido do meu pijama infantil.—E também não quero ter pesadelos outra vez...
--Bicho papão? Lobisomem?
Engfa falou com cinismo estampado na voz me fazendo bufar.
--Não revire os olhos.
--Ok, tinha esquecido.
--Mas então. O que sonhou?
Ela perguntou e meu coração se apertou apenas por lembrar.
--Que meus tios se casavam...
Ela arqueou as sobrancelhas e me olhou analiticamente.
--E..? --questionou como se esperasse mais detalhes.
--E eu acordei...
--Não interrompeu o casamento ou fugiu com a noiva como nos filmes?
--Não, né?
--Que pesadelo bobo.
--Você não faz o tipo que assiste romances.
--E por que não?! – indagou-me surpresa.
--Não sei...--perguntei já me arrependendo por ter falado aquilo.
--Diga.
--Não sei, mas definitivamente não tem cara de que gosta de romances.
--Eu tenho cara de que gosta de que gênero? --Me questionou atenta.
--Humm, terror daqueles bem torturantes. Suspense talvez. Drama e romance definitivamente não. –falei enquanto fui na cozinha pegar agua e voltei com um copo de leite nas mãos.
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SUA OBSESSÃO
FanfictionSinopse: Yoko vivia uma vida tranquila, familia, estudos, namorado tudo estava em perfeita harmonia. Tinha seus sonhos e objetivos traçados, era aparentemente satisfeita. Tudo muda quando seu caminho inevitavelmente se cruzará com sua "tia"